domingo, 17 de julho de 2022

Angola | O ESTADO DA NAÇÃO E AS ENTREVISTAS – Artur Queiroz

Artur Queiroz*, Luanda

Henrique Cymerman, correspondente da SIC em Israel, fez esta novela sobre a entrevista ao Presidente José Eduardo dos Santos, em 2013: “Gostaria de fazer uma entrevista ao presidente de Angola? A primeira desde que preside a este importante país africano?, perguntou-me, em 2013, ao telefone, um conhecido de Israel que tem uma relação muito próxima com a ex-colónia portuguesa. Mas a grande surpresa chegou pouco depois: "José Eduardo dos Santos disse-nos que tu és o único jornalista com quem está disposto a falar”.

Esta gente adopta o sistema vale tudo menos tirar olhos quando se trata de Angola. A novela foi publicada no “Expresso”, um jornal que já foi sério e agora é especialista em mentiras e notícias falsas. Não fosse o covil do Gustavo Costa, esse pobre diabo que se faz passar por jornalista só porque carregava a bagagem do Benjamim Formigo. 

A verdade é muito diferente. O Presidente José Eduardo dos Santos sabia, como ninguém, que só há lugar a entrevistas, quando existe um vazio de informação. Acontece que ele e os seus colaboradores na área da comunicação social tiveram sempre o cuidado de não deixar criar vazios. Logo, não eram necessárias entrevistas.

Mas desde que os seus pares o elegeram Presidente da República,deu duas entrevistas à RTP em1992. E mais duas entrevistas, a jornalistas angolanos, uma publicada em Angola e outra em Portugal., Os jornalistas que o entrevistaram foram José Ribeiro e Luís Alberto Ferreira, que publicou o texto no Jornal de Noticias, do Porto, na época o maior jornal português em tiragens, circulação e expansão. 

Luís Aberto Ferreira é o mais antigo jornalista angolano, ainda em actividade. O decano! E um mestre inigualável. As agências noticiosas e a rádio criaram a Linguagem Jornalística e a sua Gramática, com estas características: Directa, substantiva e afirmativa, tendencialmente imperativa. Mas se for o Luís Alberto Ferreira a escrever, o caso muda de figura porque ele criou uma mistura sábia e equilibrada entre a linguagem literária e a linguagem jornalística. Durante alguns anos foi colaborador permanente do Jornal de Angola onde publicava, semanalmente as suas “Subesferas”.

Mais um pormenor: Luís Alberto Ferreira foi o primeiro jornalista angolano a ganhar estatuto internacional. Quando percebeu que o panorama jornalístico em Angola era exíguo, partiu para Portugal onde não era muito diferente. Deu o salto para Espanha e aí mostrou a sua imensa categoria profissional! O nosso primeiro internacional. Nasceu no Bairro dos Coqueiros, na sua querida Luanda, território das mulheres mais bonitas da cidade, as manas Mascarenhas. Andou com o Rui de Matos (comandante Maio) ao colo e a sua família era íntima de Martinha Bessa Victor, fundadora da Escola da Liga e bisavó dos meus netos Lucas e Luna, príncipes do Catambor. Gente fina!

Em 1992, Luis Alberto Ferreira foi a São Tome e Príncipe em serviço. Lá estavao Presidente José Eduardo dos Santos. O repórter pediu-lhe uma entrevista e ele nem hesitou. Foi tiro e queda porque o nosso Presidente convidou-o a seguir para Luanda no avião em que se deslocou com a sua comitiva. E a entrevista foi realizada. O Luís Alberto vai escrever um livro sobre esse acontecimento agora que perdemos o nosso Presidente que rebentou com os karkamanos e pôs fim à carreira do criminoso de guerra Jonas Savimbi. 

Portanto, a RTP fez duas entrevistas ao Presidente José Eduardo (José Eduardo Moniz e Barata Feio), Luís Alberto Ferreira também o entrevistou e publicou o seu trabalho no Jornal de Notícias. José Ribeiro entrevistou-o e a entrevista foi publicada na ANGOP, depois retomada por todos os Media do sector empresarial do Estado. 

A entrevista concedida a Henrique Cymerman ocorreu em 2013, mas é mentira, não foi a única. 

Aquele ano de 2013 foi crucial para Angola. Hoje e para encerrar os sete dias de luto nacional envio, em apêndice, o seu discurso sobre o Estado da Nação, em de 15 Outubro de 2013. Um documento notável que devia ser distribuído profusamente, sobretudo entre todas e todos os que confundem propositadamente velocidade com precipitação ou políticas de Estado com corrupção.

*Jornalista

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