Miguel Guedes* | Jornal de Notícias | opinião
O silêncio sepulcral que a Igreja
portuguesa mantém sobre os abusos sexuais cometidos dentro da organização,
décadas a fio de um terço-ponta-do-icebergue, terça parte de um rosário de
crimes e pecados que nem 50 ave-marias levam ou lavam, é perturbador. O
sentimento de impunidade é uma malha tecida pela protecção que a suposta
virtude lhe confere. É esta, também, a felicidade de vivermos no tempo do Papa
Francisco. Esta, a de podermos acreditar
As palavras ditas e as que ficam por dizer. É preocupante a reacção da Igreja Católica portuguesa, pela voz de D. Manuel Clemente, patriarca de Lisboa, à abertura de dez inquéritos pelo Ministério Público na sequência das 17 denúncias anónimas remetidas à Procuradoria-Geral da República pela "Comissão Independente para o Estudo de Abusos Sexuais contra Crianças na Igreja Católica", criada em Janeiro e liderada por Pedro Strecht. Não só porque é uma altiva oração pela omissão, mas também pelas notícias que dão conta de que, à semelhança do seu predecessor D. José Policarpo, nada fez relativamente às denúncias recebidas relativamente a um padre que tinha a seu cargo duas paróquias a norte do distrito de Lisboa, nos anos 90. Inacção, apesar das sucessivas acusações e de um encontro com a vítima, promovido pela mãe, em 2019. Afastado em 2002 para uma capelania de hospital, o alegado agressor ainda foi a tempo de fundar uma associação privada, não canónica, com o objectivo de acolher crianças, jovens e idosos num grupo cristão. Todo um rosário.
Desde Janeiro, a Comissão
Independente já validou mais de 350 denúncias e está, naturalmente, atenta aos
casos já prescritos pela possibilidade de prossecução da actividade criminosa.
Porque são crimes, o que está
O AUTOR ESCREVE SEGUNDO A ANTIGA ORTOGRAFIA
*Músico e jurista
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