Martinho Júnior, Luanda
À medida que a irracionalidade humana consome cada vez mais rapidamente o que o planeta consegue repor, somos todos nós que, em vida e nas futuras gerações, estamos e estaremos antecipadamente e desde o berço, em luto!
01- Essa é a insofismável verdade transversal que condiciona a vida particularmente desde os tempos da Revolução Industrial, desde quando o homem tem-se esquivado em conhecer e equacionar, para alguma vez reverter, a aceleração da tendência para o fim da própria espécie humana!
Quando se sente a amplitude dolorosa dessa falta de respeito para com a Mãe Terra e para com a humanidade, somos mesmo todos nós que, consciente ou inconscientemente, em vida assumimos cada vez mais precariedade e estamos e estaremos a, por tabela, assumir uma carga de antecipado luto de que nos deveríamos de há muito saber prevenir!
Ética e moralmente a lógica com sentido de vida, com toda a impotência que nos devora, assume substantivamente essa cada vez mais pertinente dialética, em especial neste momento em que a Angola, contrariando muitas tendências globais, sob o ponto de vista da antropologia cultural, na prática e apesar do que lhe tem sido tão nefasto, avança numa autêntica revolução cultural que se sustenta na vanguarda dos Programas Mínimo e Maior do MPLA, rasgando os horizontes dum passado que foi trincheira de luta para toda a África Austral e Central, para com todo um continente e para com toda a humanidade!
Reconhecer esse legado não é só para patriotas: é para todos os que sabem do imenso que condiciona a liberdade na sua relatividade contemporânea e por isso há uma palavra de referência para o Comandante Fidel, ao nível da projecção do estatuto de estadista que alcançou em diálogo aberto com o futuro, conforme por exemplo sua clarividente intervenção a 12 de Junho de 1992, na Conferência das Nações Unidas sobre o Ambiente e o Desenvolvimento, há 30 anos, no anfiteatro que constitui a cidade maravilhosamente magnética do Rio de Janeiro, no Brasil!...
02- “Amanhã será demasiado tarde” foi, é e será uma constatação gerada na e pela sensibilidade socialista de vanguarda, o que confere ao socialismo uma maturidade que a humanidade tarda em alcançar por causa da irracionalidade de suas práticas capitalistas e de consumo que conduzem ao abismo irreversível em razão do qual estamos em luto desde que nos finais do século XIX se impôs o Império colonial britânico em função da Revolução Industrial, o império que abriu espaço às revoluções tecnológicas que de forma utilitarista tão opressivamente se distendem até nossos dias!
Por essa razão o crédito ao socialismo está de forma premente em aberto à medida que se põe em causa a segurança vital, por que é cada vez mais urgente que haja progressos no sentido do respeito para com a Mãe Terra e para com toda a humanidade e não será nunca por via dum capitalismo neoliberal exacerbado que conduziu ao império da hegemonia unipolar eminentemente anglo-saxónico, que isso pode ser alguma vez possível.
Assim é necessário também equacionar as tendências em Angola no preciso momento de abertura à mudança de paradigma:
O facto de se darem passos no sentido da realização do Programa Maior do MPLA reconstruindo o país, construindo as barragens que providenciarão a indispensável energia e água para todos os angolanos, o esteio que provocará mudanças sensíveis nas culturas e comportamentos produtivos de todos os angolanos, não basta…
O socialismo e o trabalho devem
ser reequacionados como tal numa ampla perspectiva de futuro, perante a
exaustão dos recursos imposta pela devassidão que simbolicamente teve também
seu berço, sem a participação de africano algum, na Conferência colonial de
Berlim que ocorreu entre 15 de Novembro de
… Por alguma razão para além das provas substantivas, devemos evocar África como berço da humanidade!...
Não basta, assim como não basta fazer a história sobre o passado de luta do povo angolano e dos povos africanos, ainda que se tenham obtido pela força das armas as bandeiras de independência e da dignidade!...
É necessário ao advogar o Sul Global, avaliar e saber como se deve assumir essa independência, essa dignidade e essa soberania num ambiente em que o luto afinal prevalece, desde nossos próprios berços, marcando-nos indelevelmente a vida!
Essa é a razão essencial para recolhidamente evocar a memória dos nossos e dos nossos antepassados, em especial os combatentes heroicos das causas universais, com o espírito dum novo país com 47 anos que ansiava, anseia e vai continuar a ansiar, lutar para se resgatar do subdesenvolvimento crónico que advém do passado, senão perder-se-ia o valor e o sentido de vida de tantas gestas que houve, o sentido que nos chega iluminando o caminho como perenes Vietname… as vidas, quantas delas, que se empenharam com o sacrifício de seu próprio ser-singular ceifado em plena juventude!
Ao evocar essa memória, a história pode e deve ser um instrumento pedagógico que nos obriga à filosofia da lógica com sentido de vida!
A lógica com sentido de vida vai buscar ao socialismo e aos anseios de então sua inspiração, por que é desse modo que sentimos e reconhecemos o luto que nos advém do berço e isso é algo que não se pode renunciar por que não é um caso de política, ou de negócio: é fruto do encontro singular e colectivo com a respiração palpável e cada vez mais sôfrega da Mãe Terra e com o fluido dinâmico e dialético que anima a própria humanidade!
03- A paz por si pouco serve, se não for equacionado o peso dialético da encruzilhada que se propicia com a mudança de paradigma e também não serve suficientemente se não for feito o balanço sério da memória dos que desapareceram fisicamente, fazendo a leitura do que lhes ia na alma, quantas vezes no próprio momento em que desapareceram, entre o troar das armas e o acre cheiro a pólvora!
Essa convicção resulta duma cultura que é também de respeito para com eles, pagando com eles uma dívida ética e moral para com um continente-berço que pouco a pouco, com a solidariedade apontada desde a primeira hora pelo socialismo revolucionário cubano, é também uma dívida de toda a humanidade que deve definitivamente renunciar aos prejuízos que são causados à Mãe Terra, como deve renunciar duma vez por todas ao poder colonial (e neocolonial) que tornou possível e torna possível a continuidade da Conferência de Berlim!
Não há mais que haver equívocos, não há mais como haver equívocos e por isso até os mortos na sua perda e nas convicções que os animavam, devem ser filtrados no relativismo dessa memória, iluminando o que se deve fazer no presente e no futuro, quando o que é retrógrado é ainda tão avassalador e tão omnipresente!
Só assim o amor, o progresso, o respeito pela Mãe Terra e a sensibilidade global para com toda a humanidade, podem deixar de ser palavras em vão!...
“Amanhã será demasiado tarde”…
Círculo
Imagem do Monumento ao Soldado Desconhecido em Luanda, inaugurado pelo Presidente José Eduardo dos Santos, segundo foto por mim recolhida a 21 de Abril de 2018.
Texto de referência:
DISCURSO PRONUNCIADO EN RÍO DE JANEIRO POR EL COMANDANTE EN JEFE EN
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