Artur Queiroz*, Luanda
A contagem dos votos está no fim e o MPLA ganhou as eleições com maioria absoluta. Parabéns ao partido vencedor e ao seu cabeça de lista. A UNITA foi derrotada mas reforçou o seu papel de líder da Oposição. A vitória esmagadora em Luanda deu-lhe um peso político muito superior à percentagem dos votos averbados a nível nacional. Adalberto da Costa Júnior é o rosto deste sucesso. Merece os parabéns (quanto me custa escrever isto!).
A vitória esmagadora da UNITA em Luanda tem quatro componentes. Beneficiou da bipolarização recolhendo o voto útil. Recebeu o voto de protesto porque os pequenos partidos se mostraram politicamente irrelevantes. Teve a ajuda poderosa do MPLA anti João Lourenço. Absorveu os votos da CASA-CE com o “Efeito Chivukuvuku”.Também pode ter beneficiado da elevada taxa de abstenção. Logo se vê.
O MPLA é um colectivo de angolanas e angolanos com profundas raízes populares. Quando o partido ganha, todos ganham. Quando perde, todos perdem. Nada de procurar bodes expiatórios. Ou mesmo respiratórios. As derrotas nos círculos eleitorais de Luanda, Cabinda e Zaire mostram que a pedrada eleitoral foi desferida, em grande parte, pelo próprio MPLA.
O MPLA que estremeceu de raiva quando o MPLA entendeu que Jonas Savimbi i tinha direito a um funeral na presença dos seus familiares e correligionários. Mas não pensou assim em relação às centenas de milhares de mortos causados durante a Guerra pela Soberania Nacional e a Integridade Territorial.
O Soldado Desconhecido é do MPLA. A família, os amigos, os companheiros de luta, não puderam fazer-lhe um funeral digno. Mas ele morreu pela Pátria Angolana. Savimbi morreu lutando contra Angola e o Povo Angolano. Matou civis indefesos e muitos ficaram sem sepultura. O MPLA que ganhou as eleições, não os tratou com a mesma humanidade e deferência dispensadas ao criminoso de guerra.
Os civis que apodreceram ou foram devorados pelas feras nas picadas, nas aldeias destruídas, nas bermas das estradas, nos acampamentos de refugiados, nas vilas e cidades bombardeadas pela aviação ou a artilharia do regime racista de Pretória, que Jonas Savimbi e a UNITA serviam, não tiveram um funeral digno como o MPLA proporcionou ao criminoso de guerra Jonas Savimbi.
Os civis e militares mortos nas ruas de Luanda em 1992, quando a UNITA recusou os resultados eleitorais e tentou tomar o poder pela força, não tiveram do MPLA que venceu estas eleições, o mesmo favor que tiveram os cabecilhas do golpe, mortos em combate: Salupeto Pena, Jeremias Chitunda e Alicerces Mango. Foram qualificados, este ano, poucos meses antes do pleito eleitoral, como “vítimas dos conflitos políticos”. O MPLA reagiu mal e castigou o MPLA.
Os civis e militares, os membros do Estado Maior-Geral das FAPLA torturados e assassinados pelos golpistas de 27 de Maio de 1977são tratados pelo MPLA, que hoje ganhou as eleições, como criminosos. Os Heróis que enfrentaram os golpistas são ignorados. Os assassinos são tratados como “vítimas dos conflitos políticos” pelo MPLA que hoje ganhou as eleições. Também por isso o MPLA castigou o MPLA.
A forma desastrosa como foi gerida a morte do Presidente José Eduardo dos Santos deu uma maka mundial. O MPLA que ganhou as eleições também por isso foi castigado pelo MPLA. As angolanas e os angolanos não são descartáveis. Um angolano que prestou relevantíssimos serviços a Angola, a África e à Humanidade, ao derrotar o regime de apartheid da África do Sul, muito menos pode ser descartado. Também por isso o MPLA que ganhou as eleições foi castigado pelo MPLA.
Os resultados provisórios são estes, escrutinados mais de 97 por cento dos votos: MPLA 51,7 por cento dos votos e 124 deputados, UNITA 44,5 por cento dos votos e 90 deputados, PRS 1,13 por cento e dois deputados, FNLA 1,05 por cento e dois deputados, PHA 1,1 por cento e dois deputados. Ninguém mais obteve mandatos populares. Abstenção atingiu a taxa dos 54,34 por cento. É o maior “partido”. Estão lá muitos votos do MPLA que se uniu à Oposição para castigar o MPLA.
Esta maioria absoluta conquistada pelo MPLA tem um problema. O eleitorado em Luanda virou-lhe as costas. Ganhou um Ferrari mas sem motor e pneus. Nada de grave. O MPLA que se uniu à Oposição para castigar o MPLA tem as rodas e o motor do carro. Isso resolve-se em casa.
Em Cabinda sim, temos um problema delicado. A UNITA venceu as eleições porque vendeu a província por um punhado de votos. Gravíssimo. Mas o MPLA que ganhou as eleições tem cinco anos para legislar no sentido de proibir que partidos políticos concorram às eleições prometendo atentar contra a Soberania Nacional e a Integridade Territorial. Garantindo aos votantes que vão rasgar a Constituição da Republica, leiloando Angola a quem der mais pelos campos de petróleo. A vitória da UNITA no Zaire mostra que existe uma conspiração internacional para separar Cabinda de Angola. A província vizinha entra no “pacote energético”.
O MPLA ganhou estas eleições com maioria absoluta. Está de parabéns. O seu líder, eleito Presidente da República, merece as mais vivas felicitações. Deu o litro pela retumbante vitória. Parabéns a todos os partidos e coligações. Parabéns aos eleitores. Aos abstencionistas um apelo: Em 2027 vão votar. O regime democrático merece o voto de todos. O civismo assim o exige.
O MPLA uniu-se à Oposição para enfrentar o MPLA. No círculo eleitoral de Luanda a tareia foi tremenda. Camaradas do MPLA tenham pena do MPLA. A luta continua e a próxima vitória é certíssima. Não existe partido no mundo com tanto apoio popular. Ate dá para dividir os votos com a Oposição! Mas não exagerem.
*Jornalista
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