Neste grande dia soubemos que o Grupo Carrinho vai ter ao seu dispor mais uma carrada de milhões vezes milhões vezes milhões. A Procuradoria-Geral da República assobia para o lado e vai abrir uma conta no BCI privatizado. Dinheiro limpo. Nada de branqueamento de capitais nem fuga ao fisco. Isso é para os velhos ricos. Os novos não têm esses problemas. Ainda bem. Odeio as taras do capitalismo, sempre selvagem. Mas tolero a xenofobia. Sou contra os ladrões estrangeiros. Contra os corruptores estrangeiros. Contra os estrangeiros exploradores de quem trabalha. Prometo emendar-me mas vai ser difícil.
Um amigo que ganhou as estrelas de general com a pela encostada ao chão nos campos de batalha pela Independência, a Soberania Nacional e a Integridade Territorial precisa de viajar para Portugal. Vai adiando a viagem porque pediu um passaporte de serviço que, meses depois, continua por emitir.
Não pediu dinheiro. Não pediu
viagem de borla. Só quer um passaporte de serviço para não ser humilhado nas
bichas quilométricas à porta do Consulado Geral de Portugal
Manuel Nunes Júnior, ministro de Estado para a Coordenação Económica, inaugurou hoje (grande dia!) o Perímetro Irrigado do Sumbe. Mais de cinco mil hectares vão dar algodão e outros produtos. Assim se cria riqueza e postos de trabalho. Não vi lá norte-americanos, noruegueses e outros fregueses dos nossos recursos naturais. Calma. Ainda não é tarde para regressarmos aos tempos da sagrada esperança. Aos nossos campos havemos de voltar. Às nossas terras/vermelhas do café/brancas de algodão/verdes dos milharais/havemos de voltar.
Os noruegueses dizem que em Angola existe agora mais transparência na indústria mineira e no petróleo. Má notícia. Isto quer dizer que agora podem roubar Angola à vontade, à luz do dia, sem truques nem esquindinvas. Estes azares, segundo Viriato da Cruz, são mesmo da raça ou então é feitiço que pegou mesmo!
Hoje fui informado pela TPA que o
reino do Congo já não tem rei no trono há 65 anos. O último foi entronizado e
recebeu farda dos portugueses. Bem me lembro da cena. O meu pai ainda vendeu
umas malas de peixe grosso (pungo e corvina) e barris de vinho para a festa.
Angola tem reis por tudo quanto é sítio. Já sei. Na próxima revisão
constitucional Angola vira monarquia. Esqueçam as províncias, os municípios e
as comunas. Esqueçam as eleições autárquicas. Angola vai ser dos reis e
rainhas. Todos juntos prestam vassalagem ao imperador e à sua corte
Escrever uma notícia é muito, muito difícil. Primeiro é preciso cavar no terreno do acontecimento. Depois temos de selecionar os fragmentos de informação que permitem emitir o bilhete de identidade da mensagem informativa. Tudo isto em períodos muito curtos e, no máximo, em dois parágrafos. Para contar como aconteceu e porque aconteceu, é necessária muita perícia. Mestria. Domínio da linguagem jornalística que é directa, substantiva e afirmativa, tendencialmente imperativa. Temos de cortar todos os caminhos que vão dar à dúvida.
Muitas e muitos desconseguem, ficam traumatizados e viram escritores. Foi esse o caso de José Saramago. Abandonou as notícias, reportagens e entrevistas para se dedicar à literatura. Fomos colegas no Diário de Notícias. Um dia encontrou o monólogo de Molly Bloom e ganhou o prémio nobel. Eu também já tive recaídas. Quando falho no jornalismo escrevo livros. Vou de fracasso em fracasso até regressar ao fabuloso mundo da notícia. Juro emendar-me e nunca mais repetir o pecado dos livros. Fraquezas.
A Luzia Moniz recebeu do Orçamento Geral do Estado como jornalista. Como escrevia jornalismo com “u” teve de ser amparada pelo Tio Paka e pelo MPLA. Lá se foi safando sempre atrombada à chucha dos cofres públicos. No dia 24 vai publicar um livro que tem o título sugestivo “Silenciocracia, Jornabófias e outras mazelas”. Se ela fosse mesmo jornalista sabia que nos títulos não há pontuação. Simplesmente porque são o resumo da mensagem informativa. Mas se ela própria é uma cedilha na palavra cal (é assim que ela escreve sal), está perdoada.
O prefácio é do Mabeco Tali. Este dispensa apresentações e ápodos. A apresentação está a cargo da Francisca Van-Dúnem, política à portuguesa, e Manuel dos Santos, historiador e sociólogo da zunga.
Carinhosamente digo à Luzia que entre jornabófia e escriba de sobrinhos e madalenos, que venha o diabo escolher. Entre o silêncio para não perturbar as digestões do Presidente João Lourenço e escrevinhar ao serviço do Álvaro Sobrinho e madalenos, antes com o camarada do nosso querido e saudoso Manuel Pedro Pacavira. Entre escrevinhar para o Galo Negro e a sua frente podre unida (FPU) e ficar em silêncio, antes o mutismo e as folhas em branco.
O editor do livro da Luzia Moniz diz que para a autora “democracia é uma alavanca para o combate às desigualdades políticas, económicas e sociais”. Tem razão. Em Portugal a democracia, só no ano passado, criou mais 20 por cento de portugueses em risco de pobreza. A exclusão social aumentou 12,5 por cento. Os mais ricos estão mais ricos e os mais pobres, mais pobres.
Em 2021, 4,5 milhões de portugueses (metade da população) tinham rendimentos abaixo dos 554 euros mensais. Mais de 2,3 milhões de pessoas vivem abaixo do limiar de pobreza, em condições de privação material severa ou com vínculos fracos ao mercado do trabalho como revelou este ano o Instituto Nacional de Estatística.
No Reino Unido, 15 milhões de
pessoas vivem na pobreza. Na Alemanha, motor da União Europeia, 13 milhões de
pessoas vivem na pobreza extrema, o número mais alto desde a reunificação do
país, em
Entre madalenos, sobrinhos e governantes o melhor é escolher o Jornalismo, ainda que seja mesmo muito difícil produzir mensagens informativas. Livros é facílimo escrever. Até porque em cada dez mil exemplares vendidos, só um é mesmo lido até ao fim. Se não fosse assim, muita gente tinha chegado ao capítulo Monólogo de Molly Bloom do livro Ulisses e ninguém se espantava com a prosa de Saramago sem pontuação.
O Céline nem leu nenhum capítulo. Deu uma entrevista a Madeleine Chapsal e chamou ao James Joyce “bêbado de Dublin”. Insinuou que os tipógrafos baralhavam as páginas na hora da composição e depois saía uma prosa ilegível. Invejoso! Nunca mais viajo contigo ao fim da noite. Do Saramago ainda vou lendo o Levantado do Chão.
Com o produto da venda do meu próximo livro (Cão de Sono Arruinado) vou a Belgrado pensar junto da estátua de Agostinho Neto. Ainda há quem pense e sonhe Angola?
*Jornalista
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