quinta-feira, 8 de dezembro de 2022

QUEM CONDUZ A EXTREMA-DIREITA NA EUROPA -- em FÓRUM 21

# Publicado em português do Brasil

Os partidos da Direita são hoje uma ameaça para o futuro da União Europeia. E da existência do euro, sua moeda. Eles combatem a imigração e o acolhimento de refugiados, cada um deles glorifica um nacionalismo exacerbado, as tradições do seu país e obscuras teorias sobre política, relações internacionais e a própria organização da sociedade. Há pelo menos um deles, Matteo Salvini, , que num exagero retórico bem italiano considera a moeda única um crime contra a humanidade.

Todos os países da Europa – com exceção da Irlanda, Luxemburgo e Malta – contam com extremistas da Direita em seus governos. A grande e dramática pergunta é se este pêndulo na direção das grandes ameaças vai continuar a apontar nessa direção por muito tempo ou se voltará a pender para os ideais de democracia, solidariedade e justiça social que inspiraram a criação da União Europeia. Os próximos anos é que vão dizer.

Celso Japiassu - em Fórum 21

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Salvini

Homem forte da Itália entre 2018 e 2019, Matteo Salvini ocupou dois cargos, o de Primeiro Ministro e o de Ministro do Interior e hoje faz parte da coligação extremista de direita que governa o país com a primeira ministra Giorgia Meloni. Salvini foi apeado do poder depois de tentar algumas jogadas políticas mal sucedidas. Quis maiores poderes. Acabou derrubado por uma articulação do PD – Partido Democrático - de esquerda, com o Movimento Cinco Estrelas, que se define como um não partido antissistema, fundado pelo comediante Beppe Grillo em 2009 e que acabou por se transformar numa força política. Grillo fez sucesso na televisão com um programa humorístico sobre a vida de italianos nos Estados Unidos e no Brasil.

Salvini preparou bem a sua volta. Os que acompanham seus movimentos dizem que ele sabe manipular muito bem os velhos sentimentos que movem a política italiana:  vingança, oportunidade e interesses. Considera o euro um crime contra a humanidade. É chamado de “capitão” (il Capitano) pelos seus seguidores, o que para muitos italianos lembra “Il Duce”, como era chamado Mussolini. Declara-se defensor dos valores da família, é contra o casamento de pessoas do mesmo sexo e defende a separação da região do Veneto, berço do seu partido, do resto do país. Continua a ser um dos políticos mais influentes no conturbado ambiente político da Itália. Líder da Liga Norte, movimento que cresceu com uma retórica populista e anticorrupção, aliado à Força Itália de Silvio Berlusconi. Combate a entrada de imigrantes e refugiados e é contra a globalização, com uma teoria difusa e confusa que se aproxima do conceito caótico do “globalismo” adotado por alguns componentes do ainda atual governo do Brasil. Fortaleceu-se na aliança com Giorgia Meloni, fenômeno político com os pés no partido Fratelli d’Italia. A qualquer momento a luta pelo poder entre os fascistas vai definir a liderança entre Salvini e Meloni. Ambos significam a mesma ameaça.

Norbert Hofer

Algumas publicações, como o International Business Times, classificam o político austríaco como neofascista e seu slogan de campanha, que pode ser traduzido em inglês como “Putting Austria First”, de imediato lembra o de Donald Trump “America First” e o “Brasil acima de tudo” de Bolsonaro. Não é simples coincidência, pois Hofer também tem grande admiração por Trump e ambos possuem vários pontos de vista em comum. Assim como Jair Bolsonaro, é um defensor das armas e, por medo dos imigrantes, segundo a imprensa, carrega sempre consigo uma pistola Glock.

Norbert Hofer, líder do Partido da Liberdade da Áustria (FPÖ)  é um homem de sorriso fácil e certa simpatia pessoal. Já foi descrito como de olhar ingênuo e usa uma bengala como sequela de um acidente de asa delta. Teve a maior votação no primeiro turno das eleições a presidente, em 2016, mas perdeu no segundo turno para Alexander van der Bellen, ex-presidente dos Verdes. Continua sendo uma alternativa de poder num país onde cresce a rejeição aos imigrantes e refugiados estrangeiros.

Seu credo político inclui o pangermanismo, uma das ideias que inspiraram Adolf Hitler e costuma exibir nas roupas a imagem de uma centáurea, flor típica do seu país, adotada como símbolo dos movimentos nazistas clandestinos.

Boris Johnson

Com uma cabeleira que lembra o estilo Trump, mas não tão bem arrumada, o ex-Primeiro Ministro inglês, um dos líderes do Brexit, é um ex-jornalista que foi demitido do The Times por falsificar uma declaração. Continua sendo uma alternativa de poder na Grã Bretanha e torce pelo fracasso de Rishi Sunak, atual primeiro ministro, escolhido depois da derrocada de Liz Truss, sucessora de Boris Johnson por um brevíssimo período.

Nasceu em Nova Iorque de pais ingleses – tem dupla nacionalidade -  e foi prefeito de Londres por dois mandatos. Embora seja um conservador extremado, não chega a ser considerado um extremista de direita mas um mutante político, capaz de mudar de posição segundo suas próprias conveniências.

Acredita numa sociedade organizada hierarquicamente. O editor do Al Jazeera James Brownswell afirma que Boris Johnson na campanha do Brexit inclinou-se para a direita mas que no fundo é um pouco mais liberal do que seus correligionários do Partido Conservador.

Seus eleitores costumam chama-lo de Bojo, acrônimo do seu nome. O jornalista Dave Hill, colunista do The Guardian, define-o como uma figura única na política britânica, construída pela mídia e reunindo as características de comediante, vigarista, falso subversivo, showman e populista. Várias das suas afirmações durante a campanha para obter vitória no plebiscito do Brexit foram posteriormente desmentidas.

Além desses, outros nomes despontam na liderança da extrema direita da Europa, entre eles Santiago Abascal, do Vox espanhol; Nikolaos Michaloliakos, do fascista Aurora Dourada, da Grécia; Beatriz von Stroch, expoente do AfD-Alternative für Deutschland, da Alemanha e André Ventura do português Chega. Entre estes destaca-se Viktor Orbán, que mantem constante conflito com a Comissão Europeia, por conta das suas violações ao estado de direito na Hungria.

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