Artur Queiroz*, Luanda
Os pasquins alastraram para as redes sociais e o fabuloso Jornalismo Angolano, nascido em 1845 (há 178 anos), está moribundo. Instituições dos jornalistas e a regulação remetem-se ao silêncio, seja de cumplicidade ou cobardia. Do mais Alto Magistrado da Nação (condecorou o abusador e falso jornalista Rafael Marques) aos dirigentes sindicais todos se dão bem com os atentados à honra e ao bom-nome dos cidadãos. Estão de acordo com a especulação desenfreada. Sabem que um crime de abuso de liberdade de Imprensa é antes do mais um crime contra o Jornalismo, mas aplaudem. Ou ignoram o que é igualmente grave.
Angola está refém de falsos jornalistas, falsos escritores, falsos angolanos e verdadeiros políticos mafiosos. O papel dos pasquins e dos instrumentos afins nas redes sociais é destruir a credibilidade do Jornalismo Angolano, que já foi uma actividade séria e a sério. A vitória deste jornalismo de sarjeta é enlamear pessoas e instituições. A direcção do Sindicato dos Jornalistas e as direcções de praticamente todos os partidos da Oposição vivem felizes nessa lixeira e põem ao peito essa medalha.
Teixeira Cândido e uns quantos
bêbados da valeta, miseráveis morais que comem dos diamantes de sangue, têm-se
numa conta tão elevada que consideram os pasquins, pagos com dinheiros sabe-se
lá de quem, como “imprensa independente” e a sua missão nesse grandioso combate
é a “democratização e moralização do regime”.
Estes pândegos acham que os jornalistas podem ser tudo neste país. Podem assassinar honras e roubar o bom-nome de pessoas e instituições. Podem mentir, caluniar, chantagear e extorquir dinheiro, casas, carros e outras miudezas. É por isso que depois, quando chega a hora de fazerem o que lhes compete – notícias, reportagens, entrevistas - não são nada. Por favor, protejam os Media públicos. Honrem os recursos humanos que lá trabalham. São mais importantes para o regime democrático do que o petróleo para a economia.
A UNITA apresentou hoje um “voto de protesto” na Assembleia Nacional por uma alegada “violência contra os jornalistas”. Claro que a golpada foi reprovada pela maioria parlamentar. Rui Falcão explicou porquê mas também lembrou que em Angola, o Galo Negro tem-se destacado pela violência contra os jornalistas que não recebem fundos dos diamantes de sangue. Estas manobras de diversão afastam a opinião pública de uma situação gravíssima desde 1992, sem que ninguém lhe ponha cobro.
No final do século XIX, o presidente do conselho de administração do jornal The Times dizia aos accionistas que “a publicidade está para a publicação impressa como o vapor está para as máquinas.” Hoje a sua tiragem ronda os 400 000 exemplares, metade do Sunday Times. O Ouest-France (jornal de maior tiragem em França) também tira 800.000 exemplares.
Em língua portuguesa temos o brasileiro Globo com uma tiragem média diária que não passa os 80 000 exemplares (já esteve acima dos 300.000), o Folha de São Paulo que fica pelos 55.000.
Em Portugal é assim: Correio da Manhã (líder) 57.000. Expresso (semanário) 52.000, Jornal de Notícias 22.000, Sábado (semanário) 18.000 e Visão (também publicação semanal) 12.000. O velho Diário de Notícias, que em 1974 e 1975 teve tiragens de 120.000 exemplares, tira agora menos de 3.000 cópias diárias.
Depois desta visita às tiragens de grandes rotativos mundiais é tempo de colocar a questão que interessa. As vendas das cópias dos jornais cobrem menos de dez por cento dos custos de produção. A venda do espaço (publicidade e outros serviços) paga o resto, se existirem clientes. Em Angola, apenas o Jornal de Angola tem uma carteira de publicidade digna desse nome. Todos os outros títulos não geram fundos que cheguem para pagar despesas básicas como água, luz, telecomunicações e renda de casa. Ninguém quer saber como vivem? Quem paga? É urgente um debate nacional sobre esta questão. Até na Assembleia Nacional. Porque está em causa o regime democrático.
Hoje os jornais privados são espaços de poderes ocultos e quase sempre ilegítimos. Os Media públicos são administrados e dirigidos por pessoas com nome e rosto. Ocupam os cargos porque foram nomeados por quem está legitimado pelo voto popular. As despesas são pagas pelos cofres públicos. De que vivem os pasquins? Tráfico de influências e negócios escuros. Quem alimenta e estimula o lixo mediático em Angola?
Pasquim quer dizer o contrário de rigor, de seriedade e de objectividade, princípios que suportam os conteúdos comunicacionais. Pasquim quer dizer jornalismo de sarjeta. Os Media públicos veiculam informação limpa, objectiva, à luz do dia. Os pasquins espalham o boato, a insídia, a mentira, a difamação cobarde.
Os financiadores e mentores dos pasquins jamais perdoarão ao MPLA por ter derrotado o colonial-fascismo. Ter liquidado o poder branco. Ter resgatado a honra e a dignidade de todo um povo. Muitos criados e criadas às ordens da Redacção Única nos pasquins angolanos e redes sociais são novos mas o seu bafo é mais velho que a mais velha profissão do mundo. Estão vendidos a ideias e tempos que já não voltam. Um jornalista com dono vale apenas aquilo que o dono quiser que ele valha.
Essa tropa de choque não tem legitimidade para falar de democracia nem de nada que tenha a ver com Angola Independente. Porque não puseram nem um simples prego na construção do nosso país. Andam sempre voando sobre os ninhos dos cucos e quando lhe dão uma oportunidade, viram sanguessugas e enchem a pança. Fingem que são jornalista mas não passam de usurpadores.
Cronistas? Duvido. Têm de ir aos jornais luandenses do final do século XIX para saber o que é um cronista. Têm que ler as crónicas de Troni, Videira, Lara Filho, João Eugénio, Joca Luandense, Bobela Mota. Crónica é sentimento fundo, é aquele miradouro da lua que fica no meio caminho da linguagem jornalística e da linguagem literária.
Os escribas a soldo limitam-se a alinhar palavras por alturas e por sons. A quem interessa o lixo mediático que tudo contamina e serve a estratégia golpista da UNITA? É altura de suscitar um amplo debate nacional para encontrarmos as respostas. Também nesta missão o MPLA tem uma palavra a dizer. Decisiva.
*Jornalista
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