segunda-feira, 16 de janeiro de 2023

OS RIOS DE COCAÍNA QUE AMEAÇAM A EUROPA

Joana Petiz | Diário de Notícias | opinião

Um quilo de cocaína valerá, à saída da Colômbia, no máximo 5 mil euros. Mas uma vez desembarcado, cortado e posto a circular na Europa, o seu valor potencial é imediatamente multiplicado por dez, com variações que podem inflacionar mais o lucro consoante o nível de vida do país europeu em causa. Para o narcotráfico, a oportunidade de negócio é clara, o que tem incentivado uma crescente aposta das redes de crime organizado nesta parte do mundo - uma evidência revelada pelos mais recentes números relativos a apreensões nos principais portos comerciais do continente.

Disfarçado no meio da carga oficial dos milhões de contentores que aportam todas as semanas na Europa, há um mar de cocaína a desaguar nesta região. E que vem acompanhada de uma escalada sem precedentes de crimes violentos, atos organizados por estruturas tentaculares que vão espalhando ativos dissuasores pelo território - ataques com granadas, pequenas engenhos colocados em prédios comerciais ou de habitação, assassinatos de pessoas mais ou menos proeminentes, que tenham oferecido algum tipo de resistência ou ameacem as operações criminosas, têm explodido pela Europa, reforçando os argumentos contra a denúncia dos crimes e espalhando o medo pela população, dificultando ainda mais o trabalho das autoridades.

Nesta escalada de violência, o ministro da Justiça belga foi obrigado a mudar-se para morada desconhecida e vigiada pela polícia; nos Países Baixos são vítimas de ameaças e agressão advogados, jornalistas e até a princesa herdeira foi forçada a deixar os estudos em Amesterdão e regressar a casa por razões de segurança.

Em Antuérpia, foram encontradas 110 toneladas de cocaína no ano passado, em Roterdão as autoridades apanharam 50 toneladas. Fazendo as contas à carga detetada, imagine quantas toneladas terão passado... Longe desses valores, Portugal é ainda um dos países mais seguros do mundo, mas não é imune a esta narcoinundação - tão pouco aos riscos que acarreta. As apreensões feitas nos nossos portos no ano passado chegaram a um recorde de 18 toneladas, cocaína suficiente para, se tivesse chegado às ruas, render uns estimados 600 milhões de euros.

Se o volume de entrada não é dos maiores, o nosso país está, ainda assim, desde 2018 no top 5 dos países europeus com mais cocaína apreendida. Com o risco e a insegurança a crescer, é fundamental garantir meios para as autoridades nacionais conseguirem lutar esta guerra numa posição de igualdade. Sob pena de Portugal cair num caminho de não retorno.

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