quinta-feira, 27 de abril de 2023

Angola | A LIBERDADE DE AMAR E VIVER – Artur Queiroz

Artur Queiroz*, Luanda 

A Liberdade é feminina. Mãe é a origem do feminino. Pátria também é uma palavra feminina mas vem de Pai masculino por isso inventaram uma palavra duplamente feminina: Mátria. Eu canto e choro a Pátria Angolana. A Revolução é feminina. A Revolução Angolana é Agostinho Neto e seus companheiros de luta. Alguns são meus amigos, meus familiares, exemplos supremos de amor ao Povo Angolano. O 25 de Abril é glória. A Luta Armada de Libertação Nacional em Angola, Guiné-Bissau e Moçambique foi o motor do Movimento das Forças Armadas, o exemplo que inspirou os Capitães de Abril.

Cada dia 25 de Abril telefonava ao meu amigo Otelo Saraiva de Carvalho e dizia-lhe: Otelo, viva o 50 de Abril que o 25 foi curto! Depois passei a dar vivas ao 100 de Abril porque o 50 ficou curto. Já ia no 500 de Abril quando o meu amigo faleceu. Angolanos e Portugueses perderam um dos seus melhores. Mas ninguém dá por isso. E daí? Quando a Canducha faleceu só eu chorei na sua campa do Cemitério de Sant’Ana. E tantos deviam chorá-la! A princesa do Bairro Operário era feminina. No tempo que viveu, os anglo-saxónicos ainda não tinham desencadeado as perseguições ao eterno feminino.

A Mulher é a expressão máxima da beleza. A dimensão estética e plástica da vida. Antes dos anglo-saxónicos ensinarem a odiar essa beleza intangível e ao mesmo tempo ao alcance de quem a ama, nunca hesitei em declarar o meu amor às mulheres que me sensibilizaram. Hoje, dia 25 de Abril de 2023, se ousar fazer isso, posso ir parar à cadeira eléctrica, se a ousadia for no estado terrorista mais perigoso do mundo (EUA). Levo prisão perpétua nas democracias liberais do ocidente alargado. Sou trucidado na comunicação social portuguesa. Mas sempre hei-de manifestar a minha admiração e endereçar convites mais ou menos sexuais às mulheres que tocarem o meu coração desmantelado. Sou um rapaz a cair da tripeça mas ousado.

A Mamé Resende e o Toi Caeiro meteram-me na cabeça que tinha de ir às aulas de Jacques Lacan no Colégio de França. E eu baldava-me. Sou muito limitado e para fazer as cadeiras que me faltavam em Vincennes, via-me aflito. Um dia claudiquei e fui com eles. A sala estava cheia como um ovo. Asiáticos, africanos, americanos, europeus, todos sedentos de ouvirem o genial professor. Ele entrou e fez-se um silêncio sepulcral. Lacan olhou para a sala e murmurou: - Estão aqui todos os que gostam de mim.

Uma longa pausa e depois disse mansamente: A Mulher não existe! E ficou uma hora ou mais explicando porquê. Pelo meio também explicou que o algarismo dois não existe. Está encravado entre o um e o três. Menos mal. Quando a sessão acabou disse à Mamé e ao Toi que nunca mais voltava. Mudei-me para os seminários de Michel Foucault. Em meia dúzia de palavras convenceu-me que as sociedades estão todas loucas, pelo menos desde que nasceu a repressão psiquiátrica e os hospícios. A lógica dos sentidos.

Tudo começou quando os adultos projectaram a sua loucura sobre as crianças. E assim estamos. Mas o genial mestre nunca disse que a mulher não existe. Nem todos são assim tão loucos. Quando admiramos uma mulher, dizemos-lhe. Quando amamos uma mulher, dos cabelos aos pés, passando pelo sexo, dizemos-lhe. Os anglo-saxónicos não vão triunfar. Uma sociedade de pessoas assexuadas é coisa de malucos. 

Machismo e feminismo são expressões que não podemos confundir. O machismo brota do ódio à Mulher. O feminismo é um grito de libertação ainda que por vezes vista a roupagem do extremismo. Giacomo Casanova disse antes de deixar Nápoles e partir para Paris: - Vou a França amar as mulheres e lutar contra os homens! Chamam-lhe machista. Que engano de alma. É nesse equívoco que cavalgam os anglo-saxónicos quando tratam “cientificamente” das questões de género. Fizeram da sedução um crime grave. Aquele senhor do cinema, Harvey Weinstein, vai morrer na prisão. O kaolho Boaventura Sousa Santos foi trucidado.

Sempre fui um péssimo estudante. Só estudava uns dias antes dos exames. As notas eram no limite do chumbo, honestos dez, o máximo onzes. Passava noites e noites a estudar à pressão. Tomava anfetaminas para não dormir. Sentava-me em frente aos júris num estado lastimável, olheiras até ao umbigo, desgrenhado, lívido, praticamente morto vivo. Um dia percebi que era um tremendo estúpido. 

As minhas colegas apareciam nos exames com tinta nas pestanas, tinta nas pálpebras, tinta nas sobrancelhas, tinta nas maçãs do rosto e tinta nos lábios. Decote generoso e mini saia tão curtinha que a cor das calcinhas ficava em primeiro plano. Tinham sempre excelentes notas. Eram mais inteligentes do que eu mas não se justificavam tão grandes diferenças nas notas.

Precisava muita da última “unidade de valor” para me inscrever em Sociologia da Literatura noutra escola. Em vez de passar noites sem dormir fui ao Marché aux Puces e comprei um casaco azul com botões dourados. Era imenso. Dobrei as mangas mas as abas chegavam aos joelhos. Ia assim para o exame e o Joaquim Pais de Brito não deixou. Deu-me um casaco de bombazina cor grená. Parecia um chulo tanguista, só me faltava o bigodinho. Um membro do júri riu-se quando me ia a sentar e segredou qualquer coisa a outro. Bom sinal de simpatia. O exame correu mesmo muito mal mas o membro do júri que se riu disse: “Acabou o exame. Muito bem”. Triunfei! 

Nunca me passou pela cabeça que o triunfo teve o seu quê de assédio sexual. Boaventura Sousa Santos (tenho contas a ajustar com ele desde a campanha eleitoral de Lurdes Pintasilgo) está a ser trucidado na praça pública por umas senhoras que o acusam de assédio. Está a provar do seu próprio veneno mas eu aqui estou, a seu lado. Quem o quer deitar abaixo não passará. Uma campanha asquerosa contra alguém que sabe pensar e escrever sobre a liberdade, isto é, o 25 de Abril.

Neste dia tão importante para os angolanos também quero denunciar Abílio Camalata Numa pelas suas reiteradas manifestações de ódio à Liberdade e à Independência Nacional. Este criminoso de guerra amnistiado afirma hoje no Club K, fossa da UNITA e do Miala, que o MPLA em 1974 contratou mercenários. Referia-se aos “gendarmes catangueses” que lutaram pela cessação do Katanga (Shaba) ao lado de Moisés Tchombé. Os mercenários estrangeiros saíram do teatro de operações por Angola. Eram comandados por Thomas Michael Hoare (Mike Louco) e Bob Denard. 

Os combatentes catangueses eram comandados pelo General Nataniel Mbumba e foram instalados no Leste de Angola. Agostinho Neto deu-lhes o estatuto de refugiados políticos e mais tarde obtiveram a nacionalidade angolana. Lutaram de armas na mão contra os invasores estrangeiros na defesa do Povo Angolano. Abílio Numa e outros malfeitores UNITA, sim, eram mercenários. Primeiro ao serviço dos colonialistas portugueses e depois dos racistas da África do Sul. Nataniel Mbumba faleceu como General das FAA. Só um bandoleiro assassino pode confundir combatentes da liberdade com mercenários. Com ele próprio.

O dirigente da UNITA Abílio Camalata Numa não reconhece a República de Angola. Sempre lutou contra a Independência Nacional e continua ao serviço dos nazis da Irmandade Africâner. Escreveu que soviéticos e cubanos lutaram em Angola como mercenários. Este bandoleiro não pode passar impune face a tão grave insulto. Mas vai passar. Porque alguém acha que a reconciliação nacional é aceitar o banditismo político da UNITA.

Escreve o bandoleiro dirigente da UNITA: “Entre 1991 aos dias de hoje por Angola têm passado hordas mercenárias com títulos de assessores que pululam os três poderes de Angola ganhando enormidades financeiras, onde o angolano recebe migalhas. E, ainda, para os países destes mercenários assessores voam os dinheiros roubados do erário por angolanos que se comportam também como mercenários”. Racismo e xenofobia. Crimes de ódio.

Abílio Camalata Numa pensa assim. Adalberto da Costa Júnior pensa assim. Todas e todos os dirigentes e deputados da UNITA pensam assim. Eles só aceitam Angola como colónia portuguesa ou bantustão da África do Sul com o regime de apartheid ressuscitado. Espero que este 25 de Abril de 2023 seja o ponto de partida para acabar para sempre com os bandoleiros que têm como única agenda política a destruição do regime democrático. A UNITA tem de ser ilegalizada por não respeitar os valores da Democracia. É reiteradamente golpista. 

Todos os países que apoiaram, armaram e alimentaram a UNITA já reconheceram a República de Angola e até têm embaixadas em Luanda. Os sicários do Galo Negro ainda não deram e jamais darão esse passo. Nasceram traidores, cresceram mercenários e vão morrer inimigos jurados do Povo Angolano. 

Victor Ramalho, sicário da UNITA e barriguista na União das Cidades Capitais de Língua Portuguesa (UCCLA), escreveu que Amílcar Cabral lutou pela independência de Angola quando veio trabalhar para cá como engenheiro agrónomo. É um exagero dizer que lutou abertamente. Não é verdade. Mas indirectamente, sim. Como líder do PAIGC contribuiu para a libertação de portugueses, cabo-verdianos, santomenses, angolanos, guineenses e timorenses. 

O sicário da UNITA mudou de cara e agora é chefe da UCCLA, uma desnatadeira de dinheiro que dá para tudo e mais as doses de cocaína. Mas precisa de saber que os guineenses lutaram mesmo pela libertação de Angola. Comandantes do PAIGC foram para Cabinda, em 1975, com os seus mísseis terra-ar defendendo os céus da província. A aviação de Mobutu não se atreveu! Trabalhavam directamente com os Comandantes Pedalé e Bolingô. A presença destes lutadores pela Liberdade também se deveu à luta de Amílcar Cabral. É verdade. 

Hoje a RTP (canal público português) virou canal do partido Chega e chamou 500 vezes ladrão ao Presidente Lula da Silva. Otelo volta tens de fazer o Mil de Abril!

* Jornalista

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