quarta-feira, 3 de maio de 2023

Coragem de Costa "mobiliza" e dissolução faria de Marcelo "líder de partido", diz PS

PORTUGAL

A demissão de João Galamba ou a continuidade do ministro das Infraestruturas no cargo deixou o país em suspenso durante todo o dia de terça-feira, as fugas de informação foram inexistentes, e o primeiro-ministro tratou do caso junto do seu núcleo duro, com os ministros Fernando Medina, Pedro Adão e Silva, Mariana Vieira da Silva e Duarte Cordeiro.

Apesar de no PS se terem ouvido vozes a pedir uma remodelação alargada ao Governo, para um novo fôlego, desde logo, pelo presidente do partido Carlos César, um deputado socialista defende, em conversa com a TSF, que a "coragem" de António Costa vai contribuir para a "mobilização" do partido.

"É um ato de coragem que mobiliza o partido e não deixa ninguém indiferente", atira, reconhecendo que em vez de remodelar o Governo, Costa "remodelou a oposição e o Presidente da República", já que "colocou todos no seu devido lugar".

Ou seja, tal como Marcelo Rebelo de Sousa admitiu na nota que publicou no site da presidência, o chefe de Estado "não pode exonerar um membro do Governo sem ser por proposta do primeiro-ministro", e Costa "entendeu não o fazer, por uma questão de consciência, apesar da situação que considerou deplorável".

Um outro dirigente socialista admite que António Costa "não escolheu o caminho fácil", e abriu uma guerra com o Presidente da República, mas optou por rejeitar as pressões de Belém e da maioria dos comentadores políticos, com uma "decisão em consciência".

Na opinião dos socialistas, para virar a página da crise política, dando um novo fôlego ao Governo, António Costa não está obrigado a uma "mudança de caras no Conselho de Ministros". O refrescamento também se faz com iniciativa política: "O Governo tem de assumir a iniciativa política e resolver os problemas das pessoas".

Se António Costa tivesse demitido João Galamba, dava um sinal "de que havia uma conduta errada por parte do ministro". E "não é esse o entendimento" do primeiro-ministro que "está seguro da inocência de João Galamba.

"Não acredito que o António Costa tenha mantido o Galamba correndo o risco de que na comissão parlamentar de inquérito apareça uma versão diferente que implique o ministro", sustenta o mesmo deputado do PS.

Embora admitam que há "um conjunto de situações que são anormais", o "funcionamento das instituições mantém-se intacto", assim como a sua independência, como mostra a decisão de António Costa, mas também "a demissão de Frederico Pinheiro como adjunto nas Infraestruturas".

Dissolução? Do Presidente da República a "presidente de partido"

E é neste ponto que entra uma possível dissolução do Parlamento, embora com independência das instituições, mas com a relação entre São Bento e Belém bastante crispada. Se a direita está há largos meses a pressionar Marcelo Rebelo de Sousa para convocar eleições, a esquerda admite que "este não é o momento", como lembram à TSF.

Se o Presidente da República avançar para a dissolução do Parlamento, o deputado socialista considera que "Marcelo terá a postura de líder de um partido e não de Presidente de todos os portugueses, tal como é seu dever".

"Os portugueses não querem eleições, os portugueses querem estabilidade e querem que o Governo governe", acrescenta.

Numa nova crise política, embora o Governo só tenha tomado posse há um ano, os socialistas entendem que "a resolução do problema não se faz cedendo, mais uma vez, a demitir ministros". Por outro lado, "é preciso estancar esta corrente de uma vez por todas" e "assumir que quem manda no Governo é o primeiro-ministro".

"O Presidente da República tem de decidir se vai encarar esta situação com normalidade. É certo que existem opiniões divergentes, mas a decisão é do primeiro-ministro", destaca.

Francisco Nascimento | TSF

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