segunda-feira, 29 de maio de 2023

Portugal |Mariana Mortágua sobe a fasquia: BE de novo maior que o Chega

Nova líder bloquista encerra a reunião magna do partido com um discurso inconformado face à ultrapassagem do partido pelo Chega e pela Iniciativa Liberal.

Confirmada este domingo como nova líder do Bloco de Esquerda - com uma maioria interna mais forte do que a de Catarina Martins -, Mariana Mortágua puxou a fasquia para cima, no que toca à ambição eleitoral do partido. Sem falar para já de metas para as próximas eleições legislativas - que só serão em outubro de 2026, se a legislatura for até ao fim -, a nova coordenadora do Bloco de Esquerda definiu porém, muito explicitamente, objetivos tanto para as próximas eleições regionais na Madeira (setembro próximo) como para as próximas eleições europeias (junho de 2024). E em ambos o caso o objetivo é claro: na Madeira, voltar a ter representação parlamentar; e na Europa manter o partido como terceira maior força, não se deixando ultrapassar nem pelo Chega nem pela Iniciativa Liberal.

Discursando no encerramento da XIII Convenção do BE, que decorreu este fim de semana no pavilhão do Casal Vistoso, em Lisboa, Mariana Mortágua disse, sobre a ambição eleitoral do partido, no que toca às próximas eleições regionais: "Será esta força que irá a votos ao longo dos próximos meses e temos dois objetivos. O primeiro é erguer na Madeira a oposição que Miguel Albuquerque teme, a que não se cala perante esses interesses que abraçam o PSD e o PS Madeira. Haverá uma oposição que leva a sério a vida dos madeirenses, a pobreza, a habitação, a saúde. Essa oposição será a força do Roberto Almada, no Parlamento da Madeira a partir de outubro", disse. E quanto às Europeias, acrescentaria: "Chegaremos às eleições europeias com o entusiasmo e a determinação de sermos a terceira força para ultrapassar o Chega e a Iniciativa Liberal", disse.

Nas últimas regionais madeirenses, em 2019, o BE ficou em 6º lugar (atrás do PSD, PS, CDS-PP, HPP e CDU), não conseguindo eleger nenhum deputado (o Chega, nessa altura a nascer, ficou no fundo da tabela). Já nas últimas eleições Europeias (também em 2019), o Bloco ficou em 3º (lugar que quer manter), atrás do PS e do PSD e elegendo dois eurodeputados. Nas últimas Legislativas (janeiro de 2022), o partido deu um enorme tombo eleitoral, passando de 19 deputados para apenas cinco e de 3ª maior força parlamentar para 6ª , ultrapassados pelo Chega, IL e CDU.

Mortágua tentou puxar para cima o ânimo dos militantes do BE. "Aos nossos adversários, para quem a esquerda é sempre um projeto condenado, já nos conhecem mas ainda não viram nada da força que vamos saber criar, reinventar, construir, unir", disse a nova líder bloquista. Centrando no PS o foco dos seus ataques políticos, afirmou: "Já todos sabemos - os eleitores do PS melhor do que ninguém - como em pouco mais de um ano se tornou evidente que a maioria absoluta é um tormento de degradação e instabilidade e uma causa de embaraço nacional." E avisou: "Quem abafar, menorizar ou desvalorizar o pântano criado pela maioria absoluta não está a defender a democracia, mas sim a desresponsabilizar os causadores da fragilização da democracia."

A nova líder aproveitou ainda o seu discurso de consagração para "algumas palavras pessoais" sobre o seu pai (o combatente antifascista Camilo Mortágua) e a sua irmã gémea Joana, como ela também deputada. "Herdámos do nosso pai uma memória de resistência contra a ditadura", disse. "Bem sei que vemos hoje alguns vampiros que querem resgatar o ódio salazarento e que, para isso, tentam enxovalhar essa geração que os derrubou no passado", disse, reiterando o orgulho em pessoas como o seu pai e deixando-lhes um agradecimento "por encontrar a beleza da luta pela liberdade" que permitiu a "democracia e a honra de nascer num país sem tirania nem colonialismo". Quanto à irmã Joana, contou que foi quem a convenceu a aderir ao BE: "A Joana nem sempre tem razão, desta vez tem razão."

A lista encabeçada por Mariana Mortágua para a Mesa Nacional (o "parlamento" do partido) obteve 67 dos 80 lugares, reforçando assim a maioria que já tinha (54 lugares). A lista da oposição interna, liderada pelo ex-deputado Pedro Soares, ficou com os restantes 13 lugares.

João Pedro Henriques | Diário de Notícias | Imagem em Expresso

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