Cristina Figueiredo, editora de política da SIC | Expresso (curto)
Em contagem decrescente para o
fim do verão e o início de um ano eleitoral decisivo, Luís Montenegro já
conseguiu uma pequena mas significativa vitória: pôr o país político a discutir
o seu preâmbulo para uma reforma fiscal que, Marcelo Rebelo de Sousa
dixit e ninguém discorda, “é uma reivindicação dos portugueses de há muito
tempo”. O Presidente da República, que prossegue no Algarve a tendência que já
tinha iniciado na linha de Cascais (trocar as praias frequentadas pelas elites
pelas frequentadas pelo povo), falou ontem à SIC com os pés bem assentes na areia de Monte
Gordo: sem se querer pronunciar em concreto sobre a baixa imediata de impostos
proposta pelo líder do PSD na festa do Pontal (nem sobre as propostas da
Iniciativa Liberal sobre o mesmo assunto, nem sobre as “promessas” do
Governo para o Orçamento de 2024 também a esse respeito), sempre foi dizendo
não ter dúvidas que “mais tarde ou mais cedo, esse conjunto de medidas
terá de estar na discussão e decisão dos governantes”. Como quem diz que é
inevitável ter de baixar impostos no país, numa altura em que se batem todos os
recordes de carga fiscal. Quando? Em que termos? Muito ou pouco? Marcelo não
arrisca: “Depende muito do panorama económico global”, diz, admitindo
porém que este “parece ser um tema para os próximos meses”.
Em discussão, pelo menos, já está, agitando q.b. a costumeira languidez
política de agosto. O vice-presidente do PSD António Leitão Amaro e o líder
parlamentar Joaquim Miranda Sarmento deram uma conferência de imprensa esta
quarta-feira para detalhar o que Luís Montenegro tinha sumariamente anunciado na
segunda e algumas horas depois o secretário-geral adjunto do PS comentava
(desta vez a posteriori, como manda o senso comum) a iniciativa
social-democrata, à boa maneira de Luís Marques Mendes, “numa só palavra”: “É
um logro”, afirmou João Torres, apontando 7 pecados capitais às 5 medidas do PSD. Ora, 7x5 = 35,
exatamente o número de dias que faltam para que a proposta social-democrata
seja discutida na Assembleia da República (a 20 de setembro) - não tem
importância política nenhuma, é só uma curiosidade com o seu quê de cabalístico.
Depois do PS, a Iniciativa Liberal também veio marcar o ponto num debate que,
justiça lhe seja feita, é seu por usucapião (desde que o CDS saiu da cena
parlamentar). Segundo Rui Rocha, o presidente da IL, esta disputa entre PSD e
PS é uma espécie de “liga dos últimos do desagravamento fiscal”, já que
tanto um como outro não propõem senão “intenções que ficam muito aquém do
que seria necessário para revitalizar o país”. Se depois disto tudo se avança
mesmo para a famigerada reforma fiscal que todos desejamos que resulte
efetivamente em mais rendimento disponível para o cidadão que vive do seu
trabalho é o que se vai ver. Talvez o facto de 2024 ser ano de eleições (ainda
que europeias) dê uma providencial ajuda. No Expresso e na Sic Notícias, o tema
foi objeto das reflexões de José Matos Correia e José Miguel Júdice.
OUTRAS NOTÍCIAS, CÁ DENTRO…
Aguarda-se a qualquer momento a nota da Presidência da República a dar conta
do envio do diploma do Governo sobre a Habitação para o Tribunal
Constitucional. Ou não. O prazo para envio para o TC acaba hoje e Marcelo,
ontem, não quis antecipar a decisão que disse já ter tomado sobre um texto que,
desde o início, lhe tem merecido assumidas reservas. Se nada acontecer hoje, o
tabu mantém-se por mais uns dias: se o PR promulga ou veta (as apostas dão
vantagem a este cenário) teremos de esperar até domingo (dia
A investigação Tempestade perfeita (sobre irregularidades nas obras
do Hospital Militar de Belém) resultou em 73 arguidos, mas o ex-secretário de Estado da Defesa, Marco
Capitão Ferreira - que se demitiu exatamente na sequência de notícias sobre o
seu envolvimento no processo -, não é citado neste despacho do Ministério
Público, será objeto de investigação autónoma. O Ministério Público suspeita
que os três principais arguidos - o ex-diretor-geral de recursos de Defesa
Nacional, Alberto Coelho, e os dois antigos quadros do ministério da Defesa,
Paulo Branco e Francisco Marques - terão recebido carros de luxo em troca de contratos.
Nasceu Hugo Guilherme, o primeiro bebé concebido por inseminação
post mortem. É a vitória de Ângela Ferreira que, desde 2020, lutou contra a
legislação portuguesa que a impedia de usar o esperma criopreservado do marido
morto para conceber o filho de ambos. A mudança legislativa aconteceu em
novembro de 2021, Ângela engravidou 13 meses depois.
Os protestos de Sérgio Conceição contra o árbitro no jogo da
Supertaça, há uma semana, que lhe valeram um cartão vermelho, resultaram
em 23 dias de suspensão e uma multa de cerca de 12 mil euros, 2224 dos
quais por se ter recusado, durante mais de 4 minutos, a abandonar o campo de
onde tinha sido expulso.
Começou ontem à tarde a 30ª edição do Festival
Vodafone Paredes de Coura. Descrição e crítica dos primeiros concertos aqui e aqui. A Blitz entrevistou o fundador e atual diretor do
festival, João Carvalho, que também é o convidado do primeiro de cinco
episódios do vídeocast da SIC Notícias Couraíso, moderado pelas jornalistas Graça Costa Pereira e
Sílvia Lima Rato (já há um segundo episódio no ar).
…E LÁ FORA
Dia decisivo para o futuro do Governo de Espanha. Daqui a pouco os deputados
das Cortes, eleitos a 23 de julho, reúnem-se para a primeira sessão e escolhem
a presidência do Congresso. E o PSOE precisa pelo menos da abstenção dos independentistas
catalães do Junts para conseguir eleger a sua candidata, Francina
Armengol. O resultado da votação será, pois, um incontornável indicador do que
pensa fazer o partido de Carles Puigdemont quando for o momento de votar um
Governo de novo presidido por Pedro Sanchez, numa altura em que continua em
cima da mesa a possibilidade de novas eleições gerais no país. O EL Pais avança
que já há um princípio de acordo entre os dois partidos. Há que
aguardar a votação para saber se (e o que) se confirma.
Ainda Espanha: um
gigantesco incêndio em Tenerife (Canárias) obrigou à evacuação de cinco aldeias e o governador regional
admite que a situação está fora de controlo.
Na Turquia, os termómetros marcaram 49,5 graus Celsius, valores nunca antes registados.
No Irão, a um mês do primeiro aniversário da morte de Mahsa Amini, de 22 anos, as mulheres preparam-se para nova vaga de protestos contra o regime dos ayatollahs e a proibição de saírem à rua sem o hijab na cabeça.
O Manchester City venceu o Sevilha (nos pénaltis) e venceu a Supertaça Europeia (pela primeira vez).
PODCASTS A NÃO PERDER (sugestões
da equipa multimédia)
O escritor, crítico literário e vencedor de um prémio Saramago, Bruno Vieira
Amaral, é o novo convidado do podcast Geração 70. Recorda a infância, as amarguras e desilusões
da vida e reflete sobre o país “centrado”, sem uma “verdadeira força de
comunidade”, sem uma classe média “forte”, fracassado e “dependente do Estado”.
Ouça o mais recente episódio do podcast de Bernardo Ferrão
O Presidente da República diz que não comenta rentrées, mas a Comissão Política assume: existe para comentar e este
Verão nem sequer mete férias. A Festa do Pontal marcou, como é habitual, a
rentrée política e lançou o debate sobre a descida de impostos. E teve Moedas
como estrela. A festa do Pontal faz, esta semana, a festa dos comissários
Eunice Lourenço, Vítor Matos, João Vieira Pereira e João Diogo Correia
Henrique Monteiro e Lourenço Pereira Coutinho convidaram a jornalista e
escritora Clara Ferreira Alves para conversar e fazer uma retrospectiva sobre o
pessimismo português. O que diziam, no passado, grandes personagens, como Eça
de Queiroz, sobre o estado do país? Mais uma ponte entre passado e presente,
neste episódio do podcast A História Repete-se
O QUE ANDO A LER (E A VER)
Há uns dias, por dever de ofício (a preparar mais um episódio do podcast comemorativo dos 50 anos do Expresso
Liberdade para Pensar, cuja moderação partilho com a Ângela Silva e o Paulo
Baldaia), tive de ler uns textos sobre Michael Jackson e em vários dei com a
referência a Quincy Jones (responsável pela produção do mega sucesso
Thriller, entre outros êxitos da colaboração entre ambos). Por coincidência,
acabara de sair a versão portuguesa do livro “12 notas sobre a vida e a
criatividade” (Penguin Random House), que este nome maior da música
norte-americana escreveu no ano passado, e não resisti a lê-lo. Quincy Jones
tem, pasme-se, 90 anos (completados a 14 de março) e recusa deixar-se vencer
pela idade - “só se vive uma vez, por isso continuem a continuar” é o
seu mantra. Com uma carreira com mais de sete décadas, continua a trabalhar e,
embora tenha escrito uma autobiografia em 2001, entendeu que devia sistematizar
(em tantas notas quantas as da escala musical) as conclusões que a sua
longuíssima experiência já lhe permitiu retirar da vida. É um livro
despretensioso, às vezes até um bocadinho naif, que os mais distraídos
poderão confundir com um manual de auto ajuda. Nada disso, ou melhor, muito
mais do que isso. Se gosta de música, se lhe interessa perceber como nasceram
alguns dos nomes (a começar no autor) e alguns dos êxitos musicais mais
sonantes do século XX, e se valoriza o testemunho de quem, apesar de ter uma
idade em que se poderia dar ao luxo de ignorar o futuro, teima em olhá-lo nos
olhos, não dará o tempo (de resto breve) de leitura por mal empregue. E se o
personagem o cativar, siga para Quincy, o documentário de cerca de 2 horas
(2018), em streaming na Netflix.
O Curto fica por aqui. Notas (ilimitadas) sobre a vida e a criatividade do
mundo a toda a hora nos sites do Expresso e da SIC Notícias. Tenha um dia bom.
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