Artur Queiroz*, Luanda
Os nacionais de Israel são israelitas ou à brasileira, israelenses. O país é habitado por judeus, muçulmanos, cristãos, seguidores de outras crenças religiosas, agnósticos ou ateus. Sob o ponto de vista étnico vivem em Israel judeus, árabes, eslavos e outros grupos minoritários. Convém não confundir nacionalidade com etnia ou religião. Essa confusão, propositada, tem muito de racismo. E é racismo que justifica o regime de apartheid imposto pelos nazis de Telavive aos palestinos na Cisjordânia e na Faixa de Gaza.
Os judeus (sob o ponto de vista étnico ou religioso) nada têm a ver com o governo nazi de Israel. Evitem confusões. Holocausto é uma palavre hebraica. O Holocausto nos campos de extermínio da Alemanha e Polónia vitimou seguidores do judaísmo mas também de outras religiões. Etnicamente vitimou judeus (a grande maioria) mas também seres humanos de outras etnias, sobretudo minorias. O Holocausto foi um crime contra a Humanidade e não apenas contra judeus. As vítimas do Holocausto eram humanas. Nada de apropriações abusivas.
O governo israelita diz que só tem um objectivo: Ganhar a guerra. Nada de paz. Os líderes da União Europeia estão de acordo e repetem até à exaustão: Matem os palestinos até onde for preciso! Biden está a mandar tropas e armas para a região. Ajuda ao Holocausto. Sim, em nome da guerra contra o HAMAS a Faixa de Gaza é um imenso campo de concentração e os mais de dois milhões de habitantes estão a ser mortos à bomba, à sede e à fome. Ontem foi dizimada a família de um jornalista da Al Jazeera. Ver um repórter com um bebé morto nos braços não comove os serventes que o ocidente alargado meteu nos Media. Ao fim de quase 60 anos de profissão tenho vergonha de ser jornalista.
“Todos os países ocidentais
apoiam incondicionalmente os bombardeamentos à Faixa de Gaza”, denunciou o
Presidente Erdogan da Turquia. Lá onde vive uma população oprimida há 17 anos!
Não entra nem sai nada sem autorização dos ocupantes. Estamos num tempo
As bombas de Gaza foram forrnecidas pelos EUA. O apoio ao Holocausto na Palestina é de todos os que até hoje foram visitar Telavive. O HAMAS anunciou que os bombardeamentos a Gaza já mataram dezenas de reféns. Não há muito tempo, o governo de Israel trocou um soldado israelita por centenas de prisioneiros palestinos. Estes reféns não têm valor nenhum para ninguém no ocidente alargado. A ordem agora é matar, matar, matar. Jornalistas já morreram duas dezenas. Crianças, mais de 3.000. Todos terroristas menos os leprosos morais que usurpam a profissão de jornalista, para amargurarem os meus últimos anos de vida.
Isto vai acabar mal. Os palestinos decidiram que já só têm a perder a sua condição de prisioneiros. Perdidos por cem perdidos por mil. Vão à luta. Mais inocentes morrerão. O governo de Israel está a fazer a guerra por procuração dos EUA e da União Europeia. Ainda hoje o Conselho Europeu opôs-se a um cessar-fogo. Sholtz, o nazi de Berlim, até manifestou a sua confiança no exército israelita.
Cada um luta com as suas armas. Sabiam que Agostinho Neto proibiu qualquer acção de guerrilha urbana porque podia fazer vítimas civis? Apenas aprovava acções de defesa das populações nas cidades e vilas. Condenou duramente os camaradas que puseram uma bomba no Jornal de Angola, quando Ruy Correia de Freitas vendeu a empresa à FNLA. Cortou relações com todos os que participaram. Só muitos meses depois lhes perdoou. E nunca esteve em risco a vida de civis.
Rebelo Carvalheira, editor de Desporto, era o último a sair do jornal. Deixou a porta encostada para a execução da operação. Só quando a cervejaria Biker (mesmo em frente) fechou, já de madrugada, a bomba foi colocada no vão da escada. Ninguém nas redondezas. Foi um tremendo estrondo e pode ser que civis tenham ficado assustados mas ninguém correu perigo de vida. Mesmo assim Agostinho Neto ficou furioso e cortou relações. Meses mais tarde obrigou cada um a prometer que nunca mais recorria a essa forma de luta.
Na Palestrina não há um Agostinho Neto. Pela fé de quem sou vos digo que isto vai acabar muito mal. Um dia destes nem as catedrais ou os cemitérios são lugares seguros. Se é isto que querem, vão ter em quantidades industriais. Entre viver numa imensa prisão a céu aberto e morrer lutando pela dignidade e a liberdade, a escolha é muito fácil. Os palestinos são gente. São seres humanos. Não sejam racistas senhores governantes norte-americanos e europeus. E mandem o embaixador de Israel na ONU para Kiev.
* Jornalista
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