Artur Queiroz*, Luanda
O realizador Billy Wilder lançou em 1974, ano da Liberdade, o filme A Primeira Página (The Front Page) que questiona de uma forma magistral o Jornalismo sem princípios nem valores. O cinema também se debruçou sobre um magnata da imprensa no filme de Orson Welles, Citizen Kane (O Mundo a seus Pés), estreado em 1941 e que ganhou uma segunda vida em 1956. Também nesta obra são tratados valores que marcam o ponto de conflito entre a Liberdade de Imprensa e o Direito à Inviolabilidade Pessoal. Os jovens profissionais deviam ver muitas vezes estas obras cinematográficas.
Nos anos
A voz humana é o mais belo espectáculo do mundo. A Rádio Angolana tinha as melhores vozes, desde que começaram as emissões regulares nos anos 40. Vozes femininas espectaculares, únicas e inesquecíveis: Natália Bispo, Maria Cleofé, Sara Chaves, Minah Jardim, Cremilde Figueiredo, Ruth Soares, Alice Cruz, Maria Manuela, Maria Dinah, Gioconda Ferreira e Maria Lucília (Rádio Clube do Uíge). A última é a primeira: Concha de Mascarenhas.
Vozes masculinas dos supremos espectáculos radiofónicos angolanos: Humberto Mergulhão, Santos e Sousa, Sansão Coelho, Alexandre Caratão, Artur Peres, Francisco Simons, Brazão Gil, Rui de Carvalho, Mesquita Lemos, Sebastião Coelho, Carlos Brandão Lucas e Manuel Berenguel. O último é o primeiro: Norberto de Castro. Alice Cruz, Ruth Soares, Artur Peres e Luís Montês foram vozes e rostos de excelentes espectáculos publicitários na Rádio.
Antes que a minha memória se
apague, deixo aqui os nomes dos pioneiros
O audiovisual revolucionou o mundo mediático. Quem? Vejam e oiçam. O quê? Oiçam e vejam. Onde? O olho das câmaras. Quando? Em tempo real. Os minutos e segundos tornaram-se obsoletos. Como aconteceu e porque aconteceu eles escondem ou manipulam.
Assim o sensacionalismo e a manipulação devoraram a ética e a deontologia. Assim os Jornalistas foram substituídos por carregadoras e carregadores de câmaras e microfones. Acabou o ofício e a oficina. Até as vozes foram engolidas. O visual dispensou o mais belo espectáculo do mundo e hoje nove de cada dez falantes nas rádios e canais de televisão têm graves defeitos de dicção. Não falam, grunhem. Comem palavras. Embrulham sons nos dentes e céus da boca. Dopinhas de mada (sopinhas de massa). Um horror!As televisões são hoje o intestino grosso da democracia representativa e economia de mercado. Fossas televisivas. As Rádios são chinfrim insuportável. O negócio é vender a porcaria dejectada pelos donos. O espectáculo é a desumanização. Espreitar para dentro dos seres humanos pelo buraco da fechadura. Desde que distraia, qualquer primeira página serve. Desde que confunda, manipule e engane toda a mensagem é perfeita. A sociedade do espectáculo está aí, cada vez mais horrível. A voz humana foi reduzida a sim patrão. Obrigado patrão. Seja feita a vossa vontade patrão.
Este panorama mediático deu tragédias como a que vivemos na Ucrânia. Venderam aos eleitores um palhaço, alugado ao episódio por um autocrata. O pobre diabo chegou a presidente da república. Destruiu o país e está a cumprir aas ordens dos donos até ao último ucraniano. Em Portugal vejam o que deu. Um sujeito com graves defeitos de dicção foi vendido pelas fossas televisivas. Deu aberrações como o partido Chega. A queda de um governo suportado por maioria absoluta na Assembleia da República. O regresso do fascismo no seu pior. Portas escancaradas ao racismo e xenofobia.
E em Angola? O audiovisual tem pouca influência. Os jornais ainda menos. Mas são suficientemente influentes para venderem a “reconciliação nacional” a quem odeia a Nação e cospe na concórdia. Em nome da reconciliação os sicários da UNITA sabotam as vias férreas e as torres de alta tensão. O ministro de Estado General Furtado pôs o dedo na ferida: Isto é terrorismo. Mas também é terrorismo mobilizar marginais para promover a instabilidade política, económica e social. Assim o Liberty Ciyaka engorda como um porco.
A reconciliação nacional dos que assaltaram o poder em 2017 é homenagear um golpista, responsável por centenas de mortes, Eduardo Ernesto Gomes (Bakalof). Os donos fizeram dele comissário político do EMG das FAPLA sem ter legitimidade para isso. Na época, esse cargo só podia ser desempenhado por um Comandante de Coluna que ele não era e nunca foi. Uma vez no cargo mobilizou os comissários políticos das unidades para o golpe de 27 de Maio de 1977. Foi pessoalmente ao Ambriz mobilizar a unidade da IX Brigada para avançar sobre Luanda no dia do golpe.
Bakalof fez no tribunal marcial, instalado no Ministério da Defesa, uma declaração escrita descrevendo o seu papel na direcção política e militar do golpe. A sua traição quase destruiu Angola. Causou centenas de mortes. Foi recompensado com o posto de General de Exército! Um abuso inqualificável protagonizado por João Lourenço. Para abandalhar os chefes máximos das Forças Armadas Angolanas que por inerência do cargo eram guindados ao posto de Generais de Exército. Nomes: João de Matos, Armando da Cruz Neto, Nelumba (Sanjar), Francisco Furtado, Geraldo Sachipengo (Nunda) e Egídio Sousa Santos.
Uma agravante. Bakalof era comandante de esquadrão na guerrilha (I Região). No 27 de Maio de 1977 não existiam generais. Depois nas FAPLA só existiam dois Coronéis Generais, João Luís Neto (Xiyetu) e Henrique Teles Carreira ( Iko). Agora o golpista foi directamente para a galeria dos Heróis que comandaram a Luta Armada de Libertação Nacional e a Guerra pela Soberania Nacional e a Integridade Territorial. Os seus companheiros golpistas hoje no poder chamam-lhe vítima! A fossa televisiva angolana e os monturos de papel sujo escondem estes factos. Porque o patrão mandou. Quer ficar bem na fotografia. Mas está cada vez mais sujo.
Nunca frequentei religiões porque não reconheço deuses, só mulheres e homens. Mas sou amigo do cónego Apolónio Graciano. Tenho por ele grande consideração e respeito. É um angolano excepcional. No púlpito de uma igreja manifestou a sua indignação por terem ignorado o Presidente José Eduardo dos Santos, na cerimónia de inauguração do Aeroporto Internacional Dr. António Agostinho Neto. Partilho a sua indignação. Mas sou mais compreensivo do que o sacerdote que tanto honra a Igreja. Perdoa-lhes, meu amigo. Eles não sabem o que fazem. Cada matumbo mostra as habilidades que pode no galho onde o põem. Matumbos e cágados só ficam no alto das árvores se os puserem lá.
Um tal Carlos Candanda, sicário da UNITA, escreveu hoje isto:
“O Presidente Jonas Malheiro Savimbi, na Cidade do Silva Porto (Kuito), na iminência da invasão russo-cubana, tinha-me dado um sinal evidente da sua ideia de destacar-me na Missão Diplomática. Aliás, foi na altura em que os EUA decretou a Emenda Clark que proibiu a ajuda à UNITA, deixando o terreno aberto para a invasão massiva das tropas cubanas, apoiadas pela União Soviética e pelo Pacto da Varsóvia. Naquela altura, a atenção do Presidente Savimbi estava virada para desenvolver uma Estratégia da Revogação da Emenda Clark”.
Reconciliação impossível com um bandoleiro que escreve isto. Um dirigente político que foi deputado na Assembleia Nacional não pode nunca escrever que em Angola houve “uma invasão massiva das tropas cubanas, apoiadas pela União Soviética e pelo Pacto da Varsóvia”. Entre eles e a democracia não há qualquer parentesco. Qualquer interesse. Quem insulta a Párria Angolana e os seus Heróis coloca-se numa posição inconciliável com o Povo Angolano.
* Jornalista
1 comentário:
Boa tarde: a configuração do Página Global não está adaptada para celulares. Tenho dificuldades na visualização. Agradeço a atenção.
Enviar um comentário