sábado, 26 de agosto de 2023

O beijo Maldito e Contas Furadas – Artur Queiroz

Presidente da Federação Espanhola de Futebol beijou uma campeã do mundo nos lábios durante um segundo. Está lixado.

Artur Queiroz*, Luanda

Eu vi um porco andar de bicicleta mas não fiquei admirado. Mais tarde vi uma bicicleta andar de porco. Depois de me certificar que não estava sob o efeito do tinto achei isso normal. Até que um dia vi um belfo, daqueles que enrolam a língua e põem os lábios em bico, falando na televisão. Estou com uma bebedeira das antigas? Não. Era mesmo verdade. Fiquei admirado porque no audiovisual são proibidos os defeitos de dicção. Mas quando vi o belfo chegar a presidente, a admiração atingiu o máximo. Pensava que mais nada me surpreendia e eis que o belfo apareceu em Kiev falando ucraniano com sotaque de vaca espanhola. Rendo-me!

Nunca fui medroso mas ando verdadeiramente assustado. Meti o rabo entre as pernas e tenho medo de sair da cubata. Temo chocar de frente com uma desvairada que me abraça, beija na boca e depois chama-me Tarzan. Conheço várias assim. E gosto desse tratamento ainda que já há muitos anos não seja o rei das selva. Vai daí vem o Pedro Sanchez e seus ministros prontos a condenarem-me a prisão perpétua. Porque tenho um passado complicado. Um dia fui com o Zeca Afonso à Galiza. Enquanto ele actuava eu bebia vinho ribeiro e dava bicos às rapazas. 

Espanha nunca mais. O presidente da Federação Espanhola de Futebol beijou uma campeã do mundo nos lábios durante um segundo. Está lixado. A FIFA abriu um processo por causa do toque de lábios contra lábios. A campeã do mundo, Jenny Hermoso, disse que “no passa nada” mas agora também está ofendida com o contacto labial. Ai se me apanham! Além de bicos ousei acostar-me com algumas meninas divertidas. Hoje nem com uma grua. Mas estes crimes não prescrevem e eu sinto-me em perigo. Contava com tudo menos morrer no garrote. Meninas beijos na boca ou no corpo todo, nunca mais!

O Iraque de Saddam Hussein era o país mais progressista e desenvolvido do Médio Oriente. Estive lá em serviço várias vezes, inclusive na primeira Guerra do Golfo. Sendo uma república socialista, havia liberdade de culto. Igualdade de direitos. Nunca me esqueço que uma mulher era a reitora da Universidade de Bagdade. No parlamento estavam deputadas! Tarek Aziz, ministro das relações exteriores e depois primeiro-ministro, era católico. Os templos da Igreja Católica estavam abertos ao culto, tal como as mesquitas. 

O estado terrorista mais perigoso do mundo foi lá impor a democracia. As tropas invasoras mataram um milhão de civis, causaram mais de dois milhões de refugiados ou deslocados, destruíram tudo, roubaram os fundos soberanos e roubam o petróleo à vontade. O regime democrático imposto pelos EUA ao Iraque acaba de aprovar uma lei que condena a homossexualidade com prisão perpétua ou pena capital. 

Angola | DIA 23 DE AGOSTO DE 1981 - Invasores Ocuparam o Cunene – Artur Queiroz

Artur Queiroz*, Luanda

Agostinho Neto faleceu em Setembro de 1979. Os últimos meses do ano foram de transferência de poderes para o novo líder, José Eduardo dos Santos. Ao mesmo tempo as tropas sul-africanas tomavam posições no Sul e Sudeste, sob o biombo da UNITA. Os racistas de Pretória também lançaram no teatro de operações o Batalhão Búfalo, constituído por antigos militares da FNLA e do Esquadrão Chipenda. No ano de 1980 foi acelerada a transformação das FAPLA em forças armadas nacionais. No dia 23 de Agosto de 1981, faz hoje 42 anos (uma vida!) as tropas sul-africanas lançaram a “Operação Protea”. Os Media de hoje ignoraram essa página imortal da História Contemporânea de Angola.

A 23 de Agosto de 1981 os racistas de Pretória atacaram as posições das FAPLA e o PLAN (braço armado da SWAPO, movimento de libertação da Namíbia), trazendo como biombo os sicários da UNITA, mais uma vez no papel de matadores do Povo Angolano. Os sul-africanos queriam entregar a administração da província do Cunene ao Galo Negro, criando assim o primeiro “bantustão” em Angola, logo que as forças governamentais e da SWAPO fossem expulsas. Este era um objectivo estratégico dos sul-africanos nas “operações de fronteira” contra o território angolano.

Os peritos sul-africanos comparam a “Operação Protea”, realizada na província do Cunene, à Batalha do Cuito Cuanavale, no Triângulo do Tumpo e foi repartida pelas operações Moduler, Hooper e Packer. A “Operação Protea” não foi fulminante. Durou de Agosto de 1981 a Março de 1988, durante sete dolorosos anos, e o seu objectivo consistiu em destruir as linhas de abastecimento logístico das forças militares da SWAPO no teatro central do sul de Angola. A SWAPO e, se necessário, as FAPLA, deveriam ser expulsas da província do Cunene, a fim de se garantir a segurança da longa linha de fronteira sul-africana.

No Cunene, as SADF utilizaram unidades especiais e armas modernas contra a SWAPO. A área do Cunene ocupada pelos invasores de 1981 a 1988 foi calculada em 34.320 quilómetros quadrados, numa profundidade média de 88 quilómetros entre a fronteira sul e o Môngua. 

A Pátria dos Filhos da Kapopa – Artur Queiroz

Artur Queiroz*, Luanda

Volta e meia acusam-me de ser anti-português. Isto porque não alinho com a Associação de Amizade Chega ao Topo do Nazismo-Fascismo, Comités do Socialismo-Fascismo, Associação dos Beneficiários da Social Democracia-Fascismo ou Paróquias do Personalismo Cristão-Fascismo. Conheço razoavelmente o mundo que fala Português. Quem mais odeia a Língua Portuguesa são as elites do bom povo português. Um ódio de morte. Nos Media chegam ao extremo do assassinato à linha ou em directo. É contra isso que sou.

Um dia fui ao Recife fazer uma reportagem sobre Manuel Bandeira e a escultura de José Rodrigues (Zeca Bailundo) na grande avenida madrinha do mar. Recife da negra Irene. Recife pátria estremecida de Manuel Bandeira, o que escreveu: “Assim eu quereria meu último poema/Que fosse terno dizendo as coisas mais simples e menos intencionais/Que fosse ardente como um soluço sem lágrimas/Que tivesse a beleza das flores quase sem perfume/A pureza da chama em que se consomem os diamantes mais límpidos/A paixão dos suicidas que se matam sem explicação”. A Língua Portuguesa é tão amável. Tão amante dos poetas!

Em Portugal fui agraciado com a amizade de Eduardo Guerra Carneiro, Manuel António Pina ou Luís Veiga Leitão. Jornalismo casa com poesia, sabiam? Já perdi os três mas a vida continua e os poemas estão aqui, mesmo à mão.

O Luís Veiga Leitão foi preso pelos fascistas. Além de grande poeta e contista também desenhava esplendidamente. Decidiu desenhar uma bicicleta na parede da cela e depois escreveu estas palavras ao velocípede: “Aqui,/Onde o dia é mal nascido,/Jamais me cansou/O rumo que deixou/O lápis proibido…/Bem-haja a mão que te criou!/Olhos montados no selim/Pedalei, atravessei/E viajei/Para além de mim”. Ninguém prende um poeta! Não há muros intransponíveis para a poesia. Anti-português eu?

Portugal | O PROTAGONISTA (narcisista)

Henrique Monteiro | HenriCartoon

Portugal | POLÍTICAS QUE METEM MEDO

Carvalho da Silva* | Jornal de Notícias | opinião

Há áreas da nossa vida em sociedade em que se conjugam insuficiências da ação governativa e do Estado (que tem muitas instituições e atores para além do Governo), com práticas privadas desrespeitadoras de princípios e valores da democracia. É assim na saúde e na habitação.

Mete medo sabermos que, nas praças de jorna que contratam médicos à tarefa, é atribuído um valor remuneratório mais elevado às horas trabalhadas por aqueles que mais altas passam aos doentes. A ganância e a impunidade dos interesses privados sobrepõem-se ao direito à vida. Uma engrenagem perversa, com cada vez mais tentáculos, vem sugando e atrofiando o Serviço Nacional de Saúde (SNS). E todos os governantes sabem que as políticas se desenham e efetivam por ação ou por inação.

Será adequado adotar-se uma estratégia que articule a presença e a ação de todos os agentes que estão hoje neste setor, como vem sugerindo o presidente da República (PR)?

A sobrevalorização do consenso e a menorização do confronto político inerente à democracia facilitam a ideia de que essa é a solução. Mas, a bondade da proposta esbarra num terreno armadilhado. É preciso separar, previamente, o trigo do joio: i) afastar agentes parasitários e não tolerar o desrespeito da saúde como direito universal; ii) desarmar pressões do setor privado sobre os recursos do SNS, pois o Estado colocado em situação de necessidade perde força; iii) ganhar os profissionais pela sua valorização e pelo seu envolvimento na organização do trabalho, o único caminho que poderá possibilitar desobstruções no acesso dos cidadãos ao SNS; iv) trazer para a sociedade uma informação realista sobre os fatores que obrigam a uma evolução contínua do SNS, designadamente, os provenientes do aumento da esperança de vida e dos avanços do conhecimento.

Os custos atuais da habitação são insuportáveis para grande parte das famílias portuguesas e, para a esmagadora maioria dos jovens, bloqueadoras da organização das suas vidas. Hoje, só conseguem fugir deste drama os filhos de “famílias com posses”: por exemplo, apenas com os seus salários, um casal de jovens médicos não consegue pagar os custos de uma habitação T2 nos grandes meios urbanos. O Governo e a maioria parlamentar que o apoia podiam dar passos para a resolução do problema, mas optaram por aprovar um conjunto de medidas, em muitos casos tímidas, noutros contraditórias, cenário ideal para os interesses instalados (e toda a Direita política) surgirem como vítimas e se desresponsabilizarem das soluções.

O PR e vários comentadores dizem que o problema é a “falta de consenso no pacote da habitação”. Será? Haverá soluções mantendo-se as atuais políticas no turismo e na construção e a espiral especulativa a elas associada? Não! Existe proposta alternativa vinda da Direita, para além das lengalengas da “ação do mercado”? Não! A solução da “Lei Cristas” para o arrendamento, trabalhada com os grandes interesses instalados no setor, trouxe incremento do arrendamento? Não! É possível os jovens terem acesso a habitação sem uma radical melhoria dos seus salários? Não!

Montenegro não apresenta uma ideia, limita-se a reclamar a demissão do Governo: porque o PR lhe retira espaço de ação política, ou porque os dois têm a mesma leitura social e política sobre a saúde?

Graves problemas como os destes setores, ou o “combate à pobreza” e a dignificação do trabalho, não se resolvem com pregação de consensos e promoção de afetos no pressuposto que “todos queremos o melhor para os cidadãos”. Só tolhem a luta destes.

*Investigador e professor universitário

Um Herói do Mar nas Trincheiras -- Artur Queiroz

O guarda-costas português e o PR Marcelo na visita-propaganda à trincheira ucraniana

Artur Queiroz*, Luanda

Um míssil russo atingiu o monumental teatro, no centro da cidade ucraniana de Chernigov. A propaganda dos que fazem a guerra contra a Federação Russa até ao último ucraniano logo informou que morreram civis e entre estes, uma criança. No tempo em que os animais não falavam nas televisões e existiam jornalistas, a censura era uma coisa abominável e ninguém aceitava. Censura jamais! Em Fevereiro de 2022 o ocidente alargado decretou a censura aos Media russos e a tudo o que tenha a ver com o país. Os jornalistas apresentaram-se no distrito de recrutamento para serem mobilizados como censores. O jornalismo já estava moribundo. Nesse momento morreu mesmo de morte matada.

A Federação Russa anunciou em Fevereiro de 2022 que lançou uma “operação especial” para desarmar e desnazificar a Ucrânia, país cujo governo desencadeou uma limpeza étnica no Leste, região habitada por russos. Mandar armas para a Ucrânia é apostar tudo na guerra. Porque o Presidente Putin já disse e repetiu que a operação só acaba “quando os objectivos forem cumpridos”. Desarmar é um deles. Se mandam armas de pequeno e largo alcance, de baixo ou alto extermínio, a guerra continua. 

A questão da censura está tratada. A questão da limpeza étnica no Leste da Ucrânia pelos nazis de Kiev, desde 2014, também está resolvida. Falta arrumar a questão com esta pergunta: Quem vai ganhar a guerra, os que querem desarmar ou os que armam a Ucrânia?

O Banco Mundial acaba de divulgar que a economia russa já ultrapassou a alemã. Alemanha é o motor da União Europeia, gripou e o dinheiro voou. As potências ocidentais pensavam que impondo ilegalmente sanções à Federação Russa arrumavam a questão. Pelos vistos funcionou ao contrário. 

O estado terrorista mais perigoso do mundo tem o maior exército do mundo, 1,39 milhões de militares. O orçamento anual para manter a máquina de guerra é de 760 mil milhões de dólares. A segunda força militar mais poderosa do mundo é da Federação Russa (830 mil militares) mas tem uma Marinha mais poderosa do que os EUA. E o maior arsenal nuclear do mundo. De longe! 

O legado colonial da França e os interesses de segurança dos EUA cruzam-se no Níger

– Russos, nos portões, aguardam

M.K. Bhadrakumar [*]

O golpe militar no Níger já tem três semanas. Os golpistas estão consolidando seu domínio, tendo ganhado vantagem no jogo de sombras com a Comunidade Econômica dos Estados da África Ocidental [CEDEAO] apoiada por ex-potências coloniais que devastam aquele estado desesperadamente pobre da África Ocidental, rico em riquezas minerais.

As perspectivas de reintegração do presidente pró-Ocidente do Níger, Mohamed Bazoum, parecem sombrias. Ele é um árabe étnico com uma pequena base de poder em um país predominantemente africano, vindo da tribo migrante Ouled Slimane, que tem um historial de ser a quinta coluna da França na região do Sahel.

A CEDEAO perdeu a iniciativa quando os líderes do golpe desafiaram o prazo de 6 de agosto para libertar Bazoum e restabelecê-lo sob pena de ação militar.

O golpe no Níger também foi um revés humilhante para a França e um drama terrível para o presidente Emmanuel Macron pessoalmente, pois ele perdeu seu maior apoiador na África para as políticas neocoloniais da França. Macron incitou a CEDEAO a invadir o Níger e resgatar Bazoum. Ele interpretou mal a onda por trás do golpe e apostou que as forças armadas do Níger se fragmentariam. Sua reação exagerada explodiu quando os líderes do golpe revogaram durante a noite os pactos militares com a França. E a animosidade latente contra a França aumentou, forçando Macron a ceder a liderança a Washington.

Não apenas a França, mas as potências ocidentais em geral não entendem que o povo africano tem uma mentalidade altamente politizada, graças aos violentos e ferozes movimentos de libertação nacional. Não é de surpreender que a África tenha se adaptado rapidamente ao espaço que se abre para eles no cenário multipolar para negociar com os ex-mestres coloniais.

Na segunda-feira passada, o general Abdourahmane Tchiani, que é o chefe titular do golpe, recusou-se a receber a vice-secretária de Estado interina dos EUA, Victoria Nuland. Nuland e outras autoridades americanas pediram para ver Bazoum pessoalmente, mas o pedido também foi recusado. Em vez disso, Nuland teve que negociar com o comandante das Forças de Operações Especiais do Níger e um dos líderes do golpe, Brig. Gen. Moussa Salaou Barmou, que atua como chefe de defesa.

Curiosamente, Barmou frequentou a Universidade de Defesa Nacional dos Estados Unidos e foi treinado em Fort Benning, na Geórgia. Obviamente, a junta esperava se envolver com Washington. O Intercept já revelou que Barmou não foi o único general nigerino treinado pelos EUA envolvido no golpe.

A TENDÊNCIA IMANENTE DO CAPITALISMO

Resistir.info

Ocidente empurrando todos para a III Guerra Mundial, ignorando os sinais de Moscovo

O Vice-Chefe do Conselho de Segurança da Federação Russa comentou a tese de que a dura reação da Rússia à agressão georgiana em 2008 deveria ter sido um sinal claro para os Estados Unidos e os países da OTAN sobre a necessidade de atender às preocupações de Moscou

# Traduzido em português do Brasil

MOSCOU, 26 de agosto. /TASS/. Os opositores da Rússia no Ocidente estão a empurrar todos para a Terceira Guerra Mundial, ignorando os sinais de Moscovo, disse o vice-presidente do Conselho de Segurança Russo, Dmitry Medvedev, numa entrevista à TASS e à RT.

"Falando francamente, teria sido definitivamente melhor se eles os tivessem ouvido [os sinais]. Em qualquer caso, o mundo não teria de enfrentar a ameaça da Terceira Guerra Mundial. Na verdade, é aqui que os nossos oponentes estão a pressionar activamente todos ", disse ele, comentando a ideia de que a resposta dura da Rússia à agressão da Geórgia em 2008 deveria ter servido como um forte sinal aos EUA e aos seus aliados da NATO sobre a necessidade de ouvirem as preocupações de Moscovo.

Imagem: Vice-presidente do Conselho de Segurança da Federação Russa, Dmitry Medvedev © Valery Sharifulin/TASS

Ler/Ver em Tass:

Relações Rússia-EUA foram maispragmáticas sob Obama, diz Medvedev

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Caças da coalizão dos EUA voam muito perto de avião russo na Síria, dizem altos funcionários

Especialista alemão vê a expansão do BRICS como um sucesso estratégico para Rússia e China

SERÁ A ALEMANHA MAIS UMA VEZ O “HOMEM DOENTE DA EUROPA”?

SOUTHFRONT.ORG BLOQUEADO PELO SUPERVISOR GLOBAL DE INTERNET CONTROLADO PELOS EUA - MUDÁMOS PARA SOUTFRONT.PRESS

Na noite de 18 de agosto, o “registro internacional de nomes de domínio” bloqueou o site southfront.org sem qualquer aviso ou explicação. Apesar de esta organização ser formalmente independente desde 1998, na verdade é controlada pelo Departamento de Comércio dos EUA. O que fizeram foi uma acção sem precedentes na história da moderna sociedade da informação. Este é o modo americano de democracia, liberdade de expressão e Estado de direito.

Uriel Araújo* | Soutfront.press | # Traduzido em português do Brasil 

Em 1999, o jornal Economist descreveu a Alemanha como “o homem doente da Europa” – nos anos seguintes, contudo, a economia alemã prosperou como uma potência exportadora. Na década de 2010, após o chamado Jobwunder (milagre do emprego), os alemães sobreviveram praticamente desimpedidos pela crise financeira global de 2007-2009. Na altura, houve um boom nos mercados emergentes e os produtos manufaturados eram muito procurados na China. A economia alemã cresceu 24% nesse período – em comparação, os números da França e da Grã-Bretanha foram de 18 e 22%, respetivamente.

De acordo com o Economist, os modelos económicos e políticos alemães foram largamente percebidos como sólidos e estáveis, em contraste com a persuasão do chamado “populismo do Trump-Brexit”. Hoje, porém, o economista  sugere A Alemanha poderá voltar a ser “o homem doente da Europa”, uma vez que o país viveu o seu terceiro trimestre de contracção e poderá vir a ser a única grande economia a encolher em 2023. Alternative für Deutschland (AfD), muitas vezes descrita como um país distante O partido de direita ou populista está em ascensão e o modelo económico do país é cada vez mais visto como incapaz de gerar crescimento. O FMI prevê que será a única economia do G7 a contrair-se em 2023, enquanto o índice industrial dos gestores de compras está agora no seu nível mais baixo desde o início da pandemia em 2020. Os preços do gás são hoje cerca de duas vezes mais elevados do que eram antes Covid. Como tudo isso aconteceu?

Por um lado, os esforços políticos ocidentais liderados pelos EUA no sentido de “dissociar” ou, se preferir, “ diminuir o risco ” dos laços com Pequim estão a prejudicar Berlim em algumas áreas sensíveis e esta é uma das coisas que têm impulsionado o interesse recente da Alemanha em “ autonomia estratégica ”. A  guerra de subsídios americana contra a Europa  não ajuda muito.

As taxas de juro, que aumentaram muito na Europa desde a pandemia, desempenham certamente um papel: prejudicam os investimentos das empresas alemãs e o setor da construção. O aumento das taxas de juro foi uma resposta à inflação e esta última, claro, tem muito a ver com o conflito russo-ucraniano em curso, tal como o aumento dos preços da energia. Depois, há o Nord Stream – ou melhor, a sua ausência atual.

As autoridades alemãs que investigam o ataque de 26 de setembro aos oleodutos Nord Stream afirmaram, no mês passado, que “foram encontrados vestígios de explosivos submarinos”  num iate alugado por uma empresa de propriedade ucraniana . O Washington Post informou em junho que o presidente dos EUA, Joe Biden, “ sabia do plano ucraniano para atacar o Nord Stream ” três meses antes da explosão do oleoduto. Durante algum tempo, os meios de comunicação ocidentais mostraram-se interessados ​​em apontar o dedo à Rússia – o que, claro, não faz quase nenhum sentido: a destruição dos oleodutos Nord Stream tornou, de facto, praticamente impossível para os Estados alemães e outros países europeus reverterem as sanções e reabrirem o oleoduto. – além disso, garante que a maior parte das exportações de energia russas para o continente europeu transitam pela Ucrânia, como escreve no seu  artigo sobre Política Externa Emma Ashford, pesquisadora sênior do programa Reimagining US Grand Strategy no Stimson Center.

Ashford lembra que, embora impopular em parte da Europa Oriental, devido a disputas entre Moscovo e os estados de trânsito de energia, “o projecto original Nord Stream foi apoiado não só pela Alemanha, mas também pelos Países Baixos e pelo Reino Unido”. O seu primeiro gasoduto foi concluído em 2011 “com apenas uma controvérsia mínima” (na Europa). Depois de 2014, as coisas mudaram e seguiu-se a guerra americana no Nord Stream. As suas reflexões finais, no artigo acima mencionado, são as seguintes: “a destruição do Nord Stream coloca mais uma vez a Ucrânia e outros estados da Europa de Leste numa posição de maior influência na questão energética. Destruir Nord Stream é uma escolha bastante compreensível do ponto de vista de um país envolvido numa guerra desesperada pela sobrevivência.

Longe de serem apenas especulações de “teoria da conspiração”, a questão de quem explodiu o Nord Stream é cada vez mais uma questão premente. Não interessa apenas aos procuradores e às autoridades policiais ou aos tablóides: pelo contrário, tem profundas implicações geopolíticas e geoeconómicas. Tem tudo a ver com  a soberania europeia , por exemplo (ou com a falta dela). Em Outubro de 2021, a Europa já era assombrada pelo espectro de uma grande crise energética, com um aumento de 600% nos preços do gás. Agora, a Europa poderá enfrentar uma  recessão em massa pior do que a de 2008 . Como  escrevi , em dezembro de 2021, tudo isso afetou a produção industrial europeia e britânica e as sociedades como um todo. O fim do Nord Stream é uma mudança de jogo e, como já escrevi várias vezes, a crise energética europeia, na verdade, serve  muito bem aos interesses americanos.

Na Alemanha, os intervenientes mais expressivos que apelam a uma investigação sobre a sabotagem do gasoduto são os  legisladores da AfD e, sendo assim, não é de admirar que o campo populista esteja a crescer, enquanto este tipo de discussão permanece largamente marginalizado dentro da chamada corrente política dominante. esfera.

A Alemanha poderá, mais uma vez, ser vista como o “homem doente da Europa”. A doença, porém, não é apenas alemã; é europeu. E as suas raízes são profundas e dizem respeito ao grande paradoxo da Europa de estar dependente de Washington para a segurança, ao mesmo tempo que depende da vizinha Rússia para a energia - esta última, aliás, faz todo o sentido, geopolítica e economicamente, já que o próprio Nord Stream 2 poderia fornecer à Europa com segurança energética e custos mais baixos e evitou a crise energética que agora assombra o continente.

Durante algum tempo, muito se falou sobre os problemas económicos alemães (e   também sobre os britânicos ). Estas conversações, no entanto, não podem deixar de ter em conta a questão da crise energética e a questão da  desindustrialização  na Europa pós-Nord Stream. O problema é que estes temas são demasiado desagradáveis ​​e o establishment político europeu ainda não parece estar preparado para esta conversa.

*Pesquisador com foco em conflitos internacionais e étnicos

Ler/Ver em South Front.press:

Alemanha silenciosamente descarta seu plano de gastos de 'defesa' de US$ 100 bilhões

Alemanha e França enfrentam nova recessão, mas a energia russa barata ainda está fora de questão

A decisão do Ocidente de se separar do Oriente causou a pior recessão desde 2008

SOUTHFRONT.ORG BLOQUEADO PELO SUPERVISOR GLOBAL DE INTERNET DOS EUA

A 'DEMOCRACIA' DO OCIDENTE CONTROLADA PELOS EUA MOSTRA O DESCARAMENTO DA CENSURA EM VIGOR

SOUTHFRONT.ORG BLOQUEADO PELO SUPERVISOR GLOBAL DE INTERNET CONTROLADO PELOS EUA

Na noite de 18 de agosto, o “registro internacional de nomes de domínio” bloqueou o site southfront.org sem qualquer aviso ou explicação. Apesar de esta organização ser formalmente independente desde 1998, na verdade é controlada pelo Departamento de Comércio dos EUA. O que fizeram foi uma acção sem precedentes na história da moderna sociedade da informação. Este é o modo americano de democracia, liberdade de expressão e Estado de direito.

Caros Amigos, a Equipa South Front apela a todos vós:

Ao longo de 10 anos de trabalho, a SouthFront Team enfrentou repetidamente atos flagrantes de censura por parte daqueles que procuram derrubar meios de comunicação realmente independentes e suprimir a verdade.

Porém, no dia 18 de agosto, vivenciamos algo nunca visto antes. O domínio do nosso site, southfront.org, foi retirado (a delegação de domínio foi removida) a nível internacional sem qualquer aviso prévio e explicação.

Aparentemente, a remoção do SouthFront do YouTube, Facebook, Twitter e outras redes sociais convencionais, o bloqueio de contas e a campanha de discriminação de anos contra a nossa equipa, incluindo a convocação dos nossos voluntários para interrogatório pelo FBI, não alcançaram os resultados esperados pelos instigadores do esses atos de censura. Portanto, eles recorreram a movimentos desesperados como este.

À luz desta situação, a SouthFront Team quer agradecer ao nosso fã-clube na Casa Branca e entre as elites globalistas pelo elevado reconhecimento do nosso trabalho.

Também desejamos trazer boas notícias aos empregadores de vários escritórios do estado e de entidades afiliadas ao estado designadas para combater o SouthFront. Os vossos empregos bem remunerados estão seguros porque não vamos parar o nosso trabalho, mesmo em condições de pressão sem precedentes. Ao contrário de vocês, sugadores de orçamento e vira-casacas comuns, nós fazemos o que fazemos de acordo com as ordens de nossos corações.

Os cães ladram, mas as caravanas seguem em frente.

Southfront.press é nosso domínio oficial agora. Estamos felizes em ver nossos antigos seguidores e novos leitores aqui. 

Você pode entrar em contato com a equipe SF através de: info@southfront.press, southfront@list.ru

Apelamos a todos os nossos queridos leitores e telespectadores que se preocupam com o destino do SouthFront, com um pedido para continuarem seu apoio usando nossos endereços criptográficos: VER AQUI

MORTE DE PRIGOZHIN TORNA-O IMORTAL - Ucrânia e NATO envolvidos no incidente?

VER VÍDEO - em inglês

Em 23 de agosto, um jato executivo pertencente ao chefe do Grupo Wagner, Yevgeny Prigozhin, caiu na região russa de Tver. Duas aeronaves ligadas à empresa voaram de Moscovo para São Petersburgo...

Um deles caiu de uma altura de 9 quilômetros. Seus destroços e 10 corpos foram encontrados no local do acidente.

Soutfront.press | # Traduzido em português do Brasil (o site mudou de .org para .press devido a CENSURA dos EUA)

Nota South Front - Na noite de 18 de agosto, o “registro internacional de nomes de domínio” bloqueou o site southfront.org sem qualquer aviso ou explicação. Apesar de esta organização ser formalmente independente desde 1998, na verdade é controlada pelo Departamento de Comércio dos EUA. O que fizeram foi uma acção sem precedentes na história da moderna sociedade da informação. Este é o modo americano de democracia, liberdade de expressão e Estado de direito.

A Agência Federal de Transporte Aéreo publicou uma lista de sete passageiros e três tripulantes que, segundo informações cadastrais, deveriam estar a bordo. Além de Prigozhin, a lista inclui Dmitry Utkin, chefe militar da PMC, e Valery Chekalov, que teria sido responsável pela logística de transporte dos empresários, bem como pelo fornecimento de munições aos campos de batalha, etc.

Várias fontes referentes a contatos no PMC Wagner confirmaram a morte de Prigozhin e Utkin. O smartphone pessoal de um empresário teria sido encontrado ao lado de um dos corpos.

No entanto, os corpos dos mortos no acidente não são oficialmente considerados identificados. Na manhã do dia 24 de agosto, a assessoria de imprensa oficial de Prigozhin ainda não havia confirmado a morte do empresário.

Pouco depois da queda, fontes próximas ao Grupo Wagner afirmaram que o jato foi abatido pela defesa aérea russa, conforme indicado pelos supostos vestígios de um míssil no céu. Um ataque terrorista a bordo também é uma das possíveis causas do acidente. Moradores relataram duas explosões no céu.

Não se deve excluir que os serviços especiais da Ucrânia, que receberam tal presente na véspera do Dia da Independência, e os seus parceiros da NATO possam estar envolvidos no incidente. O assassinato de Prigozhin seria mais fácil depois que ele perdesse a guarda estatal como resultado do motim de dois meses atrás.

Talvez o incidente tivesse como objetivo encenar a morte de Prigozhin, que já teria morrido em outro acidente em 2019. É provável que o empresário e outros dirigentes estivessem a bordo da segunda aeronave, que pousou com segurança no aeroporto comercial de Ostafevo. em Moscou. Também é suspeito que figuras de alto escalão tenham voado juntas, uma vez que isso contradiz medidas básicas de segurança.

A tentativa de decapitar o PMC Wagner por vingança ou contradições dentro das elites russas com um ataque com mísseis de defesa aérea parece demasiado superficial e directa. A magnitude da personalidade de Prigozhin e o papel de Wagner para a Rússia certamente gerarão muitas suspeitas sobre o incidente, mesmo após a explicação oficial de suas causas.

No entanto, é pouco provável que o crash tenha um impacto decisivo no Grupo Wagner. Como em qualquer campanha militar cujos líderes são destacados em pontos críticos juntamente com os seus combatentes, existem vários mecanismos para continuar o trabalho eficaz no caso da sua morte.

VER VÍDEO (em inglês)

Nota South Front - Na noite de 18 de agosto, o “registro internacional de nomes de domínio” bloqueou o site southfront.org sem qualquer aviso ou explicação. Apesar de esta organização ser formalmente independente desde 1998, na verdade é controlada pelo Departamento de Comércio dos EUA. O que fizeram foi uma acção sem precedentes na história da moderna sociedade da informação. Este é o modo americano de democracia, liberdade de expressão e Estado de direito. 

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