Num dia de greve e protestos, o ministro da Cultura esteve presente numa audição no Parlamento, a pedido do BE e do PCP, para falar sobre a atual situação do Global Media Group.
O dia de quarta-feira, 10 de janeiro, ficou marcado pela greve dos trabalhadores do Global Media Group (GMG) e pela audição do ministro da Cultura, Pedro Adão e Silva, sobre o caso.
Na comissão parlamentar de Cultura, Comunicação, Juventude e Desporto, requerida pelo PCP e pelo Bloco de Esquerda (BE), o ministro revelou que o Estado estava disponível para pagar 2,5 milhões de euros, valor ao qual era preciso descontar a dívida, pelas participações do GMG e das Páginas Civilizadas na agência Lusa.
Sublinhe-se que o Estado, através da DGTF - Direção-Geral do Tesouro e Finanças, detém 50,15% da Lusa, com o GMG a ser detentor de 23,36% e a Páginas Civilizadas de 22,35%. O fundo Union Capital Group (UCAP Group) controla a maioria (51%) do capital da Páginas Civilizadas, a qual detém 41,5% do GMG.
O Estado propunha a compra das cerca de 975 mil ações - 497.400 detidas pelo GMG e 476.640 detidas pelas Páginas Civilizadas - "pelo preço unitário de 2,60 euros, correspondendo a um preço total de 2 milhões e 531 mil euros, aos quais depois era preciso descontar a dívida", explicou Pedro Adão e Silva.
Segundo o ministro, o grupo "fez uma contraproposta para adquirir a participação do Estado", cenário em que ficaria "com 95% da agência Lusa".
Adão e Silva alertou ainda para o risco de a Lusa ter um acionista hostil pela primeira vez, mas assegurou não haver motivo de preocupação para os trabalhadores.
"Não temos nenhuma experiência de ter um acionista hostil na Lusa", disse, advertindo, contudo, que existe "um risco", em alusão às participações do GMG e das Páginas Civilizadas.
Salários em atraso? "Tenho muita dificuldade em compreender”
Na mesma comissão, Pedro Adão e Silva afirmou ter dificuldades em compreender os salários em atraso no Global Media Group, mas defendeu que o Estado deve ter apoios transversais à comunicação social em detrimento de apoios específicos.
"É uma obrigação primária de qualquer empresa de pagar o salário dos seus trabalhadores e tenho muita dificuldade em compreender como é que um novo acionista que entra (...) a primeira coisa que faz é deixar de pagar salários", disse.
"Não é compra da participação na Lusa que vai dar estabilidade" ao GMG
Após a audição do ministro da Cultura, o líder do PSD, Luís Montenegro, rejeitou que a compra de uma participação privada na agência Lusa pelo Estado possa dar estabilidade financeira ao grupo.
"Não é a compra da participação na Lusa que vai dar estabilidade financeira a este grupo, pode até adiar o problema mais um mês, mais dois meses", afirmou Luís Montenegro, aos jornalistas, recusando "fazer demagogia" sobre este tema.
Partidos solidários com os trabalhadores: "O caso tem de ser investigado"
No dia em que os trabalhadores, além de estarem em greve, se concentraram junto à sede do grupo, em Lisboa, para exigir o pagamento dos salários em falta e em defesa dos postos de trabalho, do jornalismo e da democracia, e se manifestaram no Porto e em Lisboa, vários partidos mostraram-se solidários com a sua causa.
A coordenadora do BE, Mariana Mortágua, esteve presente num protesto junto à Assembleia da República, em Lisboa, onde defendeu que o caso da Global Media "tem de ser investigado".
"[É preciso] perceber o que se passa, o caso tem de ser investigado pela polícia, pelo poder judicial. A Global Media esteve a saque ao longo destes anos. Os acionistas foram retirando o património, o valor que havia e agora querem retirar a última coisa que existe que são os direitos dos jornalistas que fazem aquelas casas", atirou a líder do BE.
Já o presidente do Chega, André Ventura, defendeu a necessidade de assegurar os direitos dos trabalhadores da Global Media, mas também da empresa e dos acionistas.
"É importante que todos os direitos sejam salvaguardados. Os dos trabalhadores, que neste momento estão a passar uma situação bastante difícil, o grupo de media na sua função fundamental na democracia, e também termos a garantia de que quem investe e quem detém estes grupos também possa sentir que os seus direitos também são reconhecidos", sustentou, em declarações aos jornalistas.
Já o presidente da Iniciativa Liberal, Rui Rocha, admitiu a possibilidade de avançar com uma comissão parlamentar de inquérito à gestão dogrupo, considerando que os trabalhadores podem estar a ser prejudicados por atos "menos transparentes".
O Parlamento irá debater, esta quinta-feira, a "situação dos trabalhadores do grupo, bem como o futuro dos media, do pluralismo de informação e da liberdade de imprensa em Portugal” a pedido do PAN.
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