Buscas à Câmara de Cascais colocam sob suspeita negócios do autarca agora empossado como ministro das Infraestruturas. Na privatização da TAP em 2015, também levantou suspeitas a ação de Miguel Pinto Luz como membro de um Governo já chumbado no Parlamento.
Esta quarta-feira a Polícia Judiciária fez buscas à Câmara de Cascais. A revista Visão(link is external) revela que uma das investigações diz respeito à contratação da agência de comunicação NextPower pela autarquia enquanto assessorava a candidatura de Pinto Luz a líder do PSD. Quando a denúncia, feita pelo vereador comunista Clemente Alves, foi levada a reunião de Câmara, tanto o presidente, Carlos Carreiras, como o próprio Pinto Luz negaram qualquer relação entre as duas situações. Segundo o Expresso(link is external), ao longo dos mandatos de Pinto Luz como vereador, o Portal Base regista 600 mil euros em contratos entre a NextPower e a autarquia ou empresas municipais.
A vida política de Miguel Pinto Luz está desde sempre ligada ao PSD. Foi secretário-geral da JSD/Lisboa e chegou a vereador na Câmara de Cascais, um cargo que o seu avô já tinha ocupado durante a ditadura. A partir de 2005, acumula a vereação com a vice-presidência da Associação de Turismo de Lisboa, e cargos na agência DNA Cascais e diversas empresas municipais. Já com Carlos Carreiras na presidência da autarquia, Pinto Luz sobe a vice-presidente em 2017. Dois anos depois, é vetado por Rui Rio na lista de deputados. Em seguida, candidata-se(link is external) à liderança do PSD contra Rui Rio e Luís Montenegro, ficando em terceiro lugar com menos de 10% dos votos. Apesar do resultado, a candidatura à liderança do PSD deu-lhe projeção nacional.
Na campanha interna, mostrou-se favorável à possibilidade de uma aliança com o Chega(link is external), recusando colocar "linhas vermelhas" em relação a André Ventura. Nas eleições deste ano, viu o Chega ganhar no círculo eleitoral do Algarve, onde foi o primeiro candidato do PSD. No rescaldo da derrota, defendeu a necessidade de "acarinhar esse eleitorado(link is external)" que votou no Chega.
Fábrica das máscaras: parceria chinesa sob suspeita
A outra investigação que levou às
buscas na Câmara de Cascais diz respeito a um negócio para montar uma fábrica
de máscaras durante a pandemia de covid-19. Em
"O único responsável em todo
o processo sou eu e mais ninguém, nem sequer o ex-vice-presidente Miguel Pinto
Luz teve qualquer participação, nem qualquer dos senhores vereadores, porque,
na altura, estávamos
Confinado ou não, a verdade é que na altura foi Miguel Pinto Luz a dar a cara pela operação. Em declarações(link is external) à agência Lusa em junho de 2020, o agora ministro gabava-se de estar "um passo à frente" da covid-19 graças à autossuficiência do concelho em máscaras de proteção. “Comprámos na China duas máquinas e hoje temos uma capacidade de produção de mais de cinco milhões de máscaras por mês, com um custo de produção por unidade que é metade do melhor preço praticado pelo mercado”, acrescentava Pinto Luz.
Hotel Hilton na marginal: terreno a preço de saldos, construção em zona de risco de inundação
Outro caso sob investigação(link is external) do Ministério Público
resulta da queixa-crime apresentada pela associação ambientalista SOS Quinta
dos Ingleses contra a Câmara de Cascais. Em causa está o negócio que
possibilitou a construção de um hotel da cadeia norte-americana Hilton na
Estrada Marginal, na Parede. Em março de
A história do negócio remonta a
2012, quando aquele preço foi fixado no contrato promessa de compra e venda
entre a autarquia e a empresa compradora. Mas apesar de a empresa ter
incumprido o contrato, possibilitando a sua anulação por parte da autarquia,
esta tornou-o definitivo em 2020 e manteve o preço de 2012, que já na altura
era bastante inferior ao preço de mercado. Entretanto, entrara em vigor o plano
de ordenamento que impede toda a construção até
Pinto Luz pode vir a privatizar a TAP pela segunda vez
O novo Governo não esconde a intenção de privatizar a TAP. E a conduzir o negócio estará o agora ministro das Infraestruturas, responsável pela desastrosa privatização de 2015.
Miguel Pinto Luz disse(link is external) há um ano que "só posso desejar que, depois de tudo o que aconteceu, o novo processo de privatização seja tão transparente, acautelado e bem-sucedido como o de 2015". Mas a venda da TAP em 2015 teve pouco de transparente e ainda menos de bem-sucedido. O negócio com a Atlantic Gateway de David Neeleman e Humberto Pedrosa foi fechado a 12 de novembro de 2015, dois dias depois de o Parlamento chumbar o programa de Governo de Passos Coelho e abrir caminho a um executivo do PS apoiado pelos partidos da esquerda.
“Miguel Pinto Luz assinou irresponsavelmente às três da manhã, já depois do Governo demitido, uma garantia ilimitada para dívidas futuras”, acusou(link is external) António Costa em outubro passado, quando ninguém desconfiava que seria o último debate quinzenal no Parlamento em que participaria como primeiro-ministro.
António Costa referia-se à carta de conforto(link is external) da Parpública, com o visto de Pinto Luz e da então secretária de Estado do Tesouro Isabel Castelo Branco, que assumia junto dos bancos a garantia de pagamento dos cerca de 600 milhões de dívida da empresa por parte do Estado, caso os privados não o fizessem.
Na comissão parlamentar de Economia, em maio, o ex-ministro socialista Pedro Marques afirmou(link is external) que "a privatização foi feita de modo a que 100% dos lucros fossem para o privado, mas 100% do risco era para o Estado”.
"A privatização em 2015 aconteceu com a TAP a ser paga com dinheiro da própria TAP, parte pela devolução de um contrato assinado com a Airbus, parte pelo pagamento de um desconto de quantidade ao investidor privado" concluiu o Bloco de Esquerda no final da comissão de inquérito do ano passado. Para reverter a privatização, em 2016 o Estado pagou 1.9 milhões de euros para ficar com 50% da TAP, mas a gestão continuou nas mãos dos privados. Depois veio a pandemia paralisar todo o setor e com os prejuízos a acumularem-se, o Governo do PS não chegou a acordo com os privados para um novo empréstimo à companhia e decidiu que o Estado voltaria a assumir o controlo da empresa. Para isso pagou 55 milhões de indemnização(link is external) a David Neeleman, alegadamente para evitar o "custo reputacional" de uma nacionalização. O plano de restruturação negociado com Bruxelas com a recapitalização por parte do Estado evitou a falência da companhia e levou à saída de muitas centenas de trabalhadores, sobretudo através de rescisões negociadas. Com a recuperação do sector, a TAP passou a dar lucro e o Governo começou a anunciar planos para a voltar a privatizar.
Secretário de Estado de Pinto Luz em negócios polémicos no Quénia
Agora tudo indica que Pinto Luz
terá oportunidade de vender a TAP pela segunda vez. E para o ajudar tem consigo
enquanto secretário de Estado das Infraestruturas um quadro da consultora
McKinsey, empresa com ligações estreitas a muitos governos e companhias do
setor do transporte aéreo. Aliás, na mesma semana
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