domingo, 12 de maio de 2024

A Imaginação ao Poder -- Artur Queiroz

Artur Queiroz*, Luanda

Imaginem que amanhã um racista bóer é eleito presidente da África do Sul. Grandes patriotas como Ramaphosa ou Zuma dão a vida para derrubá-lo. Imaginem que em 2027 vai para o poder um partido que combateu ao lado dos colonialistas entre 1967 e 1974, contra a Independência Nacional. Estou certo que 99 por cento dos angolanos dão a vida para recambiar os sicários da UNITA para Muangai ou Lisboa. Imaginem que filhotes dos fascistas, racistas e xenófobos portugueses ocupam o Palácio de Belém, vão para o Governo e ficam em maioria absolutíssima na Assembleia da República. Ficam lá 50 anos como Salazar. Os comunistas voltam para a clandestinidade. A esquerda, zero.

Imaginem que à conta da guerra na Ucrânia os representantes da Federação Russa no Festival das Cantorias da Eurovisão são expulsos. Não percam tempo, aconteceu mesmo. Imaginem que Israel manda uma menina à Suécia cantar as aldrabices do 7 de Outubro e glorificar os nazis de Telavive. Aconteceu! Mas obrigaram a mudar o título da cantoria. Ousadia! Imaginem que milhares de pessoas cercaram o estádio de Malmoe, cidade sueca onde decorreu o festival, protestando contra a presença de Israel. 

Os grandes democratas que governam a Suécia mandaram milhares de polícias para a rua. Porrada de três em pipa nos manifestantes. Detenções com violência inaudita. Imaginem que acontecia em Luanda. Os sicários da UNITA e os seus ajudantes do Bloco Democrático exigiam a demissão do ministro Laborinho. Punham o Abílio Camalata Numa a fuzilar os agentes da Polícia Nacional que participaram na operação. Os deputados do Galo Negro, com Justino Pinto de Andrade à frente, ocupavam a Assembleia Nacional e linchavam a Presidente Carolina Cerqueira. 

Imaginem que a ONU, num raro momento de lucidez, informava o mundo que em seis meses de genocídio na Faixa de Gaza e Cisjordânia já morreram mais do dobro de civis do que na guerra da Ucrânia em anos. Fizeram mesmo isso! Imaginem que o Conselho de Segurança da ONU declarava a sua preocupação pela descoberta de valas comuns na Faixa de Gaza onde os Palestinos foram enterrados vivos. Fizeram mesmo essa declaração. Imaginem que os funcionários da ONU e os membros permanentes do Conselho de Segurança são mesmo contra o genocídio na Palestina. Os nazis de Telavive já há muito estavam a ser julgados por crimes contra a Humanidade.

Extermínio de judeus é Holocausto. Genocídio na Palestina é “desproporção”. Washington diz que os nazis de Telavive “podem ter violado o Direito Internacional”. Há dúvidas. Bombardearam a Faixa de Gaza destruindo quase todas as habitações e equipamentos sociais. Cortaram a água e a energia eléctrica num território habitado por mais de 2,5 milhões de habitantes, dos quais um milhão são refugiados protegidos pela ONU. Cortaram os medicamentos e a comida. 

Destruíram hospitais, escolas, universidades e locais de culto. Mataram, segundo a agência UNICEF, 14.000 crianças! E 11.000 mulheres. Jornalistas foram assassinados 145. Mais de 80.000 feridos civis. Imaginem que não existe Direito Internacional Humanitário. Os nazis de Telavive são bons samaritanos.

Os estudantes de todo o ocidente alargado que denunciam o genocídio na Palestina são catalogados de antissemitas. Disparate. O antissemitismo é contra os povos de origem semita. São os Hebreus, Assírios, Aramaicos, Fenícios e Árabes. A perseguição aos judeus começou no primeiro século depois de Cristo. Os romanos expulsaram-nos da Palestina. Na Idade Média os judeus foram perseguidos e expulsos de vários reinos da Europa. Espanha e Portugal estão na lista. 

Na Alemanha do III Reich os judeus foram exterminados em massa. Hoje os alemães fornecem a Telavive as armas e munições para o genocídio dos palestinos. Os EUA fornecem a parte de leão. Joe Biden declara-se sionista! Israel é uma espécie de polícia de choque ou, em casos extremos, pelotão de fuzilamento às ordens de Washington. Assim mantêm o Médio Oriente sob total domínio. Mas algo está a mudar. Começaram com guerras de seis dias e já vão em seis meses na Faixa de Gaza e Cisjordânia. Os piores inimigos de Israel são os inquilinos da Casa Branca e a extrema-direita que está no governo em Telavive. 

Imaginem que o Estado da Palestina vai mesmo existir. A Assembleia-Geral da ONU aprovou na sexta-feira uma resolução que garante novos "direitos e privilégios" à Palestina e recomenda ao Conselho de Segurança que reconsidere o pedido para adesão plena da Palestina como194.º membro da ONU. 

A resolução foi aprovada com 143 votos a favor, 25 abstenções e nove países votaram contra: EUA, Argentina, República Tcheca, Hungria, Israel, Nauru (12.000 habitantes), Micronésia, Palau (18.000 habitantes), e Papua Nova Guiné. Vai acontecer. Não é preciso imaginar. Washington, Londres e Telavive não imaginam o que aí vem. Para Israel continuar a existir, têm de desaparecer todos os países do Médio Oriente. Impossível imaginar essa hecatombe.

Ao avançar com o genocídio na Palestina Israel autocondenou-se à extinção. Ainda estão a tempo de evitar a última catástrofe sobre os judeus. Assim sejam capazes de imaginar o que aí vem, se a matança na Palestina continuar. Agências da ONU denunciaram que há quatro dias seguidos que não entra ajuda humanitária na Faixa de Gaza. Os nazis de Telavive estão a exterminar palestinos pela fome e a sede. Imitam com perfeição os nazis de Hitler. São iguais.

 Nos últimos dias os nazis de Telavive, cumprindo ordens de Washington e Londres, forçaram mais de 150.000 palestinos a fugirem de Rafah para o nada. Não é necessária imaginação para perceber que são crimes sem perdão. Os autores destes crimes contra a Humanidade vão pagar, estejam em Israel, no Reino Unido, na Alemanha, nos EUA ou em qualquer outro país dos nove que votaram contra a existência do Estado da Palestina. Os nazis do III Reich também pensavam que iam dominar o mundo e acabaram na valeta ou na cova. Os filhotes estão novamente no poder. Imaginem!

* Jornalista

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