segunda-feira, 17 de junho de 2024

Criança Merece Mesmo Tudo – Artur Queiroz

Artur Queiroz*, Luanda

No meu tempo, malanjino nascia já com a quarta classe adiantada e não pagava renda porque tinha cubico próprio. Ontem perguntaram a um menino em Malanje o que achava do Dia da Criança Africana. Ele respondeu: Criança Merece Mesmo Tudo”. Este nasceu génio. Tem garantido o futuro de kupapata, zungueiro ou desempregado. Lembrei-me logo da Luzia Moniz que, segundo o historiador Mabeko, escreve com os olhos acesos. No dia em que conseguiu escrever o nome, penduraram-lhe ao pescoço o tacho de chefe do “Desk África” na ANGOP. Escreveu tanto com os olhos que a mandaram para Lisboa, chefiar a delegação da agência noticiosa. Aí a sua escrita à vista e com as vistas triunfou. 

Em Portugal, Luzia Moniz esmagou a concorrência. Na pátria de Camões escreve-se muito com os pés até nascerem calos dolorosos. Jornalistas e escritores chegam a ficar com os pezinhos em sangue quando debitam prosas dolorosas. Até já existe uma comissão cívica que reivindica a erecção de uma estátua ao Agualusa, o mártir da gramática. Neste mundo de pernetas e pezudos apareceu a azougada Luzia escrevendo com os olhos e exibindo um diploma do historiador Mabeko, seu irmão e amigo. 

Esta figura sagrada da escrita portuguesa arranjou muitos tachos, ganchos e biscatos. Um deles foi o de apresentadora do Dia de África em Portugal. Ganhou o lugar porque além de escrever com os olhos fala pelos cotovelos e ninguém percebe. O problema é que isso de apresentações em espectáculos públicos ou privados é actividade vedada aos jornalistas. E assim a Luzia perdeu o estatuto de jornalista que usa abusivamente. Agora despacha a sua escrita à vista, nos Media controlados pelo chefe Miala. Confuso? Não. Enquanto o Presidente João Lourenço for enxovalhado por alguém que escreve com os olhos, está tudo sob controlo.

A Luzia Moniz, cm os olhinhos cansados de tanta escrita à vista, está a prestar um serviço remunerado, por encomenda dos habituais pagantes. Dá rosto e voz a uma campanha assassina contra a Embaixadora de Angola em Portugal, Maria de Jesus Ferreira. Até desenterram as armas do racismo! E metem ao barulho a família da diplomata. O lóbi contra Angola em Portugal está ao rubro. Até se servem de uma desgraçada que vive de habilidades e imitações desde que foi chefiar a delegação da ANGOP em Lisboa, tacho oferecido pelo MPLA e seus padrinhos na cozinha.

Luzia não critica João Lourenço. Ventila porcaria sobre o Chefe de Estado. Luzia não usa a liberdade de expressão para criticar o MPLA e as suas políticas. Despeja veneno, ressentimento e ódio sobre os libertadores de Angola. Como fica mal aos portugueses brancos ressuscitar o discurso colonialista, servem-se de uma portuguesa negra para o trabalhinho. Para não perderem os negócios em Angola, atacam a Embaixadora Maria de Jesus Ferreira. Erro grave. Pode ser que as e os diplomatas africanos em Lisboa só se representem a si próprios. Mas a Embaixadora de Angola representa o Povo Angolano. É Angola. Recebam os trocos com que vos compram mas não nos ofendam!

Quem também escreve com os olhinhos é Ismael Mateus. Hoje no Jornal de Angola dá uma tremenda lição de História. Sobre o novo-riquismo, o consumismo e a ostentação reinantes, mandou-nos este olhar: “A ostentação de riqueza no espaço público é o primeiro passo para o aumento da luta de classes. Ao mesmo tempo que alguns se gabam de possuir e gastar milhares de kwanzas para um espectáculo de alguns minutos, outros, sem nada para comer ou sem capacidade de financeira para chegar a estes estilos de vida, desencadeiam movimentos de revindicação e contestação por mais igualdade de oportunidades, melhor distribuição da renda e mais equidade social”. Cuidado! Vem aí a luta de classes.

O Tribunal Constitucional, num acórdão de 3 de Abril declara que o julgamento dos arguidos no “Processo dos 500 Milhões” violou os princípios da legalidade, do contraditório, do julgamento justo e conforme ao direito à defesa”. Estamos em Junho, dois meses depois, e foi tornado público que o Acórdão está a ser analisado no Tribunal Supremo. Vamos repetir o julgamento? Vamos manter os arguidos presos? Vamos confiscar-lhes os bens? Vamos alargar a lista dos activos recuperados? Direitos e liberdades que se lixem. Esses aí são marimbondos. Não precisam de direitos, liberdades nem passaportes.

Centralidades Vida Pacífica e Zango 5 são grandes projectos sonhados e concretizados. Até a Luzia Moniz, com os olhinhos cansados de escrever, consegue ver aquelas cidades. O vandalismo e a degradação vivem no seu seio. Uma creche fabulosa, com parque infantil lindíssimo, está encerrada. O capim abafou os brinquedos das crianças. A Vida Pacífica sofre. Abandono. A Administração de Viana zero. 

A área urbana do Zango 5 foi invadida com construções anárquicas. Condomínio improvisado no lugar do estaleiro da obra. O centro infantil, fabuloso, está encerrado. É um covil de marginais. A Administração de Icolo e Bengo zero. O senhor administrador até diz que a culpa é de quem ganhou os concursos públicos para explorar os equipamentos sociais e os espaços comerciais! O nosso exonerador implacável virou coração de manteiga. Nem as lixeiras no canal ferroviário, do Bungo ao Aeroporto António Agostinho Neto, levaram o Presidente João Lourenço a intervir, quando viu aquela desgraça.

Por estas e por outras é que no jogo de futebol, entre a Selecção Nacional e a selecção dos Camarões o público em vez de torcer pelos Palancas Negras vitoriou a UNITA. Atirou com o governador Homem para fora de jogo. Para já servir o MPLA. Com este líder provincial, nas próximas eleições o partido corre risco de extinção na província de Luanda. Se é esse o compromisso da direcção e do seu líder com o estado terrorista mais perigoso do mundo estão no bom caminho. Parabéns.

A ANGOTIC acabou. O senhor ministro Oliveira pode agora providenciar uma ligação de Internet à Fundação Doutor António Agostinho Neto. Coisa simples, que não custe milhões de dólares. Quanto às instalações, este é o momento certo para oficializar a situação. Até agora, a Fundação vive na corda bamba. Se amanhã o procurador Pita Grós ou a senhora da recuperação de activos acordarem mal dispostos, podem despejá-la. Isso tem de acabar já. O Estado ficou com a sede central das empresas AAA na Praia do Bispo. 

O Estado tem de se comportar melhor do que a turma do chefe Miala. Oficializar a posse das instalações da Fundação Doutor António Agostinho Neto. Mesmo que o estado terrorista mais perigoso do mundo pense que o patrono não merece e exija aos seus serventes o mesmo pensamento. A verdade é que todos devemos tudo a Agostinho Neto. Até o soba grande.

* Jornalista

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