Artur Queiroz*, Luanda
Um amigo é mais do que um rio,
muito mais. Por isso amigo do meu amigo, meu amigo é. Filho do meu amigo, meu
filho é. Faleceu Álvaro Barradas, filho da Mana Mascarenhas Manuela e do meu
mestre e amigo Acácio Barradas. Meu filho. Não pode! O nosso menino não podia
morrer antes de mim. Estou devastado. Aqui deixo um abraço à família e
particularmente ao seu irmão Carlos São Vicente, refém dos usurpadores do poder
Frente Patriótica Unida é coisa que não existe. Um golpe-baixo, próprio do banditismo político que estamos com ele. Os seus chefes são Adalberto da Costa Júnior, fantasma de Savimbi na UNITA, Abel Chivukuvuku, deputado do Galo Negro, Francisco Viana, líder do partido “sociedade civil” e Filomeno Vieira Lopes, chefe da comissão liquidatária do Bloco Democrático. Os impostores apresentaram uma “Declaração sobre a Degradação do País” que é uma masturbação política. Uma incompetência ejaculatória. Se o quarteto da frente podre unida quer analisar a degradação do país, tem o dever de explicar como chegámos aqui.
Eu explico. Guerra da Transição entre 1974 e 11 de Novembro de 1975. Existiu para esvaziar Angola dos quadros superiores e médios. Operários especializados. Destruição da máquina do Estado. Paralisação da produção (industrial, agrícola, comércio, serviços) e dos circuitos de distribuição. Assim foi garantido um atraso de pelo menos 50 anos na Angola Independente. A UNITA teve um papel fundamental para o sucesso destes ataques ao futuro do país.
Guerra pela Soberania Nacional e Integridade Territorial entre 11 de Novembro de 1975 e 1988. Destruição total de Angola. A UNITA colaborou activamente com os invasores e sul-africanos durante o regime racista.
O escritor sul-africano Peter
Stiff (faleceu em 2016) no seu livro “The Silent War South African Recce
Operations 1969-
A Cabinda Gulf Oil, propriedade conjunta da US Gulf Oil e da Sonangol, produzia no ano de 1985, 170.000 barris de petróleo/dia. Os ganhos financeiros do Governo atingiram 90 por cento em moeda estrangeira. Escreve Peter Stiff: “Era a única fonte substancial de receitas do governo angolano para continuar a financiar a guerra. Por isso, a África do Sul e a UNITA consideraram a Cabinda Gulf Oil um alvo militar e económico”. Por isso avançaram com a Operação Argon.
Escreve Peter Stiff. “A natureza do ataque tinha que ser enquadrada dentro da capacidade de uma força de guerrilha, neste caso a FLEC, o movimento de libertação criado em Cabinda, que tinha enveredado pela guerrilha de baixa intensidade para a independência do enclave. A divulgação da ideia de que o MPLA estava a enfrentar uma nova frente de combate foi considerada uma boa ideia. A FLEC era considerada pela UNITA como aliada”. Ainda hoje é assim. A vitória eleitoral do Galo Negro no círculo de Cabinda deve-se a esta aliança.
O autor do livro “The Silent War” faz esta referência a Savimbi: “Para embaraço de Jonas Savimbi, em conferência de imprensa na Jamba, ele apoiou, com a habitual lealdade, os argumentos da África do Sul, segundo os quais existiam bases da SWAPO e do ANC em Cabinda, mas os seus próprios mapas em exposição para os Media, mostravam que não havia nenhuma base mais a Norte do que a que existia a Sudeste de Luanda”.
Esta operação foi um desastre militar para o regime racista de Pretória e a UNITA. Mas outras contra alvos económicos tiveram sucesso. Hoje todos sabem quantos biliões custa diariamente a guerra na Ucrânia. Foi isso que custou aos angolanos durante 13 anos! Além das destruições de todos os equipamentos e infra-estruturas temos de incluir os custos financeiros. A agressão da África do Sul e seus aliados da UNITA a Angola provocou um atraso de pelo menos mais 50 anos.
O que lá vai, lá vai. A paz e a
reconciliação nacional valem todos os sacrifícios. José Eduardo dos Santos e o
MPLA aceitaram estender a mão à UNITA. Daí o Acordo de Bicesse. E as eleições.
A festa da democracia acabou
A UNITA em poucos dias ocupou mais de dois terços de Angola. Levou a guerra a todo o país. Tudo arrasado. Milhões de refugiados e deslocados. Províncias do interior em morte social. Desertificação humana severa. Luanda e o eixo Lobito-Catumbela-Benguela-Baía Farta ficaram com mais de metade da população de Angola. A rebelião terminou em Fevereiro de 2002, há 22 anos. O atraso causado por esses dez anos de banditismo político é superior a 70 anos. Porque os sicários da UNITA destruíram o que já tinha sido reconstruído. E sobretudo estraçalharam o tecido social. Daqui a cem anos está tudo refeito.
Analisar a degradação do país sem ter em conta esta realidade, é próprio do banditismo político protagonizado pela UNITA e os idiotas úteis do Bloco Democrático. Para cúmulo, os quatro chefes da frente podre resolveram fazer uma provocação de rua, própria das hordas de marginais que destroem equipamentos sociais e sabotam tudo o que podem. A UNITA não quer o poder. Está bom assim. Têm tudo sem pagarem o preço do desgaste do governo.
Hoje a TPA prestou um serviço inestimável ao Povo Angolano. Mostrou o Presidente João Lourenço de cócoras e depois ajoelhado, na sua visita aos viveiros de Catabola. Duas imagens que valem por dois milhões de palavras. Parabéns.
O Supremo Tribunal decidiu manter na prisão os arguidos do “Processo dos 500 Milhões” contrariando o Acórdão do Tribunal Constitucional. Não lavem as mãos culpando apenas aquele órgão de soberania. E o ministro da Justiça? O chefe da Casa Civil do Presidente da República? A Provedora de Justiça? As direcções partidárias? A Ordem dos Advogados? Os professores universitários de Direito? Os funcionários do Ministério Público? As deputadas e deputados? Neste crime sem nome não há inocentes.
A OTAN (ou NATO) declarou guerra à Federação Russa e à Republica Popular da China. Espero que em Moscovo e Pequim haja dirigentes políticos responsáveis e desprezem os belicistas.
* Jornalista
Sem comentários:
Enviar um comentário