Artur Queiroz*, Luanda
A minha relação com a bebida e a conversa é de amor e ódio. Ninguém tem nada a ver com isso mas a parte do corpo da mulher que me seduz é a voz. Não resisto a uma voz de rebuçado. Uma noitada de copos e vozes doces é amor no superlativo absoluto simples. A ressaca ao acordar é odiosa. Odeio despertar com a boca sabendo a papel de música.
Um dia estava eu espumando ódio contra os efeitos de uma noite bem bebida e o meu camarada Brito Sozinho ordenou: Vem! O Velho quer falar contigo. O Velho era Agostinho Neto, nosso líder. Que tinha na altura uns 56 anos.
O primeiro Bureau Político do MPLA era de velhotes caquéticos. Roubadores dos lugares e oportunidades da Juventude. Agostinho Neto levava 53 anos! Por isso era o nosso Mais Velho. Depois vinha António Jacinto, velhíssimo de 50 anos.
Felizmente o peso de tanta idade era aliviado por Lúcio Lara que vivia vergado ao peso dos seus 45 anos. Pascoal Luvualu, 44 anos, também ajudava os velhos entrevados. Coitados, se fossem do Partido Democrático (entidade patronal de João Lourenço) eram eliminados como foi Joe Biden antes de vir mudar as fraldas a Luanda e lavar as partes baixas em Benguela.
O meu saudoso amigo Ludy estava com 43 anos. Muitos anos mais tarde bebemos uns copos em Havana e recordámos esses tempos de velhice. Eu em 1975 tinha 31 anos sequiosos e caquéticos!
O homem que organizou a cobertura mediática da guerra contra os bandidos da Casa dos Brancos mais seus sequazes de Pretória e Kinshasa, Iko Carreira, quando foi eleito para o Bureau Político do MPLA estava podre de velho. Tinha o pior de 41 anos. Um dia perguntei-lhe se estava disposto a ceder o lugar aos jovens. Ele começou logo a arrumar as bikuatas e disse: Venha daí esse jovem para o meu lugar! Não apareceu ninguém e eu sou um paisano impenitente. Não me convidem para militar.
Outro velho caquético do Bureau Político daquele ano de 1974 era Manuel Pedro Pacavira, sempre com ar de camponês conspirador, falando baixinho e olhando para todos os lados, como quem está à espera de um inimigo oculto.
O velhote Pacavira já tinha 34 anos quando integrou a direcção do MPLA. Mas foi este velho que com Hermínio Escórcio refundou o MPLA no interior e acabou com as “revoltas”. MPLA é Neto e quem não estiver de acordo pode sair! Saíram poucos. E chegaram aos milhões para levarem a luta até à Independência Nacional.
Não se escandalizem mas o Bureau Político daqueles tempos idosos, entre Pacavira e Maria Mambo Café (29 anos) tinha uns trintões: Pedalé, José Eduardo, Xiyetu. Todos de bengala. E aqueles discos brancos que se colam ao corpo para libertar a insulina salvadora dos diabéticos. Aquilo não era um Bureau Político, era o Beiral da política nacional. Sabem o que é uma velhota de 29 anos a dirigir? Se lhe escondem as muletas ou a bengala não dirige nada, não decide nada, não manda nada.
O Presidente João Lourenço, graças à sua dimensão divina, acabou com a velhice ao nível da direcção do MPLA. No congresso extraordinário rejuvenesceu o Bureau Político. A média de idades é de 61 anos. Como a esperança de vida em Angola é de 62, se nenhum apanhar boleia da estatística, para o ano estão todos mortos e vem aí mais uma vaga de rejuvenescimento. Bendito povo que tal João Lourenço tem. O mais jovem do Bureau Político rejuvenescido, o meu amigo e camarada Roberto de Almeida, tem 83 anos mas ninguém lhe dá mais do que 82 e meio.
João Lourenço foi eleito Presidente da República em 2017, substituindo, por vontade do povo, José Eduardo dos Santos que continuou como líder do MPLA até ao congresso ordinário, como mandam os estatutos. Nem pensar! Isso de bicefalia é para as hidras, figuras míticas que simbolizam desgraças e tragédias. Fora com o líder do MPLA! Abaixo a bicefalia.
José Eduardo dos Santos, pensando que ainda existia inteligência disponível entre as elites políticas, disse que era bom continuar o seu mandato como presidente do MPLA porque aliviava João Lourenço de tarefas trabalhosas como a organização das eleições autárquicas. Fora! Não queremos aqui velhos!
Um grupo de notáveis do MPLA veio em socorro do filho de enfermeiro. José Eduardo tem mesmo que sair da liderança do partido porque a sua continuidade no cargo vai “criar obstáculos a João Lourenço”.
Os notabilíssimos propuseram “a realização urgentemente de um congresso”. Era urgentíssimo mandar o velho para Barcelona. Da lista de subscritores do abaixo-assinado constam os Generais Ndalu, João Luís Neto “Xiyetu”, André Pita “Petroff” e Alexandre Rodrigues “Kito”. Mais o civil Lopo do Nascimento. Homens de grande prestígio cuja palavra é uma escritura.
Os notáveis do MPLA diziam que a continuação de José Eduardo na liderança do MPLA punha em risco a coesão do partido e o êxito de João Lourenço na governação. Lopo do Nascimento disser ao jornal “Expresso”, por intermédio de Gustavo Costa, que “dois galos não cabem no mesmo poleiro”. A partir de 2027 já cabem!
Meu caro Lopo, sei que não te zangas comigo por desenterrar este episódio E até vais rir. Com o congresso extraordinário, João Lourenço abriu a direcção do partido aos jovens entre os 63 e os 83 anos e agora o nosso galo fica no poleiro do MPLA e da UNITA, com o apoio da Casa dos Brancos.
Os sicários da UNITA vão todos para a Síria combater ao lado dos rebeldes da Al Qaeda e do Estado Islâmico, peritos em decapitar civis inocentes. Os galos vão ensiná-los a queimar vivos apoiantes do “ditador”, de preferência mulheres e crianças. As fogueiras da Jamba vão aquecer Damasco! Graças ao Presidente João Lourenço.
* Jornalista
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