Salazar, seu séquito & André Chega
Teresa Pizarro Beleza e Helena Pereira de Melo* | Diário de Notícias | opinião
O anúncio de André Ventura no VI
Congresso do Chega de que a escolha dos Portugueses, no próximo dia 10 de
março, será “entre o Portugal de 2024 que é o do Chega e o Portugal de 74 que é
o de Pedro Nuno Santos” que “quer voltar ao PREC, à ocupação de empresas, às
Geringonças e aos PCP’s desta vida”, suscitou-nos perplexidade. Será que Pedro
Nuno vai propor que o juramento de bandeira dos novos recrutas seja feito, no
próximo ano, de punho erguido e de armas na mão, perante uma qualquer comissão
de trabalhadores ou de moradores? Ressurgirá um grupo Okupa chefiado por um
novo Camarada Pé-de-Cabra? Não nos parece provável.
As propostas eleitorais de André
Ventura coincidem, em parte, com as do PS e com o desejo da generalidade das
cidadãs e dos cidadãos: aperfeiçoar as políticas públicas de saúde, educação,
justiça e segurança social. Melhorar o nível salarial dos trabalhadores e o
poder aquisitivo dos pensionistas… O principal problema que suscitam é o da
meta-narrativa que lhes subjaz, a de um Portugal excecional e conservador,
próxima da proposta por António Ferro, através do Secretariado Nacional de
Propaganda, para o Portugal dos anos trinta e quarenta. Propõe-se o regresso a
um Portugal forte, assente numa identidade nacional expressa através dos seus
símbolos nacionais, da sua Língua, História e Cultura. Propõe-se uma ideia
transpersonalista do exercício do poder, “um Portugal que vença acima dos
interesses particulares”, assente na autoridade das Forças de Segurança, onde o
passado expansionista e colonial é sobrevalorizado: “Este povo soberano que
nunca se agachou perante ninguém… Este povo enorme que somos teve sempre a
coragem de nos momentos decisivos da História fazer o corte que era preciso
fazer”. Um Estado forte, como proclamado na Constituição de 1933, assente nos
valores de Deus, da Pátria e da Família. O Deus, a Pátria e a Família dos
‘portugueses de bem’, é claro: cristãos, de preferência brancos e devidamente
hierarquizados e obedientes. “Manda quem pode, obedece quem deve”.
O regresso à nostalgia do Império
(propor-nos-á, já agora, a invasão de Olivença, ou optaremos por Las Palmas,
que tem melhor hotelaria para férias?) é conduzido pelo novo D. Sebastião:
André Ventura. É, deste modo, retomado o mito do desejado retorno de um
cavaleiro alvo e se possível louro, envolto em nevoeiro, reconstruindo-se desta
vez o culto em torno da figura do Presidente do Chega, que salvará a Nação de
todas as desgraças que a afligem: André vem fazer “fazer o corte”, “a limpeza”,
“afastar a podridão” de Portugal. O Chega assume-se como “a nova esperança de
que Portugal precisa”.