quarta-feira, 8 de janeiro de 2025

Angola | Desfiles de Notícias e Operários – Artur Queiroz


Um corte geral no sistema de fornecimento de energia que alimenta 10 províncias deixou ontem praticamente metade do país às escuras Correio Kianda.info

Artur Queiroz*, Luanda

O poeta David Mestre tinha um conflito com o Jornalismo mas sem ele a vida ficava insipida. Todos lhe dávamos a camisa, os trocos e se fosse caso disso, emprego com salário razoável. O primeiro que deu para esse peditório foi Carlos Simeão (Manolo), na época técnico do Serviço Meteorológico de Angola. Foi aberto um concurso para observadores meteorológicos e exigiam, no mínimo, o sétimo ano do liceu ou o curso do Instituto Industrial. Arranjámos um certificado de habilitações falso para concorrer. Ele desistiu no quinto ano depois de chumbar no exame. Concorreu e foi admitido porque o Manolo mexeu os cordelinhos bem mexidos. 

Depois de muitas e desvairadas peripécias o David Mestre foi acomodado na Redacção do ABC, já sopravam os ventos da liberdade soltos pelo 25 e Abril. O José Manuel, da Nóbrega era o director e não gostou nada do jornalista que lhe impingimos. O enjeitado resolveu a maka aceitando um convite para trabalhar no jornal O Planalto na então Nova Lisboa (Huambo). Ele vivia com uma menina prendada que era filha do presidente da Associação Comercial e Industrial, proprietária do periódico.

Poucos meses depois de atingir o alto posto de director, David Mestre despachou um telex para o Diário de Luanda que me deixou em choque: “Kitó, vou regressar a Luanda. Aqui a reacção não passará, desfilará!” Na época havia um “slogan” que garantia: “A Reacção Não Passará!” O nosso protegido estava em perigo e pedi ao Lotas que trouxesse David Mestre para Luanda, no maior segredo, por razões familiares. Demasiado tarde. A guerra pegou fogo em todo o país e o poeta foi para Lisboa na ponte área. Regressou quase um ano depois, graças aos bons ofícios do Fernando Costa Andrade (Ndunduma) director do Jornal de Angola.

Tantos anos depois, a reacção desfila em Angola desde o Palácio da Cidade Alta a Moxico Leste, de Massabi a Namacunde, da Restinga à Costa do Ambriz onde as gaivotas fazem ninho nas ondas. O meu amigo Pandemónio alertou-me: “Os gringos andam por aqui. Só no Bairro Azul já contei cinco!”

Uma menina da TPA disse hoje no noticiário das 13 horas que ia começar “o desfile informativo”. Até as notícias desfilam. Filipe Zau está no Huambo a homenagear os operários da cultura. Mano! Vais ser demitido. Isso de operários era no tempo do Manguxi da Dipanda! Agora estamos com a Casa dos Brancos, somos lacaios do estado terrorista mais perigoso do mundo. Submissão ou morte. Perdemos!

Os gringos adoram criar apagões. Sabotam os sistemas de distribuição de electricidade com ciberataques! E de repente 11 províncias ficaram apagadas. A luz foi. Porquê? Ninguém explica. Explico eu. Primeira hipótese: Sabotagem da Casa dos Brancos para nos venderem um novo sistema mais “seguro”. Segunda hipótese: Sabotagem dos próprios responsáveis da empresa que querem sacar mais uns milhões de comissões em novas compras. Terceira hipótese Falta de manutenção (a fruta da época). 

Filipe Zau anunciou que está em marcha o processo para classificar o Semba como Património Imaterial da Humanidade. Kariambuko! O samba de roda, da região do Recôncavo, na Baía, foi declarado, em 2005, Património Imaterial da Humanidade. Angola é a sua origem. A mesma “fábrica” do Semba. Mano Kaloji não queres contar como entrou a massemba nas nossas farras? 

Conta então! Tu és um operário da Cultura Angolana, não recebes da Casa dos Brancos. O semba, segundo o Mais Velho Liceu, pai do ritimo, nasceu para absorver músicas e danças rurais. Nasceu nos anos 50, não veio da noite dos tempos angolares. Música Popular Urbana. Grande Música Negra. 

O Presidente da República, João Lourenço, ficou muito preocupado “com a conquista ilegal do território de Masisi, província do Kivu Norte, na República Democrática do Congo, pelo grupo M23”. Num comunicado, o Chefe de Estado diz que esta acção armada, desencadeada logo a seguir à habitual trégua de Natal e Ano Novo, compromete o esforço de pacificação na região.

João Lourenço escreve: “Esta acção irresponsável compromete gravemente os esforços de pacificação do conflito prevalecente na região leste da RDC e representa uma flagrante e inaceitável violação ao cessar-fogo que vigora desde 4 de Agosto de 2024”. O campeão da paz em África conseguiu que em todo o continente todos estejam em concórdia, como Deus com os anjinhos O M23 estraga tudo.  

O facilitador da normalização das relações político-diplomáticas, de cooperação e das tensões entre a República Democrática do Congo e o Ruanda, o campeão da paz está desolado. Vai dedicar-se exclusivamente à actividade de corredor. O grande, o incomensurável Corredor do Lobito. 

O senhor governador do Zaire está desiludido porque o contrabando de combustível continua em grande. Vou explicar a sua excelência porquê. Os pasquins nascidos em 1992 (mudança do regime) usaram logo à cabeça a mentira e a calúnia sem conta nem medida. Abusos gravíssimos da liberdade de imprensa. Mas como não foram travados, esses crimes contra o Direito à Inviolabilidade Pessoal tornaram-se inócuos pela sua repetição permanente e são aceites pela sociedade.

Os crimes do contrabando são iguais. As populações não os condenam. Pelo contrário, apoiam os contrabandistas que são vistos como amigos, benfeitores e até heróis. Querem mesmo resolver o problema? Falem com o economista José Cerqueira. Ele tem uma solução engenhosa e pacífica que não mete polícias nem ladrões. 

Enquanto não consultam quem sabe, ponham os combustíveis processados nas refinarias do Lobito e Cabinda a desfilar para os países vizinhos a preços rastejantes. Ou então acabem com os subsídios aos combustíveis de uma vez por todas e arranjem outras formas de apoiar os empresários dos transportes e os consumidores. A cabeça não serve apenas para exibir penteados e cultivar piolhos. Isso é com os sicários da UNITA.

* Jornalista

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