quinta-feira, 30 de janeiro de 2025

Angola | Sabotadores e Golpistas -- Artur Queiroz

<> Artur Queiroz*, Luanda

A memória dá jeito até aos distraídos. Mas é um suplício para os salteadores do poder, acaparados na UNITA. Hoje vou falar de memória e escrever com a ajuda da memória. Para melhor se compreender o que está acontecendo no Leste da República Democrática do Congo.  

Durante a Guerra da Transição, tropas zairenses, Exército de Libertação de Portugal (ELP) e Esquadrão Chipenda tinham uma missão específica, saquear os cofres de todas a agências bancárias que encontravam no caminho, durante as invasões a norte e sul. Com esse dinheiro roubado iam destabilizar a economia angolana e o sistema financeiro de Angola independente. O problema foi resolvido com a criação do Kwanza. 

O regime racista de Pretória e seus mentores (EUA, França, Reino Unido e República Federal da Alemanha), dois anos após o Presidente José Eduardo dos Santos assumir a liderança de Angola e das suas forças armadas, montaram a “Operação Kerslig” (Candelabro) para sabotar os depósitos de combustíveis do Porto de Luanda e os da Petrangol, numa zona de grande concentração populacional. Esta operação visava destruir a economia nacional. Cortar as fontes de financiamento à Guerra pela Soberania Nacional e a Integridade Territorial.

O sul-africano Peter Stiff, no seu livro “The Silent War” conta todos os pormenores desta agressão dos racistas de Pretória a Angola. Antes da operação de sabotagem, os Media internacionais começaram a dar visibilidade a Jonas Savimbi s. O objectivo era atribuir as sabotagens à UNITA já que a África do Sul sofria um embargo total.

Peter Stiff explica cruamente qual o papel que estava atribuído ao criminoso da Jamba: “A Operação Kerslig e todas as outras realizadas pela África do Sul em Angola eram atribuídas à UNITA”. De facto, logo no dia seguinte ao acto de sabotagem, Jonas Savimbi apareceu nos jornais de Nova Iorque a dizer que “foram as FALA que puseram a refinaria de Luanda em fogo”. O chefe da UNITA chegou mesmo a especificar que o ataque foi realizado por três homens com a utilização de uma “bazooka”.

A verdade é esta. No dia 30 de Novembro de 1981, tropas especiais sul-africanas, apoiadas por dois navios de guerra, desembarcaram à noite na área dos depósitos de combustíveis do Porto de Luanda e sabotaram-nos. Savimbi foi apresentado como o “herói”. Mas militares sul-africanos que participaram no atentado morreram. Nunca mais voltam porque “explodiram” naquela noite em que causaram graves danos à economia nacional, ao apoio logístico às Forças Armadas Populares de Libertação Angola (FAPLA) e puseram em risco a vida das populações que vivem na zona limítrofe da Petrangol.

Peter Stiff foi aos arquivos do regime de apartheid e encontrou lá a verdade: “O tenente Franz Fourie, o sargento Jack Greef e os cabos Sam Fourie e Kloppers Kloppies foram condecorados com a Honoris Crux” por terem participado na operação. É uma das mais altas condecorações militares da África do Sul. 

O acto de sabotagem e a libertação de gases tóxicos dos depósitos em chamas criaram perigo de poluição que afecta a saúde, sobretudo as vias respiratórias. Grupos mais vulneráveis, como crianças e idosos, nos dias que se seguiram ao gigantesco incêndio, tiveram que receber assistência hospitalar.

A população que vivia a Norte de Luanda teve de abandonar os seus lares e muitas famílias perderam os seus haveres. Além da catástrofe económica, também se registou um grande problema social, com repercussão evidente no Ambiente. 

O Governo angolano acusou a África do Sul de tentar sabotar toda a Refinaria de Luanda, pertencente a investidores estrangeiros. Em conferência de imprensa alargada, o ministro dos Petróleos, Pedro de Castro Van-Dúnem (Loy), afirmou que o ataque danificou tanques de combustível e “pipelines” mas não afectou o complexo da refinaria propriamente dita. 

Os trabalhadores angolanos da refinaria mostraram uma coragem excepcional, retirando milhares de barris com substâncias aditivas que estavam armazenados. Se não tivessem feito isso num espaço de tempo muito curto, tinha havido um desastre ecológico de proporções inimagináveis, que punha em risco a vida de milhares e milhares de luandenses.  

O regime racista de Pretória e mais uma vez sob a capa da UNITA fez outra operação de sabotagem nas instalações petrolíferas de Cabinda. Corria o ano de 1985, já lá vão 40 anos. Desta vez os terroristas não conseguiram danificar nada e tiveram baixas significativas. Os combatente das FAPLA fizeram prisioneiro o capitão Recces Wynand du Toit.  

Após as eleições de 1992, a UNITA partiu para a rebelião armada e destruiu tudo o que apanhou pela frente. Instalações do Estado, unidades económicas e equipamentos sociais. O objectivo era tornar a vida impossível às populações de forma a refugiarem-se em Luanda, o grande porto de abrigo. Um dos objectivos de Savimbi era transferir a Jamba para a fronteira Nordeste de Angola. Para isso teve a ajuda de tropas ruandesas que também queriam derrubar o regime congolês. Foram derrotados e o Presidente Kabila continuou no poder. 

O que está a acontecer no Leste da República Democrática do Congo pode significar o regresso a uma guerra por procuração contra Angola.

A UNITA e seus aliados de ocasião ganharam as eleições de 2022 em Luanda. Ninguém até agora reagiu a esse quadro político. A UNITA e seus sequazes ganharam as eleições nas províncias do Zaire e Cabinda. É preciso verificar e reverificar se estes resultados eleitorais têm ligação com uma guerra por procuração contra Angola. Confesso a minha perplexidade quando vejo que as três províncias estratégicas são governadas como se não existisse o perigo real de guerra. Até parece que não temos militares com uma folha de serviço brilhante para governarem Cabinda e Zaire. Devem estar à espera das tropas de Trump. 

O Presidente João Lourenço já recebeu no Palácio Presidencial da Cidade Alta o chefão da EXXON MOBIL, Hunter Farris. Deve ser para a passagem de pastas. 

A UNITA põe permanentemente em perigo o regime democrático. E já deu um sinal preocupante. Recusa oficializar a Frente Patriótica Unida (FPU) porque desistiu da democracia e entrou na via do golpismo. Cuidado! O Joel da Operação Rastejante é uma manobra de diversão. O iceberg está escondido em Viana e na bancada parlamentar da UNITA.

* Jornalista

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