sexta-feira, 7 de fevereiro de 2025

A XENOFOBIA NA EUROPA

No continente escolhido por milhares de imigrantes e visitantes, onde existem e coabitam históricas minorias raciais, culturais e religiosas, o preconceito, a aversão e às vezes o ódio a quem é diferente ou estrangeiro têm crescido. Ameaçam a convivência social, a política e o próprio desenvolvimento da economia dos países que hoje fazem parte da União Europeia.

A palavra “xenofobia” tem origem no grego. É composta por Xenos (ξένος), que significa “estranho” ou “estrangeiro” e Phobos (φόβος), que significa “medo” ou “aversão”.

Celso Japiassu | Fórum 21 | # Publicado em português do Brasil

Imigrantes e refugiados, ciganos, árabes e muçulmanos, africanos e afrodescendentes, asiáticos, e LGBTQ+ formam os principais grupos que sofrem diferentes formas de xenofobia que envolvem discriminação social, violência, discurso de ódio e políticas públicas restritivas.

O aumento da população estrangeira na Europa é motivado por razões econômicas, falta de recursos naturais nos países de origem, crises humanitárias, guerras ou guerrilhas. A Europa apresenta fatores de atração: economia estável, oferta de emprego e melhor qualidade de vida.

A crise

O aumento da intolerância e da violência está ligado ao desemprego e à crise do modelo de bem-estar social europeu. O sentimento de privação dos cidadãos locais dá lugar à tendência de culpar os estrangeiros pelos problemas econômicos e sociais.

Em dezembro de 2023 uma ação conjunta da Alemanha, França, Espanha, Itália e Áustria resultou em medidas contra 209 pessoas suspeitas de envolvimento em crimes violentos de ódio. Os acusados são principalmente extremistas de direita e alguns responsáveis por atos antissemitas que se multiplicaram desde o início do conflito entre Israel e o Hamas.

Em 1997 foi criado o Observatório Europeu do Racismo e da Xenofobia que poucas vitórias conseguiu na luta pela tolerância e a integração. Enquanto as redes sociais ajudam a disseminar o ódio e a intolerância, autoridades procuram fortalecer as leis contra a discriminação e os crimes de ódio, ao mesmo tempo em que procuram promover a educação intercultural e conscientizar sobre diversidade. Há programas também de combate à desinformação e aos estereótipos negativos sobre imigrantes e minorias.

Alguns países

Na Áustria, as autoridades manifestam preocupação com a propaganda racista na política e com o aumento da violência policial contra as minorias. Imigrantes, refugiados e mesmo cidadãos austríacos de origem estrangeira reclamam da propaganda racista e xenófoba na política e do comportamento da polícia em relação às minorias.

No Reino Unido há tratamento discriminatório de minorias na mídia e discursos políticos que defendem medidas restritivas ao asilo e à imigração. A polícia é acusada de preconceitos racistas. Os crimes de ódio têm aumentado, principalmente depois do Brexit, em 2016. Em julho desse ano houve aumento de 41% nos crimes ligados à xenofobia. Imigrantes e refugiados reclamam de tratamento discriminatório, principalmente por parte da imprensa e dos discursos políticos que defendem medidas restritivas ao asilo e imigração. Protestam contra os preconceitos da polícia britânica.

Na Dinamarca há propaganda política xenófoba, discriminação de imigrantes no mercado de trabalho, no direito à habitação e de acesso a locais públicos.

Na Albânia os ciganos são os mais perseguidos pelo racismo e a discriminação, na Macedônia não há leis de combate ao racismo e as diferentes comunidades isolam-se umas das outras.

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De acordo com o PewResearch Center, a Hungria é um dos países mais xenófobos da Europa. Setenta e dois por cento dos húngaros têm visão negativa dos mulçumanos, a mais alta entre os países pesquisados. O preconceito e o ódio xenófobo começaram a aumentar a partir de 2010, ano em que chegou ao poder o partido do primeiro-ministro de extrema direita Viktor Orbán.

Na Dinamarca, a xenofobia manifesta-se na propaganda política, discriminação no mercado de trabalho e no direito à habitação e acesso a lugares públicos. Os muçulmanos são o grupo mais afetado e reclamadas leis contra a discriminação que não são capazes de garantir proteção.

A França, historicamente vista como um país de liberdade e forte democracia, abriga hoje o maior partido de extrema-direita da Europa e um em cada cinco eleitores votou no RessemblementNational, o partido de extrema-direita liderado por Marine Le Pen.

Na Holanda, o Partido pela Liberdade (Partijvoor de Vrijheid, PVV), terceiro maior partido do país, lidera as pesquisas e defende a proibição do Alcorão e a construção de mesquitas.

Os partidos de extrema-direita estão intimamente ligados ao crescimento da xenofobia, do racismo e da intolerância na Europa. Nas eleições parlamentares da União Europeia de junho de 2024, esses partidos obtiveram resultados históricos ao derrotar os blocos centro-liberais. Foi um avanço que reflete o sentimentoanti-establishment e o fortalecimento de forças racistas entre a população.

Na França, o Reagrupamento Nacional conquistou 33% dos votos, mais que o dobro do partido Renascimento de Macron. Na Alemanha o parlamento acaba de aprovar uma proposta do líder da oposição, FriedrichMerz,da CDU, partido de Angela Merkel, e cotado para ser o futuro chanceler, tornando mais duras as leis de imigração e concessão de asilo. O neonazista Alternativa para a Alemanha (AfD) chegou no segundo lugar nas últimas eleições, com 16% dos votos.

O extremista de direita Partido da Liberdade chegou a 26% dos votos na Áustria e na Grécia o partido Aurora Dourada, abertamente xenófobo, conquistou mais de 7% da votação nacional. Na Hungria, os partidos de extrema-direita obtiveram votação de até 70% no parlamento e em Portugal o partido Chega, com pautas anti-imigração, elegeu 48 deputados nas eleições de março de 2024.

*Imagem em destaque: Refugiados sírios em estação ferroviária em Budapeste, Hungria (Mstyslav Chernov/Unframe/Wikimedia Commons)

*Celso Japiassu - Poeta, articulista, jornalista e publicitário. Traballhou no Diário de Minas como repórter, na Última Hora como chefe de reportagem e no Correio de Minas como Chefe de Redação antes de se transferir para a publicidade, área em que se dedicou ao planejamento e criação de campanhas publicitárias. Colaborou com artigos em Carta Maior e atualmente em Fórum 21. Mora hoje no Porto, Portugal.

É autor de Poente (Editora Glaciar, Lisboa, 2022), Dezessete Poemas Noturnos (Alhambra, 1992), O Último Número  (Alhambra, 1986), O Itinerário dos Emigrantes (Massao Ohno, 1980), A Região dos Mitos (Folhetim, 1975), A Legião dos Suicidas (Artenova, 1972), Processo Penal (Artenova, 1969) e Texto e a Palha (Edições MP, 1965).

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