domingo, 9 de fevereiro de 2025

Angola | Fanfarrão com Garras Atómicas -- Artur Queiroz

<> Artur Queiroz*, Luanda

O actor norte-americano Richard Gere foi galardoado com o Prémio Goya, que recebeu das mãos do seu colega António Banderas. A cerimónia decorreu na ressaca da cimeira de Madrid, que juntou os fascistas e nazis de todo o “mundo civilizado” e se autointitulam de patriotas. O artista do cinema disse que Donald Trump é um fanfarrão, um rufia. Anda a intimidar parceiros liberais, desde os Chicago Boys aos autocratas de todas as latitudes. 

Trump também intimida quem sabe que os rufias da Casa dos Brancos têm garras atómicas. São um perigo permanente para a Humanidade. Um dos inquilinos, Harry Truman, mandou despejar bombas nucleares sobre as cidades japonesas de Hiroxima e Nagasaki. Convém nunca esquecer os milhões de civis indefesos que morreram nos bombardeamentos e ao longo de décadas, vítima das radiações. Os japoneses vivem até hoje de joelhos ante aos rufias de Washington Dici. 

Em Angola, depois das FAPLA derrotarem os fanfarrões da Casa do Brancos e as suas capoeiras internas, o Presidente José Eduardo dos Santos falou com Bill Clinton, mas de igual para igual. O Presidente João Lourenço, vá lá saber-se porquê, ajoelhou-se aos pés do assassino e genocida Joe Biden. Quanto ao rufia, não sabemos qual vai ser o tratamento. Como na vida nada é linear, pode ser que venha do palácio da Cidade Alta uma surpresa. Eu adoro surpresas e ideias malucas.

Um dia meu pai regressou de Lunda, com a carteira cheia de dinheiro. Tinha vendido bem a mabuba ao senhor Martins dos Santos, grande comprador e exportador de café, com armazém no Bungo. Juntou a tribo e anunciou: Vamos cobrir a casa com chapas de zinco! Foi uma festa.

A cobertura de capim tinha os seus problemas. Estava na cama e caiam-me em cima osgas. Tinha mais medo daquela frieza do que tenho do rufia que mora na Casa dos Brancos. Se os aguaceiros eram muito fortes e prolongados, começava a pingar no quarto. Uma chatice. Além disso estavam sempre a cair restos de capim enegrecidos que cheiravam a mofo e podridão. Maldito tecto de capim!

Um sábado luminoso, bem cedo, chegaram os construtores de tectos. Primeiro tiraram o capim. Depois fizeram um forro com tábuas finas. Logo a seguir construíram uma estrutura com barrotes e ripas. Por fim pregaram as chapas. Eu e o Maninho, neto do latoeiro da Kapopa, senhor Van-Dúnem, ficámos a ver e ajudámos! Dávamos água aos operários sequiosos. O tecto de zinco ficou pronto e entrámos em casa. Era outro mundo. Aquele forro de tábuas finas não deixava passar as osgas nem as gotas da chuva. 

No dia seguinte acabou o encanto. A casa ficou tão quente que parecia um fogareiro. O meu pai não era homem de se intimidar. Foi buscar uma carrada de capim nas margens do Kanuango e cobriu o zinco com feixes. A casa ficou fresquinha. Há sempre uma solução para os problemas. O rufia da Casa dos Brancos está condenado à derrota.

O Conselho Superior da Magistratura Judicial abriu concurso para selecionar o magistrado que vai presidir à Comissão Nacional Eleitoral (CNE). Os rufias da capoeira e seus pintainhos do Bloco Democrático logo cantaram a fraude. As eleições são em 2027 e eles já estão a marcar o seu lugar. Querem ser os primeiros a arranjar desculpas esfarrapadas para a mais do que certa derrota. 

O presidente da Comissão Nacional Eleitoral (CNE) não é um rufia que intimida os representantes dos partidos na instituição. E são 16 comissários em representação dos partidos que elegeram deputados em 2022. Como o MPLA tem maioria absoluta, indicou nove comissários. A UNITA quatro e três representam três partidos que tiveram votações residuais: FNLA, PRS e Partido Humanista. 

Esta composição levou a UNITA à deserção. Mais uma vez abandonou o Parlamento traindo os seus eleitores. Porque queria que a maioria absoluta conquistada pelo MPLA nas urnas se esfumasse na Comissão Nacional Eleitoral. Para os da capoeira, os comissários deviam ser oito para o MPLA, cinco para a UNITA e três para FNLA, PRS e Partido Humanista. Quem venceu as eleições com maioria absoluta ficava com o mesmo número de comissários dos partidos da oposição. É assim a democracia deles. Eleger um magistrado judicial para presidir à CNE? Os fogareiros da Jamba podem fazer isso, queimando quem se opuser aos galos.

Mal foi anunciado o concurso para eleger o magistrado judicial que vai presidir à CNE, logo Ernesto Mulato, membro da Comissão Política Permanente da UNITA, fez esta declaração: “Neste concurso aberto, queremos que saia um presidente da CNE sem compromissos políticos para acabar com golpes institucionais”. E para mostrar que os da capoeira não respeitam as instituições democráticas, sobre o concurso afirmou: “É mais uma encenação que não vai acrescer em nada num processo que se quer sério”.

Os pintainhos do Bloco Democrático, pela voz do seu secretário-geral, Muata Sebastião, dizem que a eleição do novo presidente da CNE “não resultará em nada a menos que algum milagre divino aconteça, o que é pouco provável”. Estes, se não houver  Frente Patriótica Unida (FPU) estão condenados à extinção mas falam como se fossem galos. É por estas e por outras que o MPLA ganha as eleições, sempre e com maioria absoluta. A democracia angolana só fica completa quando os rufias da UNITA forem reduzidos à sua insignificância e do MPLA sair uma Oposição que garanta a alternância.

A África Austral perdeu Sam Nujoma, o líder da SWAPO, organização revolucionária que fez a luta armada de libertação da Namíbia. Um homem de grande categoria. Um dia fui ao Futungo recolher uma declaração de Agostinho Neto. Ele estava com pressa porque ia à pesca com “o líder dos combatentes da Namíbia”. 

Nessa altura ninguém o conhecia, por isso pedi a Agostinho Neto que me proporcionasse uma entrevista com Sam Nujoma. Mais tarde tratamos disso! Nunca aconteceu. Meti uma cunha à minha amiga Linda Graça para me proporcionar a entrevista. Disse que sim. Não aconteceu, apesar das “cunhas” que meti. Nem sempre a sorte protege os repórteres.  

* Jornalista

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