<> Artur Queiroz*, Luanda ---
Março Mulher tem muito que se lhe diga. Já não é o que era porque as mulheres angolanas perderam cotação, desde que João Lourenço encabeçou a lista de candidatos a deputados do MPLA. Até as suas colegas parlamentares se submeteram ao deus nascido do voto popular. Automaticamente deixou de ser um igual. Chegado ao olimpo ficou com os votos e eliminou os populares com a assinatura num decreto presidencial. Março continua a ser tempo da chuva arrasa capim. Tempestades impetuosas em terra e no mar. Ondas gigantes que matam. Mas não se desesperem, o mar devolve sempre quem não lhe pertence.
Neste Março Mulher surgiu um vazio de informação mais fundo que a Fossa do Mindanau. Os aprendizes sabem que os vazios rapidamente são preenchidos nem que seja com ouvi dizer, consta, dizem que, os gorilas da segurança, coitadinhos dos antigos presidentes, um senador foi barrado, o protocolo morreu em combate no Leste da República Democrática do Congo, deus está na Etiópia sentado no trono do rei Preste João das Índias.
Antes que nasça mais um vazio, informo que este soberano fundiu o reino cristão-monofisista da Abissínia com os cristãos nestorianos da Ásia Central. Preste João das Índias era descendente de Baltazar, um do três Reis Magos. O seu Palácio da Cidade Alta era guardado por homens ferozes com cabeça de cão. Hoje essa guarda pretoriana é constituída por cães kabiris com cabeça de homens das cavernas. No seu reino, o Paraíso era mesmo ao lado do Inferno mas deste lado não havia ar condicionado. O rei de Portugal mandou para lá uma tipografia completa, na mesma altura em que despachou uma para Luanda e outra para Banza Congo. Está tudo explicado sobre Preste João das Índias, o negus da Etiópia.
Neste Março Mulher continuamos
sem informação oficial sobre o que aconteceu com dois antigos Chefes de Estado
que desembarcaram
Março Mulher colocou na boca do mundo uma mulher magistrada judicial que quer julgar rapidamente os Generais Kopelipa e Dino, em nome de interesses superiores da Justiça. Muita pressa. Queriam começar o julgamento sem os arguidos conhecerem o processo integralmente. Acalmaram. Iniciaram o julgamento sem antes apreciarem “pontos prévios”. Ordens supremas. Queriam julgar um cidadão chinês sem garantirem a presença de um tradutor. Para quê? O Tribunal não precisa de ouvir o que tem para dizer E ele não tem nada de saber o que se diz na audiência. A sentença já está escrita graças ao empenho do Doutor Tuti Fruti ou um dos seus pseudónimos.
Marretadas brutais no edifício da Justiça. O Tribunal Constitucional declarou ilegal o julgamento de José Filomeno dos Santos e dos outros arguidos. São inocentes! Mas João Lourenço disse que têm de ir para a cadeia. Obedeçam cegamente porque o sistema é cego e só ouve ordens do chefe de posto. Palmatoadas. Chibatadas. Atropelos aos Direitos, Liberdades e Garantias com um camião desgovernado. Está acontecendo.
Julgamento de Carlos São Vicente foi declarado ilegal, pela Agência dos Direitos Humanos da ONU. Libertem-no imediatamente. Indemnizem-no pelos prejuízos que lhe causaram! Ma o que é isto? Estrangeiros querem mandar na nossa Justiça! Aqui só manda o chefe de posto. O injustiçado (é inocente) ficou sem todos os seus bens que vão desde dezenas de hotéis à maioria do capital num banco. Mas ainda querem mais.
Neste Março Mulher, dia 16 (ontem) Carlos São Vicente fez 65 anos. Quando seu pai, Acácio Barradas, me deu as primeiras lições de Jornalismo, ele tinha quatro anos. Que barbaridade. Ando nesta vida de repórter há 61 anos.
O filho do meu amigo foi condenado a prisão perpétua numa sentença não escrita. É assim. Já cumpriu metade da pena e tem direito à liberdade condicional. Mas não o libertam porque ele não manifesta arrependimento nem entrega ao chefe de posto o dinheiro que tem na Suíça.
O julgamento foi ilegal. Os seus direitos como arguido foram espezinhados. Na “recuperação de activos” abocanharam tudo o que criou ao longo de uma vida de trabalho. Mas se quer a liberdade tem que se arrepender do que não fez. Tem de entregar ainda mais do que já lhe foi roubado. Ordens do chefe de posto. Manda quem pode, obedece quem tem dignidade de batráquio.
A criadagem do chicote e da palmatória ainda não percebeu que este chefe de posto tem os dias contados. E mesmo que o próximo seja igual, vai desfazer-se destes ajudantes e arranjar outros. É preciso distribuir as migalhas pelas clientelas.
O ministro da Administração do Território, Dionísio da Fonseca, está em Londres “a trabalhar com parceiros locais na elaboração dos instrumentos de ordenamento do território das futuras cidades de Mavinga e Cazombo”. Eu pensava que os britânicos, com graves problemas de habitação vinham a Angola aprender como se fazem novas cidades.
Claro que não é preciso ir a Londres aprender a construir, nas novas províncias, edifícios públicos em Cazombo e Mavinga. Senhor ministro, ou se arrepende ou vai ser atacado pela recuperação de activos. E cadeia! A não ser que tenha ido a Londres tratar dos negócios do chefe. Está desculpado.
* Jornalista
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