João Oliveira* | Diário de Notícias, opinião
O chumbo anunciado da moção de confiança põe em perspectiva o fim do Governo e a realização de Eleições Legislativas antecipadas.
Essa será a saída institucional para a crise política que o Governo criou, mas ela não significa, por si só e automaticamente, a solução dos problemas que conduziram a esta situação. Sobretudo porque na raiz desta situação não estão só os sucessivos escândalos em que o Governo se envolveu, está também a política que fez e a falta de resposta aos principais problemas que atingem a vida do povo e do País.
Pôr fim ao que não nos serve é necessário, mas não é suficiente. Para que a vida mude a sério é preciso que mude muito mais do que apenas as aparências.
O debate sobre a alternativa de que Portugal precisa é o debate que precisamos de fazer a fundo, tirando da frente a poeira levantada por quem não quer assumir a responsabilidade pelos problemas que criou.
A começar por quem agora deixará de ser Governo e por quem apoiou a sua política.
É a pensar nessa “mudança de vida” de que o País precisa que se destaquem 3 ideias importantes para o debate.
A primeira é a de que a estabilidade política que importa não se mede pelo calendário político, mas sim pela estabilidade da vida do povo.
Esta ideia contraria o discurso de que, se cai o Governo, vamos a eleições e se vamos a eleições isso só pode ser visto negativamente como um factor de instabilidade na vida nacional. Esse discurso apenas olha a estabilidade do País na perspectiva do calendário do mandato político.
Ora, mais importante que isso é a perspectiva da vida daqueles a quem se destina a acção política do Governo.
Uma política de baixos salários e pensões, que não garante o acesso à habitação, que recusa investimento nos serviços públicos e no acesso à Saúde, à Educação ou à protecção social, é uma política de instabilidade da vida do povo.
E, se a política do actual Governo PSD/CDS é uma política de instabilidade da vida dos trabalhadores e do povo, então essa política não serve e tem de ser mudada.
A segunda ideia está relacionada com a primeira: a mudança de política tem de ser uma mudança efectiva de políticas.
Para que a vida mude é preciso que mude mesmo a política que é feita. É preciso uma política que esteja ao serviço do povo e do desenvolvimento do País, e não submetida aos grandes interesses económicos e financeiros. É preciso uma política que ponha fim à promiscuidade com esses interesses e que tem afundado sucessivos Governos.
Por fim, a ideia de que é preciso responsabilizar quem arrastou o País para a situação em que se encontra.
A culpa não deve morrer solteira. Quem assumiu responsabilidades no Governo e quem lhe deu suporte tem agora de ser responsabilizado pelas consequências das suas opções.
Uma verdadeira mudança exige mesmo uma mudança de política e não apenas uma rotação de protagonistas.
Portugal pode mesmo “mudar de vida”, mas é preciso coragem para a mudar a sério.
* Eurodeputado
Escreve sem aplicação do novo Acordo Ortográfico
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