quinta-feira, 26 de junho de 2025

A Prova do Algodão – Artur Queiroz

Artur Queiroz*, Luanda >

O Almirante Leonel Cardoso teve a missão de levar o processo de descolonização em Angola até ao fim, depois do Governo de Lisboa ter suspendido o Acordo de Alvor. Na tarde de 10 de Novembro 1975 a bandeira portuguesa no Palácio da Cidade Alta foi arreada, com honras militares. O alto-comissário e seus colaboradores foram para a Base Naval, na Ilha do Cabo, onde embarcaram num vazo de guerra para Portugal. Tinha acabado o império colonial português. Quando desembarcou, um jornalista perguntou-lhe: E Agora Angola? Ele respondeu assim: “Não sei. Ma tenho uma certeza, é impossível governar o país sem o MPLA”. Eu acrescento: Mesmo que o seu líder seja João Lourenço ou um político equivalente.

A I Guerra Mundial começou a 28 de julho 1914 e acabou em 11 de Novembro 1918, quatro anos. A II Guerra Mundial rebentou no dia 1 de Setembro 1939 e terminou a 2 de Setembro 1945. Foram seis anos. Ao todo as duas grandes guerras duraram dez anos. Destruíram o mundo.

Angola é a nossa Pátria. A Guerra dos Dembos, contra os colonialistas, decorreu entre 1872 e 1919. Durou 47 anos. Mas o período mais destrutivo foi entre 1890 e 1907. Milhares de mortos e todos os Dembos em guerra, eliminados. Só restou o Dembo Kazuangongo. A sua Cidadela Real, na Pedra Verde (Ninho da Águia), foi invadida em 1919 e a resistência extermínada. A guerra no Norte de Angola e na Europa mergulhou a colónia num crise económica sem precedentes, da qual nunca mais recuperou, apesar do “El Dorado” do café.

Entre 1920 e 1961 as guerras contra os ocupantes continuaram em baixa intensidade. No dia 4 de Fevereiro 1961 rebentou a Luta Armada de Libertação Nacional (MPLA). Altíssima intensidade! No dia 15 de Março 1961 aconteceu a Grande Insurreição no Norte (UPA/FNLA). Os canhangulos e as catanas acertaram no coração do colonialismo. Mas demorou a morrer. 

A guerra colonial só terminou em 1974. Mais 13 anos a somar aos 47 da Guerra dos Dembos. Já temos mais de meio século de guerra em alta intensidade (60 anos). Em 1974 começou a Guerra da Transição, até 11 de Novembro 1975. E esta foi continuada na Guerra pela Soberania Nacional e a Integridade Territorial. Que continuou coma rebelião armada da UNITA contra a democracia, entre 1992 e 2002. Mais 28 anos.

A Europa ficou devastada com dez anos de guerra. Para recuperar da ruína precisou do Plano Marshal. Ou Programa de Recuperação Europeia. Angola, ao fim de 88 anos de guerra e séculos de colonialismo, ficou entregue a si própria. Mesmo assim os dirigentes do MPLA conseguiram o apoio da República Popular da China na Reconstrução Nacional. Graças ao petróleo. 

Agostinho Neto e Carlos Rocha (Dilolwa), em plena Guerra da Transição, antes da Independência Nacional, negociaram com a administração da Cabinda Gulf e os fundos do Orçamento Geral do Estado ficaram garantidos. Depois entraram em Angola outras petrolíferas e o financiamento do esforço de guerra ficou igualmente garantido. Grandes dirigentes! Sem o MPLA ninguém consegue governar Angola.

A décima sétima edição da Cimeira de Negócios EUA-África abriu ontem em Luanda, numa cerimónia presidida pelo ministro da Indústria e Comércio, Rui Miguêns. Também participou na abertura a senhora Florizelle Liser, presidente da Corporate Council on África (CCA) Fui saber quais foram os resultados práticos das anteriores cimeiras. Zero vírgula zero para África. Tudo para o estado terrorista mais perigoso do mundo (EUA). O costume nas relações coloniais. 

O comércio Angola-EUA cresceu ligeiramente em 2024, mas caiu a pique no primeiro semestre de 2025. Angola exporta petróleo, parakuka e rama de jimboa. Importa aviões e carne de frangos com fosfo furanos, excrementos de supremacistas brancos e as tarifas de Trump.

A Cimeira de Negócios EUA-África só aconteceu seis vezes em África: Adis Abeba, Gaberone, Joanesburgo, Maputo e Rabat. Agora Luanda. Quais são os Investimentos dos EUA na Etiópia? Ninguém sabe, logo não existem. A Casa do Brancos recorre ao velho truque das “doações”: Toma lá uma salsicha dá cá uma kibanga cheia de porcos. 

Qual é o investimento dos EUA na África do Sul? Ninguém sabe, logo não existe. A Casa dos Brancos finge que apoia projectos na área das energias renováveis e em troca leva diamantes e ouro!

Qual é o investimento dos EUA em Marrocos? Ninguém sabe, logo não existem. Ma a Casa dos Brancos está em primeiro lugar no fornecimento de torturas e prisões arbitrárias no reino berbere. Em 2024, as exportações de Marrocos para os EUA atingiram o astronómico número de 5,6% por cento. 

Qual é o investimento dos EUA no Botswana? Desconhecido. Mas pode chegar a zero. E em Moçambique? Ninguém sabe. Ma é certo e seguro que a Casa do Brancos exporta para Cabo Delgado os terroristas jiadistas do Estado Islâmico. E investiu tudo no  bandoleiro Venâncio Mondlane. Qual é o investimento dois EUA em Angola? Milhões na agricultura, noves fora nada. Muitos biliões no Corredor do Lobito que se foram de Carrinho. Nada vezes nada. Tudo folclore e conversa afiada.

Jamais direi que os políticos são todos iguais a Donald Trump e João Lourenço. A prova é que Angola chegou a 2025 como um Estado Independente e Soberano. Ma estou preocupadíssimo com os jornalistas. Quando comecei nos anos 60 a maioria dos “rapazes dos jornais” vendia-se aos donos por um prato de lentilhas. Depois de 1974, alguns viraram comissários políticos e eram pagos em géneros sumptuários mais as lentilhas. Outros faziam figura de ressabiados do fim do colonialismo. Prosperaram como escribas a soldo ou criadagem dos sicários da UNITA. O Jornalismo deixou de ser o serviço militar dos poetas.

Com a guerra no Médio Oriente os mísseis e bombas perfuradoras acabaram de vez com o Jornalismo e os Jornalistas. Mas andam todos muito felizes. É o fim do mundo!

As agências bancárias já encerraram. A administração da Empresa Edições Novembro não pagou nem disse quando vai pagar o que me deve há dez anos. Caloteiros e ladrões do pão alheio têm a bênção do empregado do povo. Kinga ainda! A vossa vez vai chegar.  

* Jornalista

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