< Artur Queiroz*, Luanda >
O papel dos Países da Linha da Frente (mais um, a Nigéria) na libertação da África Austral foi importantíssimo a partir do dia em que o Presidente José Eduardo dos Santos contrariou os grandes dirigentes africanos, que queriam a saída das tropas cubanas de Angola sendo substituídas por forças regionais. Vale a pena conhecer o desfecho desta cimeira e por isso hoje envio uma reportagem publicada no Jornal de Angola, dia 6 de Dezembro 2014. O centenário periódico organizou agora uma conferência em Luanda sobre o tema. Devem ter divulgado a peça. Mas na dúvida segue à parte desta crónica.
Acabo de saber que a reportagem sobre a grande vitória diplomática de Angola na Cimeira de Lagos, que juntou os países da Linha da Frente (Angola, Botswana, Lesoto, Moçambique, Tanzânia, Zâmbia e Zimbabwe) e a Nigéria, não foi distribuída aos participantes na importantíssima conferência. O Jornal de Angola ignorou o Jornal de Angola.
A conferência teve como oradores a Secretária-Geral da SWAPO, General Sophia Shaningwa, o antigo Presidente de Moçambique, Joaquim Chissano, o General cubano Leopoldo Cintra Frias, o Embaixador Vladimir Tararov e o General António dos Santos França (Ndalu). O General Zé Maria não esteve presente e ele é o único angolano vivo que participou na Cimeira de Lagos.
Organizar uma conferência internacional sobre o papel dos Países da Linha da Frente na Libertação da África Austral e não convidar o General Zé Maria é um crime de lesa História. Por isso vou aceitar que foi convidado. Então porque não apareceu par dar o seu testemunho, pelo menos sobre Cimeira de Lagos? Espero que não tenham sido razões de saúde. Mas não podemos afastar a hipótese de ter sido ignorado. A estupidez militante é contagiosa e tem razões que a própria estupidez desconhece.
Membros da Delegação Angolana à Cimeira de Lagos: José Eduardo dos Santos, Presidente da República Popular de Angola. Paulo Teixeira Jorge, ministro das Relações Exteriores. Afonso Van-Dúnem “Mbinda”, membro do Bureau Político do MPLA para as Relações Exteriores. Major António José Maria (Zé Maria), chefe da Casa Militar do Presidente da República.O Jornal de Angola teve um papel único no desenterrar da Batalha do Cuito Cuanavale que pôs fim ao regime racista de Pretória. Libertou Nelson Mandela. Libertou a Namíbia ocupada. Negligência ou ignorância cobriram esse acontecimento histórico com um véu de esquecimento. Muita poeira e o lodo dos pântanos do Triângulo do Tumpo.
Jornalistas do Jornal de Angola produziram reportagens com o titulo o “Os Meses que Mudaram África e o Mundo”. Tudo começou com a Cimeira de Lagos (Setembro de 1981) e acabou no dia 23 de Março 1988. Fui um dos executantes e coordenador desses trabalhos jornalísticos, A minha fonte principal foi o General Zé Maria e sua equipa fabulosa da qual destaco os Generais Feijó e Beto. O repórter fotográfico foi Paulino Damião (50). Também trabalharam os meus repórteres favoritos: Adalberto Ceita e Santos Pedro.
No início as viagens ao Cuito Cuanavale eram semanais. O anfitrião foi o General Nando Cuito que esteve ao comando das tropas, no terreno, ao longo dos meses que mudaram África e o Mundo. O primeiro comandante era o General Ngueto. Os comandantes das unidades que esmagaram os racistas de Pretória:
Capitão Zenzeka (oitava brigada). Capitão Incendiário (décima brigada). Capitão Kiluanji depois capitão Missai a seguir primeiro-tenente Keba (13ª brigada de desembarque e assalto). Capitão Sacudido (16ª brigada). Capitão Ngeleca (21ª brigada). Capitão Valeriano (25ª brigada). Capitão Napoleão (36ª brigada). Capitão Arnaldo Kambissula (47ª brigada). Capitão Dimas (59ª brigada).Capitão Justo Kangamba (66ª brigada). Capitão Faz Tudo (24ª brigada de foguetes e rádio-localização). Capitão Jota (52ª brigada de defesa antiaérea). Capitão Moniz (68ª brigada de artilharia). Capitão Samuconga (244ª brigada de destinação especial/ reconhecimento profundo no terreno do inimigo). Primeiro-tenente Silva (Segundo Grupo Tactico).
O Tenente-Coronel Ngueto, em 1988 tinha 29 anos. O Major Nando Cuito, 27 anos. Os Capitães e Tenentes entre 20 e 25 anos. O Estado terrorista mais perigoso do mundo (EUA), Reino Unido, França, Alemanha, Forças de Defesa e Segurança da África do Sul mais os s aliados da UNITA foram derrotados por jovens angolanos quase meninos! Essa Juventude Heroica pôs fim ao mais grave crime cometido contra a Humanidade, o regime racista de Pretória. Por excesso de generosidade permitiram a continuação do Galo Negro.
Na s idas ao Cuito Cuanavale viajávamos no gigantesco avião de carga Ilyushin. Nas laterais sentavam-se os passageiros em bancos de lona que encolhiam. Éramos quase todos civis. No meio ia a carga, quase sempre tambores de combustíveis. Era uma bomba atómica voadora. Um tripulante vinha frequentemente avisar os passageiros que ninguém podia fumar! Na primeira vigem disse ao Mano “50”:
- Se isto cai passamos logo de pó e cinza ao estado de nada. Os crentes vão lixar a vida de Deus. Fica até alo último dia da eternidade à procura dos pedacinhos das almas.
O Mano “
- Não faz mal, já somos velhos. Não gastam dinheiro no nosso funeral.
Fiquei ofendido. Tinha deixado em Luanda uma noiva gentil E lembrei-lhe a minha condição de noivo. Mano 50 enfadado respondeu:
- Se isto cair sorte dela. Troca o velho por um novo.
Não se pode trabalhar com um parceiro assim. Mas fizemos dezenas de reportagens que destaparam o véu de esquecimento atirado sobre a Batalha do Cuito Cuanavale. Limpamos a poeira e retiramos o lodo. Mostrámos ao mundo e particularmente à África Austral como foi a sua libertação do crime hediondo que foi o regime de apartheid.
Os bancos já fecharam e a administração da Empresa Edições Novembro não me enviou o comprovativo do depósito ou transferência de uma parte do que me deve, para a conta do Lar Kuzola. Além de caloteiros estão a roubar o pão de crianças desvalidas. Ladrões do pão de uma criança, Nataniel Queiroz. Vou opor-me com todas as forças. Paguem o que me devem. Não sejam caloteiros e ladrões do pão de crianças.
*Jornalista
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