< J. Bazeza, Luanda >
Os jornalistas da rádio pública, na abertura da Feira Angola TIC, fintaram os auxiliares de primeira e de segunda das Telecomunicações de Informação e Comunicação Social, dando tempo de antena a uma criança que ganha a vida como engraxador. O menino mostrou ante as câmaras como se engraxam os sapatos dos que enchem a pança sentados à mesa do Orçamento Geral do Estado.
O menino engraxou uns quantos pares de sapatos e depois foi ao estúdio improvisado, com a caixa de engraxador ao ombro. De viva voz disse que tem 12 anos. Não estuda. É o primeiro filho de quatro irmãos. Vive com a mãe mas sem pai. Tem que trabalhar para ajudar a sustentar os irmãos mais novos. Depois de revelar o seu currículo disse aos jornalistas:
- O meu sonho é ser Presidente da República. Quando eu for presidente, a minha Mamã não precisa de trabalhar tanto e os meus irmãos vão ter sempre comida no Palácio da Cidade Alta.
Os jornalistas, atónitos, ainda ouviram mais esta:
- Quando eu for presidente desta república todos vão ter boas condições de vida. Todas as crianças vão estudar. Ninguém vai morrer de malária e com as diarrumbas da cólera. Nenhuma criança vai morrer de fome. Nenhuma criança vai trabalhar para sustentar os irmãos mais novos. E digam ao Soba Grande que eu não quero ser patrão dele. Nem que me dê ajustes directos. Nem que me leve às costas para o Corredor do Lobito. Nem que me deixe importar comida estragada ou fora de prazo par depois entregar ao povo, de carrinho.
Dito isto o menino berrou: Vai graxa patrão? Sapato fica limpinho!
Em menos de uma hora o miúdo engraxou tantos pares de sapatos, que conseguiu ganhar quatro mil kwanzas. O puto não sabe a quem engraxou sapatos. Mas sabe que as novas tecnologias são excelentes para o negócio de engraxador. Boca Azul acredita que o menino engraxou uns tantos auxiliares do Poder Executivo.
Num monitor ao lado, a TPA emitia
- O meu patrão é o povo. O meu patrão é o povo.
Depois aparece a conduzir uma máquina. E de novo: O meu patrão é o povo!
Quem tem um presidente assim não precisa de inimigos. Se o sa Vimbi tivesse um pouco de paciência, chegava à Cidade Alta com a maior da facilidades, quando este soba pequenino e barrigudo for recambiado para o mato grosso.
O menino engraxador falou assim para o presidente que quer desesperadamente ser empregado do povo, para fazer mais uns negócios bilionários por baixo da mesa:
- No dia em que o povo der emprego a este estiloso, fica sem espaço para morrer. Nem uma cova funda nos resta. Ele é capaz de fazer fazendas nos cemitérios e transformar os mortos em fertilizantes para as plantações. Ele mesmo até vende a Nossa Senhora da Muxima aos profetas da desgraça.
De um stande ao lado o pessoal aplaudiu. Logo a seguir chegaram uns sujeitos de má catadura. Identificaram-se e levaram os aplaudidores presos. Neste Estado Democrático e de Direito só os bajuladores certificados podem aplaudir e engraxar o chefe!
A entrevista ao menino engraxador veio mostrar que nos órgãos de Comunicação Social ainda há jornalistas. Existem repórteres que sabem distinguir notícias de propaganda. Mafioso aplaude a coragem dos jornalistas, que deram tempo de antena ao Presidente Engraxador no noticiário das 13 horas.
O nosso menino engraxador foi autêntico. Deu-nos uma lição. O presidente que engraxa o povo dizendo-lhe que é seu empregado, vai mesmo ser julgado no Tribunal Supremo. E para aprender, o engenheiro Manuel Vicente não vai depor como testemunha. Até porque se abrir boca, podem voar uns quantos biliões dos cofres do servo do povo!
A mentira comparada é isto mesmo. Engraxador presidente ou presidente que engraxa o povo.
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