quinta-feira, 12 de junho de 2025

NAZIS EM PORTUGAL – no passado salazarista e ainda mais fortalecidos na atualidade


O Chega tem sido e é o combustível que alimenta o nazi-fascismo extremista em Portugal que com falas manhosas engana os portugueses na linha ideológica pseudodemocrática. Nas últimas eleições mais de um milhão de portugueses caiu na esparrela sob as palavras de falsas promessas eleitorais de um André Ventura arguto que passo a passo avança para o extremismo radical absolutamente nazi-fascista que a atingir os seus propósitos conduzirá Portugal e os portugueses à antidemocracia repressiva e criminosa que têm por objetivo. Espanta e assusta que os portugueses eleitores, os trabalhadores, os explorados e oprimidos, se deixem enganar tão exponencialmente, tão perigosamente. 

A atual democracia tem de facto muitos defeitos devido ao extremo-neoliberalismo exacerbado vigente no país, exercido sobre todos nós. Falsamente diz-se a antecâmara a caminho de uma sociedade livre e realmente democrática, pacífica e humanista, sem racismo, sem excessos antidemocráticos e repressões criminosas de amago nazi-fascistas. Mas o perigo vem declaradamente da extrema-direita e o partido de Ventura é o combustível que dá força de existência (apesar das suas falsas palavras que se adivinham) aos grupos nazis que proliferam em Portugal. Urge denunciar isso mesmo com toda a pertinência e agir democraticamente através de leis sobre os perigos que ameaçam a democracia e a liberdade dos cidadãos que vivem em Portugal.

O cartoon acima é de Henrique Monteiro em HenriCartoon, que nem de propósito surge na hora certa e muito oportuna em jeito de alarme e de defesa da democracia em Portugal. A seguir incluímos um artigo do Diário de Notícias de Amanda Lima no ano de 2024, relativamente recente. Vá ler e ter a liberdade de saber pensar.

Grupos de ódio mobilizaram campanha do Chega e "preparam o terreno" para que partido tome ações mais radicais

Mário Machado, líder do grupo nazi 1143, triste figura opositora da antidemocracia

A Reconquista e o 1143 já saíram da bolha online e estão nas ruas. Fizeram campanha ao Chega e celebraram o resultado. Agora, trabalham para a radicalização das leis, especialmente a “remigração” - uma maneira soft de chamar a deportação em massa. O discurso já é difundido pela juventude do partido.

Amanda Lima | em Diário de Notícias | Publicado a: 11 Mai 2024, 11:58

Deportações em massa de imigrantes. Mulheres sem direito ao voto e proibidas do acesso à internet. Proibição do aborto em todos as situações - incluindo violações. Dificultar o divórcio. Proibir casamento de portugueses com brasileiras. São algumas das ideias amplamente difundidas por dois grupos de ódio que promoveram uma ampla campanha a favor do Chega nas últimas legislativas, com um objetivo maior: preparar o terreno para a implementação destas ideias no futuro, com ações já em andamento.

Estamos a falar da Reconquista, um grupo ultranacionalista formado por homens portugueses jovens, sob o comando de Afonso Gonçalves, e do 1143, do neonazi Mário Machado. Além de uma grande discriminação no campo dos direitos das mulheres, ambos difundem ideias semelhantes relacionadas com a imigração e propagam a teoria da “Grande Substituição”, que é falsa e motivadora de massacres pelo mundo, admiram os ditadores Salazar e Adolf Hitler. O DN investigou os grupos durante meses e observou uma forte campanha eleitoral pelo Chega.

“As ideias políticas têm ciclos de maturação e evolução; movimentos como a Reconquista estão a preparar o terreno cultural para que partidos como o CHEGA possam assumir posições mais resolutas na questão demográfica. A maioria das pessoas do partido Chega concorda connosco na questão da imigração, mas por uma ou outra razão determinou-se que não era essa a estratégia comunicacional mais inteligente”, escreveu Afonso Gonçalves na rede social Telegram, onde listou os motivos para votar no partido.

O mesmo anunciou publicamente esse apoio e possui relação com vários membros da juventude do partido. É o caso do supremacista branco João Antunes, Ricardo Reis, integrante da Direção Nacional do Chega Juventude e Francisco Araújo - que foi orador num congresso da Reconquista.

Já no grupo 1143, o apoio ao Chega reúne a maioria dos membros, apesar de não ser consensual. O líder Mário Machado declarou o voto no partido. Há membros que votaram no ADN e Ergue-te, por considerar o Chega um partido “pouco radical”. O DN ouviu mais de duas dezenas de horas de debate no X (antigo Twitter) e acompanhou meses de conversa no chat  do Telegram em que as eleições foram tema recorrente. A maior parte dos militantes concorda com as ideias do partido na área de imigração e entendem que é um “início”para alterações na lei mais radicais.

Nas legislativas, um ponto de tensão entre o Chega e o 1143 foi o brasileiro Marcus Santos, da lista pelo Círculo do Porto. Alguns dos militantes recenseados no Porto defenderam que não se devia votar, enquanto outros alegaram a importância de eleger o maior número de deputados possível. Há também quem tenha votado de forma contrariada. Uma das mulheres nacionalistas disse que “odeia brasileiros visceralmente” e que “não os suporta”, mas que votaria no Chega mesmo que elegesse Santos.

Na Reconquista, apesar do irrestrito e declarado apoio, a presença do candidato brasileiro também foi fortemente criticada. “Um preto africano, que fala brasileirês”, definiu Alexandre Gazur, um engenheiro informático considerado o “número 2” do grupo. As declarações ocorreram num space - uma ferramenta amplamente utilizada por estes grupos. Trata-se de um debate em áudio na plataforma X (antigo Twitter), onde os utilizadores podem participar como oradores. Os spaces são recorrentes e contam com a participação dos militantes de ambos os grupos, de outras franjas nacionalistas e de membros oficiais do Chega.

André Ventura e Mário Machado, Heil Hitler!

Segundo o cientista político Vicente Valentim é comum que os partidos tenham pessoas ou grupos para divulgar o discurso mais extremista. “Há vozes que não estão formalmente filiadas com o partido ou de atores que são um bocadinho mais abaixo da hierarquia, que acabam por dizer muitas coisas mais extremistas que, às vezes, a cúpula do partido vem dizer alguma coisa mais ambígua”, explica o especialista, autor do recém-lançado livro O Fim da Vergonha.

De acordo com o académico, a estratégia é bastante eficaz. “Quando o partido diz o mesmo com certa ambiguidade, permite chegar a um eleitorado que é menos extremista, mas, ao mesmo tempo, sinalizar claramente às pessoas que são mais extremistas que, se querem votar num partido, este é o partido”, argumenta. “Eles acabam por ter bastante talento a andar, por exemplo, entre não ser tão extremistas que alienam as pessoas um bocadinho menos extremistas, mas ao mesmo tempo dizer claramente aos extremistas que, se querem votar num partido, este é o partido mais próximo [das suas ideias]”, analisa.

Na Alemanha, um movimento semelhante aconteceu com o grupo PEGIDA - que defende a expulsão de imigrantes do país - e o partido Alternativa para a Alemanha (AfD). Em 2018, sob uma ordem do partido em não expor publicamente relações com o PEGIDA, um dos colíderes da AfD apelou a que membros do partido pudessem participar nas ações do grupo. Em 2022, alguns membros da AfD foram presos numa investigação sobre o planeamento de um golpe de Estado no país. Mas nem mesmo as relações obscuras e o envolvimento de membros com o crime afastam o eleitorado: sondagens indicam que a AfD possui pelo menos 15% das intenções de voto para as eleições europeias.

O politólogo Riccardo Marchi, analisa que, por mais que tanto Afonso Gonçalves, quanto Mário Machado discordem do Chega em relação à identidade nacional, viram em Ventura “uma janela de oportunidade nunca vista em Portugal para fazer avançar um certo tipo de ideia” e “apelaram abertamente ao voto ao Chega”. Ao mesmo tempo, o especialista afasta a ideia de que tais grupos são perigosos. “Não representam minimamente um perigo para ninguém e mesmo as tentativas iniciais de entrarem dentro do Chega, por exemplo, foram travadas imediatamente pela própria direção do partido ainda em 2019”, conta. O Chega não respondeu às questões do DN sobre este artigo.

Crimes de ódio e mira das autoridades

Assim como o PEGIDA e AfD, o grupo 1143 e a Reconquista estão listados como grupos de ódio na classificação do Global Project Against Hate and Extremism (GPAHE), que monitoriza conjuntos de extremistas pelo mundo. Heidi Beirich, investigadora e cofundadora do projeto, não hesita sobre o risco. “O maior perigo destes grupos reside na forma de crimes de ódio e terrorismo, geralmente dirigidos contra imigrantes e outras pessoas que eles visam e humilham. Podem também influenciar a política e puxá-la para a extrema-direita, o que também pode ameaçar os Direitos Humanos em geral”, diz ao DN.

Ambos também estão na mira de autoridades portuguesas e referenciados no Relatório Anual de Segurança Interna (RASI) 2023, ao qual o DN teve acesso. “[No ano passado], no campo dos extremismos políticos assistiu-se a um agravamento da ameaça representada por estes setores, sobretudo no âmbito da extrema-direita. Com efeito, após um período de estagnação, as organizações tradicionais e os militantes dos setores neonazi e identitário retomaram a sua atividade, promovendo ações de rua e outras iniciativas com propósitos propagandísticos”, é caso do 1143, um novo grupo com raízes na militância neonazista de Mário Machado, agora com diferentes apoios e atuação nas redes sociais.

As autoridades de segurança portuguesas também traçam o perfil do Reconquista, criado oficialmente no último trimestre de 2023, mas com início da atuação meses antes. “Paralelamente, também foram criados projetos e organizações por jovens que estendem o alcance da mensagem extremista a uma nova geração com um perfil distinto (...) e projetos com convergência ideológica com a extrema-direita mesmo que, por vezes, perpassem a sua versão clássica com ideias patriarcais e misóginas.”, pontuam.

A militância de Afonso Gonçalves começou nas redes sociais ainda em 2022. O primeiro tema que lançou ao estrear o canal no Telegram foi um vídeo intitulado “o feminismo é uma doença”. Outra das primeiras publicações é uma foto em que simula dar uma bofetada na deputada Inês Sousa Real, do PAN.

A misoginia é marca registada do grupo, e com o tempo, outras pautas foram exploradas, como a falsa “ideologia de género” e, posteriormente, com maior foco, a imigração. No podcast  Zugacast, Afonso confessou um dos motivos que o levou a militar politicamente, já que não tinha tradição política, nem influência familiar na matéria: “O bichinho surgiu, primeiro, em outubro de 2019, quando vi André Ventura irromper ao Parlamento. Me despertou ali qualquer coisa”, disse na entrevista, realizada no dia 4 de outubro de 2023 e visualizada por quase 10 mil pessoas.

Nesta mesma entrevista, durante quatro horas, abordou vários temas e disse na cara de um dos apresentadores (brasileiro), que “preferia” um português comunista do que um não-português conservador. Por mais que o brasileiro tentasse ganhar a simpatia do entrevistado e puxar a conversa para o âmbito direita x esquerda - que Afonso disse considerar importante, ele foi irredutível na afirmação de que é necessário deportar “massivamente” todos os “extraeuropeus” e proibir direitos das mulheres. Muitas destas ideias não eram novas para os seguidores do jovem. Num dos posts, Afonso disse que “a imigração Brasileira e as suas consequências são a PRINCIPAL ameaça à sobrevivência de Portugal”, além de frequentemente associar as mulheres brasileiras à prostituição - mas também o faz com as demais mulheres que frequentam o ginásio, usam as redes sociais e têm qualquer opinião.

É precisamente na internet que está o foco da militância destes grupos, que aliam o ativismo de rua com a propagação das ideias na internet. Tanto no 1143 quanto na Reconquista, a comunicação online tem padrões. Há uma mistura nas ações. Por exemplo: as atividades na rua, como protestos e instalação de faixas com frases xenófobas em locais públicos e autocolantes, são filmadas e fotografadas. Depois, são criadas comunicações para todas as redes sociais, desde os grupos no Telegram até o TikTok, onde atingem uma camada mais jovem da população.

O próprio RASI 2023 destaca o uso da internet como forma de ativismo e radicalização. “Este crescimento da extrema-direita, nomeadamente entre as gerações mais jovens, deveu-se, em grande parte, ao esforço desenvolvido na esfera virtual, tornando-a o seu principal veículo de disseminação de propaganda e motor de radicalização e contribuindo, assim, para a proliferação das narrativas extremistas, que atingem um público mais alargado e diversificado.”

Salazar e os seus ministros, a saudação nazi. No passado como hoje.

Milhões de pessoas atingidas

Mas qual a dimensão do poder da internet em alcançar a percentagem da população que não está online? A resposta está em “universalizar questões quotidianas”. 

Quem responde é a especialista Fernanda Sarkis, com experiência neste tipo de monitorização em Portugal e no Brasil. “Ao mesmo tempo que a rede social é um veículo de comunicação de massa, na perspetiva da distribuição em massa, a dinâmica da construção de sentido, ela se dá num processo comunitário. Você precisa também de um comportamento coletivo que acompanha esse processo”, explica.

Ter imigrantes como alvos - elo entre o Chega, o 1143 e o Reconquista -, foi o tema que mais conseguiu transcender a bolha da rede social e ir para as ruas. “Eles conseguiram entender que todo mundo tem alguma história com o imigrante ou ouviu falar de uma história com o imigrante. Aí uma história que acontece numa aldeia, todo mundo no café vai ficar sabendo. Quando chega uma hora que você vai na aldeia, o cara tá falando sobre isso. Então um vídeo que chega no Whats- App, ele vai fazer muito sentido pra pessoa, é o viés de confirmação [confirmation bias]”, detalha a especialista.

O maior exemplo deste trabalho é a série de 18 vídeos intitulada A Grande Invasão, criada pela Reconquista. Segundo anunciou Gonçalves, os objetivos foram “tornar a substituição populacional em tema de debate nacional” e “levar esta realidade a todos os lares Portugueses antes das eleições”. Na divulgação nas redes sociais, todos os posts eram acompanhados pela hashtag #Chega  e amplamente partilhados por militantes do partido de André Ventura. 

Cada um dos vídeos foi filmado num distrito do país. As “histórias” contadas vão ao encontro da narrativa do Chega: de que os imigrantes são criminosos, que não trabalham e vivem de subsídios.

No programa eleitoral do partido, constava, entre outras medidas, criar o crime de residência ilegal e proibir o acesso à apoios sociais nos primeiros cinco anos - medidas inconstitucionais. O líder da Reconquista usou como tática descontextualizar as informações, fazer edição para ocultar respostas, não informar o objetivo real das entrevistas e induzir respostas aos imigrantes - a maior parte deles não-falantes de português ou mesmo de um inglês com total compreensão. Houve quem escondesse o rosto e pedisse para não ser filmado - incluindo requerentes de proteção internacional que foram expostos. Afonso entrou em hotéis e Pousadas da Juventude onde ficam instalados temporariamente os requerentes de asilo - algo previsto em lei e de acordo com as regras da União Europeia (UE). No entanto, a apresentação era sempre de “pessoas a viver à custa do Estado”. Muitas vezes, Afonso fez publicações em que gozava com os cidadãos. 

Num space nas vésperas das eleições, Afonso contou que a produção custou 4,5 mil euros, paga com doações. Na maior parte das publicações, é feito o pedido de dinheiro para arcar com os custos do grupo. Estão disponíveis números de Mbway, PayPal e bitcoin - para aqueles que não querem ter registo da doação. Os recursos resultaram nos vídeos já publicados, baseados na falsa ideia da “Grande Substituição”, a mesma usada por partidos ultranacionalistas da Europa e por Donald Trump, candidato à presidência dos Estados Unidos. A mesma teoria supremacista já foi referida por André Ventura em mais de uma ocasião e é uma das bases do grupo europeu Identidade e Democracia (ID), do qual o Chega faz parte.

A “Grande Substituição” já saiu da esfera virtual e motivou massacres pelo mundo. É o caso do atirador que matou 10 pessoas - a maior parte negras - num supermercado de Buffalo, nos Estados Unidos. No Texas, outro jovem de extrema-direita fez um verdadeiro banho de sangue ao matar 20 pessoas e ferir outras 26. Há exemplos também na Nova Zelândia e agressões a imigrantes noutros países europeus em investigação como crime de ódio. É também o caso de Portugal, onde as autoridades investigam se houve motivação racista na agressão a 10 estrangeiros no Porto a 3 de maio.

“Ninguém está a substituir ninguém”

Com o número de imigrantes em Portugal, que chega a 1 milhão de pessoas, a ideia parece ser sedutora para alguns. No entanto, a investigadora Catarina Reis desmente a narrativa. “Nós estamos a falar de apenas 7,5% dos estrangeiros residentes que têm uma sobre representação naqueles territórios férteis e ativos que realmente interessam ao país. E, portanto, quando nós estamos a falar dos envelhecidos, estamos a falar dos restantes 92% da população que reside em Portugal. Daí que este discurso não faça de todo sentido, porque ninguém está a substituir ninguém”, ressalta. Catarina Reis, também autora do relatório anual Imigração em Números, vai mais longe no desmontar das fake news  associadas à imigração. 

“Na última década o número de estrangeiros mais que duplicou. Ora, se houvesse uma relação direta, o que nós iríamos ver nos dados era um aumento da criminalidade dos estrangeiros e um aumento dos reclusos estrangeiros no sistema prisional português”, contextualiza. 

O investigador João Henriques, vice-presidente do Observatório do Mundo Islâmico em Portugal, assinala que outra mentira é de que a população islâmica no país não quer integra-se. “Essas pessoas não querem impor a sua cultura aqui para conviver. Isso não é verdade em Portugal”, rebate. Henriques vê com preocupação esse discurso e defende que a única forma de combatê-lo é com educação. “É educando logo na escola, educando a população portuguesa desde os bancos da escola, para que essa situação seja desmistificada. Tem de haver também um esforço de integração das autoridades e de alguma comunicação social em desmontar essa imagem”, complementa.

Mesmo que as ideias que servem de base a tais narrativas amplamente divulgadas sejam falsas, os objetivos da Reconquista foram alcançados com a série e celebrados pelos membros. Conforme apurou o DN, a mensagem de uma suposta “substituição populacional” foi transversal, atingindo até mesmo moradores de bairros sociais e imigrantes de segunda ou terceira geração. O trailer  de apresentação da série alcançou mais de 1 milhão de visualizações e circulou amplamente em grupos de WhatsApp, por exemplo.

Thaís França, investigadora do Centro de Investigação e Estudos de Sociologia (CIES) do Instituto Universitário de Lisboa (ISCTE), aponta que a narrativa é sedutora pelo momento que Portugal vive. “Acham que Portugal vai deixar de ser o Portugal. Porque agora tem outras culturas vindas, são culturas muito diferentes do que eram antes. Depois, também há a discussão de que essas pessoas sobrecarregam o Sistema Público, como na Saúde e Educação”, explica a investigadora, coordenadora do projeto Mapping Out: Portugal on the European Anti-Immigrant Movements Map (Mapeando: Portugal no Mapa Europeu dos Movimentos Anti-Imigrantes).

A internet como grande aliada

Na investigação realizada pelo DN nos últimos meses, também se verificou uma atmosfera comum nas publicações. No caso da Reconquista, com o passar dos meses e aumento no número de militantes, passaram a profissionalizar-se mais, inclusive com a contratação de um web designer. Os primeiros vídeos, gravados sem microfone e sem edição, deram lugar a produções elaboradas, com linguagem padrão e estratégias de marketing  bem delineadas. No grupo 1143, as estratégias também passam por edição, com uso de músicas épicas nos vídeos e grafismos. Assim como as da Reconquista, entre as hashtags  utilizadas está a #PartidoChega  e #AndreVentura. Nos comentários, é comum encontrar pessoas a declararem voto no partido.

Outra estratégia é a articulação nacional e internacional entre grupos com ideias semelhantes. Páginas como a Invictus Portucale, que soma quase 100 mil seguidores nas redes sociais, com frequência partilham publicações da Reconquista e também publicações do 1143. Páginas internacionais, como a Rádio Genoa, uma plataforma digital de notícias falsas e descontextualizadas sobre imigração, também é parceira de ambos os grupos de ódio. 

Heidi Beirich, investigadora já referenciada nesta reportagem, afirma que “sem a internet seria muito improvável o recrutamento, radicalização e difusão do discurso extremista”.

O alcance da narrativa de ódio não foi ainda mais longe por força dos mecanismos de moderação das plataformas. O canal inicial do YouTube foi derrubado durante as exibições dos primeiros vídeos da série. Os perfis no X também chegaram a ser banidos, mas retornaram. No TikTok, o grupo 1143 e seus membros já tiveram contas banidas. É o caso de Miguel Morato, responsável pelo marketing  do grupo. A cada conta que vai abaixo, é criada uma nova e assim sucessivamente. 

Heidi Beirich, defende a suspensão. “Concordo que se um grupo ou indivíduo espalha ódio ou extremismo, deve ser removido destas plataformas. Não creio que um número suficiente deles tenha sido removido neste momento e as empresas de media  social devem fazer um trabalho melhor”, afirma. 

“Elite do futuro em Portugal”

Afonso Gonçalves já disse que o objetivo da Reconquista é “radicalizar a política em Portugal” e “formar a elite do futuro” do país. A média de idade dos membros é de 23 anos e estar alinhado com a misoginia é uma dos requisitos. O que leva jovens a entrarem neste caminho da radicalização? Cátia Moreira de Carvalho, investigadora de extremismo e radicalização, afirma que os jovens em formação de personalidade são “mais predispostos” a aderirem a movimentos extremistas. 

“Está relacionado com perceção de ameaça e de ataque à identidade. É um regresso a um estado saudosista em que tudo estava compartimentalizado, sem grandes mudanças e, por isso, sem causar incerteza ou desconforto. A equidade de género ameaça a perceção de dominância de alguns homens e isso faz com que não se sintam confortáveis com estes novos papéis pouco definidos, de acordo com os seus padrões mentais”, diz ao DN. 

Cátia vê a situação como perigosa, especialmente para as mulheres. “Trazem para a agenda política e para o debate público temas que há muito deviam estar arrumados numa gaveta e que deviam ser consensuais na sociedade. Estes movimentos questionam os direitos das mulheres conquistados com muito custo e podem minar o futuro das mulheres que são agora jovens e um dia se tornarão adultas”, explica.

Discurso de ódio x liberdade de expressão

Na maior parte das vezes, a defesa está na liberdade de expressão, garantido pela Constituição. A discussão ganhou mais forma nos últimos dias, quando Mário Machado foi condenado a quase três anos de prisão efetiva por incitamento ao ódio contra mulheres no X, em processo movido pela vítima, Renata Cambra. Muitos dos extremistas referidos nesta reportagem defenderam o neonazi e evocaram a liberdade de expressão. Mas, onde acaba esse direito e começa o crime de ódio? 

A constitucionalista Teresa Violante diz que está legalmente prevista a punição de organizações. “A Constituição Portuguesa proíbe apenas as organizações de ideologia racista e não a expressão individual de opiniões racistas. Podemos reprimir socialmente o discurso de ódio ou racista, mas questão distinta é a sua repressão penal”, explica ao DN.

No entanto, a punição penal é possível. “A criminalização advém, essencialmente, quando o exercício da liberdade de expressão ofende bens jurídicos, colocando em perigo outras pessoas ou ofendendo a sua honra ou bom nome ou o seu direito à igualdade”, ressalta. Outra coisa é certa, segundo Violante. “Sendo certo que a liberdade de expressão não pode ser utilizada para propagar o ódio a grupos, um dos limites à liberdade de expressão é precisamente quando os seus titulares incorrem na prática de crimes”, argumenta. 

Tanto o 1143 como a Reconquista se inspiram em Adolf Hitler. Afonso Gonçalves fez um ensaio fotográfico com um bigode a imitar Hitler e a legenda “Weimar conditions require  Weimar solutions”. A frase é referência ao período anterior à ascensão do Partido Nazi na Alemanha. 

Mários Machados do 1143. Nazis assumidos, combustível do Chega

No caso do 1143, a ligação com o neonazismo é aberta. Na passada semana, no chat do Telegram, um dos integrantes sugeriu que o uso de símbolos nazis poderá afastar apoio à causa. A maior parte dos integrantes afastou a ideia. “Eu, no dia que me digam que não posso fazer ou defender o que acredito, no mesmo dia digo adeus ao grupo. Esses modos de operar é comum nos grupos de esquerda. Castrar a liberdade individual num grupo”, disse um deles, que não utiliza nome, posição partilhada por outros militantes que, com frequência, postam fotos e frases saudosistas a Hitler.

A constitucionalista Teresa Violante alerta que a ideologia nazi não é proibida em Portugal. “Organizações que perfilhem ideologia fascista são proibidas nos termos da Constituição, mas a ideologia nazi, individualmente, não é proibida e pode ser difundida ao abrigo da liberdade de expressão, se não constituir crime de discriminação ou de incitamento ao ódio ou à violência”, explica.

Remigração, a nova estratégia

Campanha eleitoral para as legislativas feita, vitória alcançada e celebrada, os grupos, especialmente a Reconquista, agora querem pressionar o Chega [que elegeu 50 deputados] para ter ideias ainda mais radicais na área da imigração. A nova estratégia é falar em remigração - um termo mais soft para deportação em massa

No dia 12 de abril, Gonçalves partilhou um discurso de Ventura a falar no Parlamento da “grande invasão” de imigração e pontuou. “[Estamos a], um nadinha da REMIGRAÇÃO”. Membros da juventude do Chega já propagam a ideia nas redes sociais. Miguel Lourenço, do Chega de Guarda, escreveu na semana passada, num post  de André Ventura no X. “Remigração... mais cedo ou mais tarde falar-se-á nisso e o CH vai propor, aposto um dedo”. Outra ação em andamento é uma petição pública que conta mais de 16,5 mil assinaturas que propõe um referendo para as políticas migratórias para que o tema seja discutido na Assembleia da República (AR). No fim do texto online, está lá, a hashtag utilizada pelos grupos neonazi e nacionalista nas eleições: #CHEGA.

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