A mais recente conversa suave da Sérvia em relação à Rússia é politicamente egoísta

< Andrew Korybko * | Substack | opinião | # Traduzido em português do Brasil >

Resta saber se a Sérvia manterá sua palavra e deixará de armar indiretamente a Ucrânia

A Sérvia surpreendeu alguns observadores depois que seu presidente e primeiro-ministro garantiram à Rússia que não mais armará indiretamente a Ucrânia, após o Serviço de Espionagem Estrangeira da Rússia (SVR) afirmar que a Sérvia não havia interrompido esse comércio , sobre o qual havia alertado pela primeira vez no final de maio. A mais recente conversa fiada da Sérvia com a Rússia, no entanto, é politicamente egoísta, visto que precedeu a tentativa do último fim de semana de reavivar o movimento de protesto que Moscou consistentemente avaliou como uma Revolução Colorida apoiada pelo Ocidente .

No verão passado, foi explicado que " o governo sérvio é inadvertidamente responsável pela mais recente intriga da Revolução Colorida ", mas a Rússia manteve a posição mencionada, com Lavrov implicitamente reafirmando- a após os distúrbios do último fim de semana em Belgrado. Mesmo assim, os dois anúncios do SVR sobre o armamento indireto da Ucrânia pela Sérvia, em apenas alguns meses, podem ter levado o governo a especular que a Rússia poderia desempenhar um papel nos protestos que se aproximavam ou, pelo menos, promovê-los em seu ecossistema midiático.

Portanto, a decisão poderia ter sido tomada para evitar isso, garantindo à Rússia que interromperia esse comércio, daí o momento dessas declarações de seu presidente e primeiro-ministro. O primeiro-ministro também prometeu não aderir às sanções antirrussas do Ocidente nem assinar quaisquer declarações antirrussas. Recuar na primeira medida prejudicaria a economia sérvia, enquanto fazer o mesmo com a segunda provavelmente não causaria nenhum dano, já que nenhuma delas se seguiu ao voto contra a Rússia em relação à Ucrânia na Assembleia Geral da ONU.

Natalia Nikonorova, membro do Comitê de Relações Exteriores do Conselho da Federação, está cética : “ Não há como ficar em cima do muro nesta situação. O político sérvio terá que fazer uma escolha concreta. Somente ações, não palavras, mostrarão qual é essa escolha. No que diz respeito à aliança russo-sérvia, estamos nos referindo aos laços genuínos que unem nossos povos há décadas. Acredito que a publicação dos resultados da investigação do SVR russo pode ser uma revelação para o público sérvio em geral.”

O sinal enviado é que a Rússia está levando muito a sério o armamento indireto da Ucrânia pela Sérvia, muito mais do que atividades semelhantes de outros países, como as da Turquia, visto que representa uma traição à sua amizade histórica. Essa observação explica o que críticos sérvios pró-governo descreveram como a suposta "dupla moral" da Rússia em relação a essa questão. Da perspectiva da Rússia, é esperado, mas ainda assim lamentável, que países alinhados ao Ocidente armem a Ucrânia, mas inaceitável para parceiros próximos da Rússia.

O simbolismo da Rússia não fazer nada enquanto um parceiro próximo como a Sérvia arma a Ucrânia pode corroer seu soft power, além de facilitar perigosamente os esforços ocidentais para pressionar outros a fazerem o mesmo, apontando para o precedente sérvio de que não há consequências significativas para tal perfídia. A Sérvia sabe o quão seriamente a Rússia está levando a questão e por quê, daí suas preocupações especulativas de que a Rússia possa ter se preparado para desempenhar um papel nos protestos que se aproximavam ou pelo menos os promovido em seu ecossistema midiático.

A conversa fiada politicamente egoísta de seus principais funcionários evitou esses cenários, pelo menos em suas mentes, mas ainda não se sabe se cumprirão a promessa. Se voltarem atrás, a Rússia provavelmente não se envolverá na mesma agitação que seus próprios funcionários avaliaram como uma Revolução Colorida apoiada pelo Ocidente (especialmente porque isso poderia ser explorado pela Sérvia para se voltar decisivamente para o Ocidente), mas alguma resposta assimétrica pode se seguir. Tomara que não chegue a esse ponto.

* © 2025 Andrew Korybko
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* Analista político americano especializado na transição sistémica global para a multipolaridade

* Andrew Korybko é regular colaborador em Página Global há alguns anos e também regular interveniente em outras e diversas publicações. Encontram-no também nas redes sociais. É ainda autor profícuo de vários livros