sexta-feira, 4 de julho de 2025

Angola | As Mãos e o Corpo Todo -- Artur Queiroz

Artur Queiroz*, Luanda >

Hoje amigas e amigos receberam as merecidas condecorações. Só por me honrarem com a sua amizade já mereciam uma condecoração todos os dias. Não sou um rapaz de vida fácil e é mesmo muito difícil ser amiga ou amigo de alguém como eu. Uma condecorada a título póstumo é Maria Helena Saraiva de Carvalho. Um dia disse-lhe que ela e seu marido, General Tetembwa (João Arnaldo ou Mano Carapau), mereciam todo o respeito porque deram uma mão à Independência Nacional. E ela corrigiu delicadamente: “Tu só deste uma mão, porque dedicas muito tempo à vadiagem. O João e eu demos o corpo todo”.

Estou feliz. A minha Mana Lena foi condecorada ainda que postumamente. Ninguém merece mais do que ela. Lula da Silva também devia ser condecorado, porque marcou mil pontos numa escala de zero a cem. O Grito do Ipiranga troou os ares no imenso Brasil. No dia 2 de Julho 1823 poucos meses depois de troarem as palavras “Independência Nacional”, as forças portuguesas estacionadas na Baía foram escorraçadas. Este acontecimento passou à História como a “Independência Baiana”. O Presidente brasileiro quer que esta data seja comemorada com a mesma dignidade da Independência do Brasil. Os fascistas no Parlamento de Lisboa começam a ter respostas à altura. A xenofobia e o racismo já andam à solta em Portugal.

Um tal Abílio José Augusto, filho de ferroviário do CFB (Caminho de Ferro de Benguela), aderiu à UNITA em 1975. Logo na estreia e segundo o próprio, frequentou “um curso político ministrado pelo presidente Dr. Jonas Malheiro Savimbi”. Entre 1975 e 1976 “fui comandante de secção nos pelotões das guerrilhas entre 1976 e 1979 com o posto de Alferes. Comandante de pelotão e operador das transmissões  em 1979 e 1980”.

Nos anos 80, Abílio José Augusto frequentou novo “curso político” na Escola de  Formação de Quadros da UNITA e promovido ao posto de tenente. Em 1982, frequentou o curso de ciências políticas e estratégia militar: “Tive como professor principal  o Dr. Jonas Malheiro Savimbi”.

Em 1983, Abílio José Augusto foi nomeado por Savimbi comandante na frente militar do Cuito Cuanavale. O Coronel sul-africano Ian Breytenbach, pai das forças da UNITA que lutavam ao lado dos racistas de Pretória, escreveu um livro onde refere que “o coronel Numa, cunhado de Savimbi, recuou para uma área a 30 quilómetros do local onde decorriam os combates. E quando nos aproximámos do local onde ele se encontrava recuado, recuou mais 30 quilómetros”.

Este coronel Numa é precisamente o Abílio José Augusto. Como bom cunhado de Savimbi e perito a recuar de 30 em 30 quilómetros das frentes dos combates, foi promovido a brigadeiro, general de divisão e general de exército da UNITA e da África do Sul racista. Quando era preciso, também fazia o papel de sinaleiro da Jamba. E especializou-se nas fogueiras e pauladas da Jamba. Jonas Savimbi, bom cunhado, mandou Abílio José Augusto, o Numa, para Chefe do Estado-Maior General Adjunto das Forças Armadas Angolanas (FAA), em 9 de Outubro 1991. 

Um dia depois de jurar defender a Pátria, desertou. Savimbi tocou o apito e ele começou a disparar contra a democracia. Obedecia cegamente ao chefe, criminoso de guerra e assassino cruel. Quando as FAA cercaram o seu acampamento no Lucusse, em 2002, Abílio José Augusto, o Numa, perito em recuos, fugiu para um morro e só voltou a aparecer para comer do Orçamento Geral do Estado e usufruir das mordomias. 

Este recuador e fugitivo para os morros quando a guerra está nas planícies, publicou um texto no Club K onde critica os angolanos que só sabem dizer “sim chefe”. O fugitivo dá estes exemplos: Mandam roubar? “Sim chefe. ”Mandam falsificar actas? “Sim chefe.” Mandam esquecer que há povo? “Sim chefe.” Mandam prender inocentes e promover culpados?
“Sim chefe, com Excelência!”

Abílio Camalata Numa mata mulheres e crianças nas fogueiras! Sim chefe. Abílio Camalata Numa mata à paulada! Sim chefe. Abílio Camalata Numa enterra pessoas vivas! Sim chefe. Abílio Camalata Numa mata companheiros da UNITA e camaradas de armas! Sim chefe. Abílio Camalata Numa rouba diamantes de sangue! Sim chefe. Abílio Camalata Numa as FAA estão perto, defende-me! Não chefe. Vou ouvir o relato do Sporting Clube de Portugal. Morre com os cães, chefe. Okwama-kwama Tjihulu, ot jita Olumba! Sim chefe. Quem segue o mocho dá à luz uma coruja! 

A delegações bancárias já encerraram. A administração da Empresa Edições Novembro não pagou nem me disse como e quando vai pagar, os salários e subsídios que me deve, há dez anos. Drumond Jaime (presidente do Conselho de Administração da Empresa Edições Novembro), Cândido Bessa, António Samuel Eduardo, Joaquim Pedro Zua Quicuca, Eunice Carla Teixeira Moreno (administradores executivos), Guilhermino Alberto e Victória Quintas (administradores não executivos) fazem figura de caloteiros e ladrões do pão de uma criança, o Nataniel Queiroz. A tutela é conivente com o calote e o roubo. O Titular do Poder Executivo igualmente. Kinga ainda!

Drumond Jaime, Cândido Bessa, Guilhermino Alberto e Vitória Quintas são jornalistas. Essa condição obriga que em cada fracção de segundo das suas vidas, sejam capazes de viver entre as fronteiras da honra e da dignidade. Não há ordem superior que se sobreponha à honra e à dignidade dos jornalistas.

A condição de caloteiros e ladrões do pão de crianças é incompatível com a profissão de jornalista. Não roubem o pão das crianças do Lar Kuzola. Não roubem o pão da criança Nataniel Queiroz. Não me coloquem, com o vosso calote, na condição de falhar nos deveres de garantir a uma criança, todos os seus direitos, nomeadamente o de comer. Espero que amanhã paguem o que me devem. Esperei dez anos. Não espero mais. Não pactuo mais com caloteiros e ladrões do pão de crianças.

* Jornalista

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