quarta-feira, 9 de novembro de 2011

Portugal: FUNCIONÁRIOS PÚBLICOS, SUBSÍDIOS E A EQUIDADE




HENRIQUE RAPOSO – EXPRESSO, opinião, em Blogues

O socialismo indígena, comandado por Cavaco e Rio, está muito inquieto com a - suposta - quebra da "equidade fiscal" verificada no corte do 13.º e 14.º dos funcionários públicos. Vai daí, o socialismo tuga - sempre liderado pela ala cavaquista do PSD - propõe uma coisa mui salomónica: os trabalhadores das empresas privadas também devem perder o seu subsídio de natal ou de férias. Bom, parece que os nossos socialistas ainda não perceberam a diferença entre despesa pública e receita fiscal.

Mas, por agora, esse ponto nem sequer é importante. Neste santo momento, importa apenas dizer o seguinte: sim senhor, cortem lá os subsídios de natal a todos os portugueses em nome dessa tal "equidade fiscal". Mas, depois deste corte supostamente salomónico, vamos ter de conversar sobre algumas equidades permanentes. Assim de repente, lembro-me de seis, a saber:

a) O vínculo eterno do funcionário público, um pormenor que o protege do desemprego. Há dias, uma amiga, funcionária pública, dizia-me que estava triste, que paira no ar o "síndrome do funcionário público". Na resposta, disse-lhe que "sim senhora, mas olha que lá fora, na economia real, a ameaça não é a perda deste ou daquele subsídio, mas a perda do emprego". Há síndromes e síndromes.

b) O quadro de excedentários, que protege o funcionário público do desemprego mesmo quando a sua repartição, por algum acaso, é fechada. Esta dualidade de critérios é injusta: se a empresa do meu irmão fechar, ele cairá no desemprego e procurará novo emprego; se a repartição do funcionário público x fechar, ele ficará num "quadro de excedentários". Por que razão existem portugueses de primeira (com esta rede de segurança) e portugueses de segunda (sem esta rede)?

c) A ADSE. Há dias, fiz as contas com uma amiga funcionária pública. O seguro dela (ADSE) cobria mais coisas (até dentista) e, mesmo assim, era bem mais barato do que o meu.

d) Os funcionários públicos têm refeitórios onde é possível almoçar por 3 ou 4 euros. Isto também é um direito adquirido?

e) Uma mera directora financeira de um estaminé público tem logo direito a motorista. Isto também é um direito adquirido?

f) A taxa de absentismo nas empresas públicas é seis vezes superior ao normal, seis vezes superior em relação ao mundinho reles onde não existem os cinco pontos acima acima referidos.

Portanto, acho muito bem que tirem os subsídios a toda a gente. Seria um ótimo começo de conversa sobre equidade.


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