sexta-feira, 23 de março de 2012

Os Jornalistas atentam contra a segurança do Estado. Devem, por isso, ser todos presos!




Orlando Castro*, jornalista – Alto Hama*

O Ministério da Administração Interna (MAI) de Portugal reedita as velhas regras: lamenta as bastonadas da PSP aos jornalistas, abre um inquérito e promete medidas profilácticas.

O MAI afirma também que vai convidar o Sindicato dos Jornalistas e os directores de informação dos órgãos de comunicação social para reuniões, na próxima semana, tendo em vista "a adopção de procedimentos adequados no sentido de evitar a ocorrência futura de idênticos incidentes".

O MAI assegura ainda que tudo fará para conciliar a necessidade de garantir a tranquilidade e ordem públicas com o exercício do direito à informação.

Recorde-se que dois jornalistas, um da Agência Lusa e outra da Agência France Presse, ficaram feridos ontem em incidentes com as forças policiais, no Chiado, em Lisboa, enquanto recolhiam imagens da manifestação organizada pela Plataforma 15 de Outubro, no âmbito da greve geral convocada pela CGTP.

Tudo isto aconteceu, importa dizê-lo, porque os jornalistas (alguns, cada vez menos) têm a mania de – por exemplo – irem fotografar levando consigo máquinas fotográficas. E isso é inconcebível. Viola, aliás, todas as regras da segurança do Estado.

Além do mais, é fácil os polícias confundirem as máquinas fotográficas com as AK-47, com “cocktail molotov” ou até com um lança granadas.

Assim sendo, o melhor até era instituir (nem que fosse por uma lei da rolha ou do cassetete) a obrigatoriedade de os jornalistas ficaram em casa, de modo a que as forças policiais pudessem cumprir cabalmente as suas funções de meter na ordem todos aqueles que, criminosamente, teimam em pensar de forma diferente dos donos do reino.

Por sua vez os órgãos de comunicação social teriam sempre o trabalho garantido pois, imediatamente, os "Press officers e Media consultants" fariam chegar às redacções tudo o que era necessário divulgar.

Se, mesmo assim, os ex-assessores do governo, agora chamados de "Press officers e Media consultants", falam todos os dias com os administradores, directores e jornalistas das televisões, das rádios e dos jornais e até escrevem notícias com todos os requisitos profissionais, de modo a facilitar a vida aos jornalistas, que mais podem querer os donos dos jornalistas e os donos dos donos?

É claro que os “Press officers e Media consultants" mentem de vez em quando, exageram quase sempre, organizam fugas de informação quando convém, protestam contra as fugas de imprensa quando fica bem, recompensam, com informação, os que se conformam, castigam, com silêncio, os que prevaricaram.

Mas tudo isto acontece porque os jornalistas não são filhos de boa gente? Será porque já não existem jornalistas? Será porque se deixam comprar por um prato de lentilhas? Será porque querem ser “Press officers e Media consultants”?

De facto, por muito que me custe, começo a ver que a minha profissão (não tanto pelo corrupto silêncio dos maus, mas pela indiferença dos bons) está a ser cada vez mais um antro muito mal frequentado.

Mal frequentado mas silencioso, como convém.

* Orlando Castro, jornalista angolano-português - O poder das ideias acima das ideias de poder, porque não se é Jornalista (digo eu) seis ou sete horas por dia a uns tantos euros por mês, mas sim 24 horas por dia, mesmo estando (des)empregado.

Título anterior do autor, compilado em Página Global: CASSETETE ESTIMULA A LIBERDADE DE IMPRENSA


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1 comentário:

Anónimo disse...

e o enorme falhanco da democracia PORTUGUESA autoridade PORTUGUES deve reflectir com o enorme consicencia moral.como comportamento selvatica do poder policial.

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