terça-feira, 22 de maio de 2012

NA ESPANHA, A POBREZA TEM CARA DE CRIANÇA, DIZ UNICEF



Fillipe Mauro – Opera Mundi

Número de menores vivendo abaixo da linha de pobreza chegou a 26% em 2010

A crise financeira que assola a atividade econômica da Europa e, dessa forma, deixa milhões de desempregados por todo o continente, revelou uma de suas faces mais cruéis entre as crianças da Espanha. É o que revela um relatório apresentado nesta segunda-feira (21/05) pela Unicef, o órgão das Nações Unidas para a difusão da cultura e da educação.

De acordo com o estudo O Impacto da Crise sobre as Crianças, Em 2010, ano em que o colapso econômico do país se agrava, 26% dos espanhóis com menos de 18 anos (nada menos do que 2,2 milhões de pessoas) estavam vivendo em famílias de condições inferiores ao nível da pobreza. Para a análise referente a 2011, a previsão é de que esse número se eleve em 0,5%.

É por essa razão que, na Espanha, “a pobreza tem cara de criança”, disse Paloma Escudero, diretora do escritório da Unicef no país. Pela primeira vez, a proporção de crianças pobres supera a de pessoas com mais de 65 anos em igual condição. Antes de 2010, os idosos ainda representavam o setor mais afetado do ponto de vista socioeconômico.

No biênio 2008-2010, a quantidade de menores que viviam abaixo da linha da pobreza sofreu um aumento de 10%, o que totaliza a degradação socioeconômica de mais de 200 mil jovens. A partir daí, a equipe da Unicef concluiu que, cada vez mais, a renda anual de famílias compostas por dois adultos e duas crianças não ultrapassa a marca dos 16,4 mil euros (cerca de 42 mil reais).

No caso de 13,7% da famílias espanholas, a renda anual não chega a 11 mil euros (28 mil reais) – situação interpretada como “pobreza extrema” na Zona do Euro e que só é superada por nações da periferia do continente, como Romênia e Bulgária.

As raízes desse fenômeno, de acordo com a Unicef, estaria justamente na maior incidência de desempregados nos setores mais jovens da população economicamente ativa. Isso permitiria concluir que o maior percentual de crianças vivendo abaixo da linha de pobreza são, em boa parte, filhas de jovens casais excluídos da fragilizada economia da Espanha.

Entre os efeitos dessa nova condição social, as famílias espanholas estariam reduzindo seus gastos com bens e serviços de primeira necessidade, como alimentação, acompanhamento médico e material escolar. Segundo o Eurostat, entre 2007 e 2010, o número de famílias com todas as fontes de renda desempregadas aumentou 120%, alcançando a marca de alarmantes 714 mil.

Unicef comunicou o governo de Mariano Rajoy sobre os resultados de sua pesquisa e recomendou que a agenda política do país se foque na proteção da infância. Para Escudero, “os custos de não atuar agora não só afetam as crianças e as famílias mais vulneráveis, mas comprometerão o crescimento da sociedade a médio e longo prazo”.

Contrariando a veemente defesa de cortes de gastos com serviços de bem-estar social, deflagrada pelo governo do PP (Partido Popular) desde que assumiu o poder, no início de 2012, a Unicef sugere um programa de ajuda financeira às famílias. Para o órgão, é premente a elaboração de um Plano Nacional contra a Pobreza Infantil, que inclua a recuperação do programa Cheque Bebê, um auxílio público de 2500 euros para o nascimento de cada criança que foi suprimido em 2010.

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