Brasilino Godinho - A Quinta Lusitana
A notícia:
O Diário Digital, edição de hoje, quinta-feira, dia 7 de Junho de 2012, traz-nos a informação de que o presidente da Câmara Municipal de Oeiras, dr. Isaltino Morais, em discurso proferido no decorrer da solene cerimónia comemorativa do dia da cidade - e para além de criticar o Governo pelo «ataque» que desenvolve ao poder local - acusou a Associação Nacional de Municípios de ser «domesticada» e de não corar de vergonha pelos sacrifícios que são impostos às autarquias.
Mas foi mais longe e, desenvolto, não esteve com meias medidas ao colocar a cereja sobre o bolo: condenou o combate à corrupção na praça pública.
Nota importante a referir é que “no mês passado, o Ministério Público de Oeiras considerou prescrito o procedimento criminal contra o presidente da Câmara de Oeiras pelo crime de corrupção passiva para acto ilícito, pelo que arquivou o inquérito”.
O comentário de Brasilino Godinho
Isaltino - o famoso político de levar água ao moinho autárquico da terra oeirense; o intocável condenado em sede de tribunal de Oeiras, que acumula no acervo das suas ignotas riquezas a invulgar condição de extraordinário especialista na complicada arte de arrancamento de sucessivas prescrições das sentenças judiciais a que é sujeito; modalidade artística só acessível a verdadeiros e bem nutridos artistas – sem dizer água vai, e logo deixando a malta aparvalhada, a que se lhe seguiu um patético estado de choque (mas conservando-se impávido e algo nervoso), proclamou urbi et orbi, como se fora um papa caseiro, que reprova, censura e até condena, o combate à corrupção em «praça pública».
Este é um insólito caso isaltinado. No entanto a justificar que, com alguma contenção verbal, simplesmente observemos: quem diria?
Se bem compreendemos a mensagem do autarca Isaltino, o combate à corrupção deve ser feito em praça privada; por certo, num recatado cenáculo de bons costumes, ali, na Lisboa de todos os pessoalíssimos encantos… e das maiores facilidades processuais… sobretudo beneficiando, de preferência, da prestimosa colaboração de respeitáveis damas e cavalheiros corruptos.
Se assim é, a coisa está mui bem vista… Até podemos classificar tal propósito como um raro achado arqueológico no complexo campo minado da justiça, de incalculável valor. Certamente um vir mesmo a calhar devido à extraordinária perspicácia da isaltinada figura, ora revelada na avaliação da matéria factual; a qual (apreciação), é expressa em adequada correspondência ao desejável e não menor proveito festivo do pessoal mais interessado na aludida problemática… O que é, sempre, importante factor a ter em conta…
É impressionante como temos andado distraídos, sem nos lembrarmos ou nos apercebermos do largo alcance de tão óbvio e singular expediente. Pior e confrangedor é antevermos que algum indivíduo domesticado, mais susceptível, amigo de Isaltino, vá corar de vergonha por tão censurável descuido…
Confrontados com este percalço cívico não podemos deixar de expressar o seguinte lamento: é pena que a mais alta autoridade do Estado não aproveite este 10 de Junho - consagrado à pomposa distribuição de muitas cruzes, vários grandes oficialatos e bastante atractivas comendas, por tão bons cidadãos de emblemáticas associações; por outros não menores personagens que são os delicados e fiéis amigos-de-peito; por tantos dedicados compadres; pelos numerosos, classificados melhores acompanhantes de alegres convívios; e pelos inúmeros devotos confrades - para galardoar com a Grã-Cruz de uma Ordem consagradora do mérito de fazer, do saber estar, do bom viver, do melhor desfrutar, do muito politicar à portuguesa usança, tão ilustre criatura de isaltina qualidade que, nem sendo domesticada é, segundo as aparências, um conceituado irmão da fraternidade alaranjada que, neste reino da parvónia nacional, usufrui do privilégio de ter a profunda estima presidencial; a qual, personalidade oeirense, outrossim, está no pleno gozo da sua exigente reputação e tem a distinta particularidade de nunca corar de vergonha… o que até é facilitado pela beleza do colorido sui generis do seu fácies e pelo calor que, irradiado pela combustão do inseparável charuto havano, nele se fixa com o nítido efeito da cor daquele impetuoso fogo, que, provavelmente, lhe envolve o irrequieto espírito…
E assim, sem a aparência falsa e enganadora da dispendiosa prescrição e por mercê da republicana presidência cavaquista, se faria justiça bem isaltinada…
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