terça-feira, 19 de junho de 2012

O BOSQUE EM FLOR



Rui Peralta

Cubaneando (2)

A festa dos bairros

A iniciativa de Sílvio Rodriguez e seus músicos acompanhantes de realizar concertos pelos bairros de Havana, iniciada em finais de 2011, continua e já lá vão mais de 3 dezenas de concertos pelas ruas de Havana. Em cada um deles os músicos partilham os sons, os silêncios e as palavras, em momentos mágicos do quotidiano. É uma iniciativa diferente, comunitária, em que os concertos não são anunciados nos meios de comunicação, nem publicitados pela cidade. Cada actuação é apenas para o bairro onde é realizada, para a sua gente, que participa directamente no concerto, que canta, que pede as canções que quer ouvir, numa festa de corpos e sentimentos, num acto comunitário, irreverente de humanismo.

Política social

Eis mais um dos “crimes do regime cubano”: Os gastos com a política social. Enquanto na América Latina estes representam 10% do PIB e na União Europeia 25% em Cuba supera os 30%. No orçamento de 2012, o governo cubano destina 17 mil 347 milhões e 800 mil pesos para a Educação, Saúde e necessidades sociais. Mais de 800 milhões de pesos destinam-se a subsídios para pessoas com baixos rendimentos e 400 milhões de pesos para a protecção a pessoas em situação críticas, como os incapacitados por motivos físicos ou mentais, mães sós com filhos menores a seu cargo e aos que são colocados em posição disponível no processo de reordenamento laboral em curso. No sector da saúde pública, uma das maiores fontes de ingresso de divisas (devido aos vários programas de cooperação internacional, que engloba mais de 40 mil profissionais, com cerca de 70 países), o orçamento disponibiliza 9% do PIB para desenvolvimento de um sistema integrado desde a atenção primária. Estes programas de protecção social permitem uma mais equitativa distribuição dos recursos e respectiva aplicação no desenvolvimento humano, como o estado de saúde e nutricional da população, esperança de vida, saneamento e água potável, conservação do meio ambiente, participação politica, educação, cultura, informação e maior relevo do papel da mulher na vida económica e politica.

Açúcar

Em Cuba a colheita de açúcar, em 2011-2012, será de 1,4 milhões de toneladas, alcançando 94% do previsto. Apesar de um crescimento de 16% em relação ao período anterior, na última safra deixaram de se produzir 68 mil toneladas de açúcar. Nesta safra pensava-se aumentar a produção em 20%, em relação á safra anterior. 2010 representou a pior colheita de açúcar em Cuba nos últimos 105 anos. Actualmente o rendimento por hectare ronda as 3 toneladas e a meta é atingir as 6 toneladas, ainda abaixo do standard internacional que se situa nas 8 toneladas por hectare.
Cuba pretende ressuscitar esta indústria, que já foi a base da economia, mas que actualmente apenas representa 5% dos ingressos de divisas no país. Nesse sentido foi assinado um contracto de administração produtiva com a brasileira Odebrecht, na província central de Cienfuegos e que significa a primeira injecção de capital estrangeiro neste sector. O acordo tem a duração de 10 anos e tem como objectivo incrementar a produção de açúcar, para além de abrir a possibilidade de produção de etanol a partir da produção industrial açucareira.

Cuba - África

5500 profissionais cubanos, entre os quais 2000 médicos prestam serviço, actualmente, em 35 países do continente africano. Por sua vez, em Cuba, graduaram-se mais de 40 mil jovens africanos, nos últimos 50 anos, havendo no presente 3000 jovens africanos a estudarem em Cuba.

Cuba entre três impérios (…)

Foi publicado pela Ediciones Bolona o título “Cuba entre tres imperios: perla, llave y antemural” da autoria de Enesto Limia Diaz. A política das potências europeias de Espanha, França e Reino Unido em torno de Cuba, constitui a temática deste importante estudo. O colonialismo, os seus sujeitos do poder, as monarquias, os jogos diplomáticos e as confrontações são aqui descarnados com uma linguagem acessível e com uma exaustiva investigação documental. Forma e conteúdo são premiados neste excelente trabalho de Lima Diaz. É um tratado de História que comporta um grande domínio sobre a teoria, o método e a metodologia da História, ao mesmo tempo que uma bela e criativa componente do acto de filosofar (tão raro entre os actuais investigadores) e que é lida como se fosse uma novela. A apresentação do livro foi realizada a 8 de Junho, numa sala abarrotada do Museu Castillo de La Real Fuerza e inserido nos 250 anos da invasão britânica, comemorados em Havana, com uma semana cultural focada nos valores dos povos do Reino Unido.

Inédito do Che

No Centro de Prensa Internacional foi realizada a apresentação de um livro de inéditos de Che, intitulado: “Apuntes filosóficos”, editado pela Ocean Sur e pelo Centro de Estudos Che Guevara, justamente no dia em que se celebrava os 84 anos de nascimento do Che. Com a presença de Aleida March, Armando Hart, Graziella Pogolotti, Victor Casaus e Victor Dreke, assim como membros do corpo diplomático em Cuba, a obra inédita foi apresentada pela investigadora cubana Maria del Carmen Ariet, compiladora do livro e por Martinez Heredia, responsável pelo prólogo. O livro reúne textos da juventude, reflexões escritas na Tanzânia, Praga e Cuba e estudos de obras teóricas escritos na Bolívia. Leitura a não perder.

O reino das mentiritas

No passado dia 6 de Junho o diário El País e o seu associado de Miami, New Herald, noticiavam que a grande maioria dos cubanos pretende profundas alterações na ilha. Para dar mais densidade á noticia o New Herald acompanhava o texto com uma fotografia de um edifico em ruinas numa rua de Havana. Aparentemente tratava-se de uma sondagem efectuada pelo Instituto Republicano Internacional (IRI) um instituto norte-americano vinculado ao Partido Republicano, de imediato publicado por grande parte da manipulada e manipuladora da indústria (a)social comunicante. A grande sondagem recolhe a opinião de 787 pessoas (0,007% da população cubana), não especificando o método de selecçäo da amostra, embora o El País tenha tido o cuidado de dizer que a sondagem conseguiu iludir as “proibições do regime comunista (…) ”.
Ora, o IRI, foi fundado em 1983, durante a administração Reagan, devido às investigações levadas a cabo pelas diversas comissões do Congresso, sobre a actuaçäo criminosa da CIA no mundo. Ficou decidido que parte do trabalho da CIA passaria a ser feito, de uma forma mais aberta e fiscalizável, pelo National Endowment for Democracy (NED) uma entidade não-governamental, mas suportada por uma grande fatia orçamental das finanças públicas norte-americanas. O IRI é uma das 4 entidades receptoras de fundos da NED. Só que o IRI acede, também, a fundos da USAID e do próprio Departamento de Estado, para programas de apoio a grupos opositores a governos contrários aos interesses yankees. Presidido por John McCain, senador e ex-candidato republicano á presidência, um dos partidários do endurecimento do bloqueio a Cuba, o IRI financia e suporta politicamente vários grupos da chamada dissidência cubana, como o Centro de Estudos Socioeconómicos e Democráticos, que se dedica á obtenção de informação sobre negócios de terceiros países em Cuba, facilitando as pressões e sanções dos USA, ou as Damas de Branco e mesmo organizações internacionais como a Solidariedade Espanhola com Cuba, que recebeu em 2008 uns chorudos 615 mil USD para tratamento de informação via Internet. O IRI é um expert nestas sondagens. A penúltima delas foi sobre a conexão da Internet em Cuba, que concluía por um grande descontentamento da população com a forma como a conexão é realizada, esquecendo-se no entanto de referir que a conexão é limitada pelo facto de Cuba não poder, por imposição do bloqueio, conectar-se aos cabos que rodeiam a ilha, propriedade de empresas norte-americanas.

Tudo gente séria

No mesmo dia em que surgia a notícia da condenação a 5 anos de prisão para Ernesto Montaner (um grande amigo das liberdades e herói dos yankees), acusado de fraude á Medicare e que se refugiou na Costa Rica, o que não lhe valeu de muito, pois o FBI foi buscá-lo numa solarenga manhã de Janeiro de 2011 (parece que o homem meteu largos milhões de dólares ao bolso através de um esquema de falsificação de facturas e de nada lhe valeu os serviços prestados durante anos ao imperialismo), ficámos a saber que outros honestos defensores da liberdade andam nas bocas da justiça, em Madrid, naquele que é conhecido pelo caso SINTEL. Vamos lá á história. Em 1996 a companhia Mas Tec, com sede em Miami, propriedade de Jorge Mas Canosa e da sua prole, comprou a telefónica Sintel, em Espanha. Em 2001, os filhos do combatente da liberdade Mas Canosa, que falecera em 1997, declararam a falência da Sintel, deixando mais de 1800 trabalhadores no desemprego e centenas de credores com as calças na mão.
O problema é que isto não foi consequência da crise permanente que sofre o sistema económico defendido com unhas e dentes por Mas Canosa e sua prole (se é que essa gente defende alguma coisa que não seja o seu) mas sim um acto consciente, que levou á descapitalização da Sintel, espoliando todos os activos da empresa. A sentença deverá ser conhecida em Novembro deste ano. A ver vamos como está a justiça espanhola, ou será que a Fundação Nacional Cubano Americana (FNAC), da qual Mas Canosa foi presidente da Junta de Directores, falará mais alto? É que uma coisa é assaltar os cofres do imperador, outra é assaltar os cofres dos súbditos. Além do mais a FNAC é uma habitual financiadora da Aliança Popular, a direita espanhola que (des) governa a Espanha. As autoridades fiscais espanholas pedem cinco anos e seis meses para Jorge e Juan Carlos Mas Santos (a prole de Mas Canosa).

Fontes
Jean-Guy Allard; Justicia pide cárcel por megafraude contra mafioso de Miami, socio de Aznar; http://www.rebelion.org
Lázaro Fariñas; Dos venerables famílias; http://www.rebelion.org
José Manzaneda; Los medios avalan encuesta fraudulenta en Cuba; http://www.cubainformacion.tv
El País; 06/06/2012
New Herald; 06/06/2012

2 comentários:

Anónimo disse...

Pena que seja uma ditadura

Anónimo disse...

Pena é o que vai na tua cabeça e te "obriga", desde o berço, a não enxergares para além do que as televisões te põem à frente dos olhos!

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