quarta-feira, 11 de julho de 2012

PARTIR AS PERNAS À LUSA




José Manuel Diogo - Bloguer Convidado - Aventar

A agência Lusa tem mais de 600 clientes espalhados por todo o país e por quatro continentes. É uma empresa exportadora. Tem ao seu serviço 300 jornalistas em Portugal e no mundo inteiro. Produz quase 500 notícias diárias, das quais muitas são complementadas em áudio e vídeo. É a única agência de notícias global, mundial, universal, em língua portuguesa (o Brasil não tem). É também a maior produtora de conteúdos em língua portuguesa. A nossa Hollywood, jornalisticamente falando.

Custou aos portugueses em 2012 menos de 15 milhões de euros, o que é, mais ou menos, o preço de três quilómetros de auto-estrada sem pontes ou viadutos. Esta verba que o Estado, o acionista principal da Lusa, injeta na empresa destina-se, não a pagar prejuízos (a empresa dá lucro há cinco anos consecutivos), mas sim a fazer com que as notícias produzidas estejam disponíveis a preços acessíveis aos seus clientes. A esmagadora maioria são pequenos órgãos de comunicação social portugueses, espalhados pelo interior e pelas ilhas, pelas comunidades portuguesas no estrangeiro (há outros 10 milhões que vivem fora de Portugal) e pelos países de língua oficial portuguesa. Ao todo, cerca de 260 milhões de falantes.

Nas tarefas do ajustamento Vítor Gaspar propõe-se cortar quase três milhões de euros ao orçamento e, quase inevitavelmente, levar ao desemprego mais 50 pessoas. Na sua maioria jornalistas.

Do orçamento global da agência, mais de metade corresponde a custos com pessoal, cerca de 11 milhões de euros. Um indicador de que qualquer corte que seja feito não é destinado a melhorar a gestão porque, essa, já é magra. Vai incidir diretamente nas pessoas. E nas notícias.

Aritmeticamente, em regra três simples, é só fazer as contas: o corte anunciado significa a perda de 136 notícias por dia. São por mês 4.110 histórias a menos sobre Portugal e os portugueses. E, por ano, quase menos 50 mil. Ficaremos todos mais pobres.

O atual presidente do conselho de Administração da agência Lusa, curiosamente de nome Afonso Camões (o fundador da Nacionalidade; e o nosso poeta maior, primeiro vulto cultural da lusofonia) invoca os quase 25 anos de serviço público que a Lusa tem dado ao mundo português e diz que “não faria sentido quebrar as pernas a quem tem feito um bom caminho”.

Winston Churchill um dia, no Parlamento, em plena II Grande Guerra, quando confrontado com a vontade da oposição em fazer cortes na cultura e nas artes, disse: “Se é para fazer isso, não sei porque estamos em guerra”.

Venha o Gaspar e escolha.

Sem comentários:

Mais lidas da semana