Martinho Júnior,
Luanda
4 – O mérito de
René Pélissier vai além dum simples historiador: ele analisou e concluiu como
poucos o que era e como se manifestava o colonialismo, o que eram e como se manifestavam
as resistências que só pararam praticamente em subjugação ou mesmo extermínio,
na segunda década do século XX.
Por isso quando ele
se debruçou sobre o início da luta de libertação pela independência e soberania
em Angola, ele estava capacitado a avaliar e definir o que era
etno-nacionalismo e o que o diferenciava dum movimento de libertação moderno,
unificador e ajustado à construção da identidade nacional em Angola.
Estava capacitado
também a avaliar o que se interligava e impulsionava as motivações e o esforço
de uns e de outros!
René Pélissier
contribuiu intelectualmente para se fazer a leitura que António Agostinho Neto
na prática, com avanços e recuos, com êxitos e com erros, por vezes com
experiências amargas, com toda a responsabilidade histórica e com toda a
solidariedade da consciência revolucionária e rebelde, realizou no âmbito do
MPLA, como seus pares no seio da FRELIMO, do PAIGC, da Revolução Cubana, da
SWAPO, da ZANU-PF, do ANC…
As nações que
compunham a antiga rota dos escravos levantavam-se pouco a pouco, uma a uma,
unidas pela ideologia da revolução dos oprimidos em prol da sua muito legítima
libertação.
5 – Quantos
escolhos não houve no caminho, quantos obstáculos não se tiveram de enfrentar,
quantos sacrifícios, quantas incompreensões e traições, quanto sangue, suor e
lágrimas, quantos reveses?
Mas a energia
estava gerada, o processo estava desencadeado e eram os oprimidos que com suas
próprias pernas, com o seu próprio corpo, estavam dispostos a caminhar.
A luta continuou
para que cada vitória se tornasse certa, não para um punhado recorde-se e
sublinhe-se, mas para todo o povo angolano, para todos os povos que um dia no
mundo foram, ou são tão persistentemente oprimidos.
Esse foi o repto, a
clarividência e o legado de António Agostinho Neto em Angola, para se superarem
as fraquezas e as vulnerabilidades de séculos, reptos que agora, depois do
calar das armas, se colocam na luta contra o subdesenvolvimento, com mais ou
com menos intensidade, com mais ou menos expressão, com outros riscos próprios
da globalização fabricada pelo império no seguimento da segunda grande
revolução tecnológica, com a lógica do capitalismo tão avassaladora que levou
ao colapso de muitos daqueles que se propunham ao socialismo real.
De António
Agostinho Neto sabemos a partir do seu legado, de sua integridade, que foi com
essa energia, foi com essa ideia sábia, experimentada e profética de trazer
benefício para todo o povo angolano e para todos os povos oprimidos por via dos
resgates históricos que há que realizar, que se tem dado corpo ao sentido da
vida, à paz e à democracia, que ora também fluem na construção da identidade
nacional.
A lógica
capitalista não é garante que se vai poder aproximar desse ideal, por razões
inerentes à própria história que fomentou com opressão, século após século!
A liberdade e o
aprofundamento das democracias para além da representatividade, não discorre da
natureza e do carácter da lógica capitalista e António Agostinho Neto sabia-o e
assumidamente sempre o disse com coragem e sentido de oportunidade, sem
evasivas e por amor e respeito para com os oprimidos (“A África parece um corpo
inerte onde cada abutre vem depenicar o seu pedaço”)!
Foi com os ideais
da identidade nacional, perseguindo uma via de construção de pátria e
socialismo, que o colonialismo, o “apartheid” e muitas das suas sequelas foram
vencidas e estamos perante novos desafios!
Essa é talvez a
lição mais profética e a mais esquecida de António Agostinho Neto, quando devia
ser hoje precisamente a mais lembrada: pátria e socialismo!
A poesia só existe
em António Agostinho Neto por causa do carácter dessa luta e por isso essa
poesia é tão visionária, mesmo que detalhe e se refira a espaços a episódios do
passado.
6 – Segundo António
Agostinho Neto, por isso “o MPLA é o povo e o povo é o MPLA”!
Essa coerência é
espelhada na poesia que nessa base é uma filosofia e uma epopeia irrevogável e
substantiva!
Detalho aqui o “Adeus
à hora da largada” (http://www.agostinhoneto.org/index.php?option=com_content&view=article&id=610:partida-para-o-contrato&catid=45:sagrada-esperanca&Itemid=233):
quanto amor, quanta sensibilidade e quanta determinação há no caminhante que
deu início ao caminho, o caminho que todos angolanos, africanos, latino
americanos e asiáticos, os Não Alinhados da Terra, temos ainda de palmilhar
entre tantos riscos, desafios e escolhos!
Minha mãe
(todas as mãe negras
cujos filhos partiram)
tu me ensinaste a esperar
como esperaste nas horas difíceis
(todas as mãe negras
cujos filhos partiram)
tu me ensinaste a esperar
como esperaste nas horas difíceis
Mas a vida
matou em mim essa mística esperança
matou em mim essa mística esperança
Eu já não espero
sou aquele por quem se espera
sou aquele por quem se espera
Sou eu minha Mãe
a esperança somos nós
os teus filhos
partidos para uma fé que alimenta a vida
a esperança somos nós
os teus filhos
partidos para uma fé que alimenta a vida
Hoje
somos as crianças nuas das sanzalas do mato
os garotos sem escola a jogar a bola de trapos
nos areias ao meio-dia
somos nós mesmos
os contratados a queimar vidas nos cafezais
os homens negros ignorantes
que devem respeitar o homem branco
e temer o rico
somos os teus filhos
dos bairros de pretos
além aonde não chega a luz eléctrica
os homens bêbedos a cair
abandonados ao ritmo dum batuque de morte
teus filhos
com fome
com sede
com vergonha de te chamarmos Mãe
com medo de atravessar as ruas
com medo dos homens
nós mesmos
somos as crianças nuas das sanzalas do mato
os garotos sem escola a jogar a bola de trapos
nos areias ao meio-dia
somos nós mesmos
os contratados a queimar vidas nos cafezais
os homens negros ignorantes
que devem respeitar o homem branco
e temer o rico
somos os teus filhos
dos bairros de pretos
além aonde não chega a luz eléctrica
os homens bêbedos a cair
abandonados ao ritmo dum batuque de morte
teus filhos
com fome
com sede
com vergonha de te chamarmos Mãe
com medo de atravessar as ruas
com medo dos homens
nós mesmos
Amanhã
entoaremos hinos à liberdade
quando comemorarmos
a data da abolição desta escravatura
entoaremos hinos à liberdade
quando comemorarmos
a data da abolição desta escravatura
Nós vamos em busca
de luz
os teus filhos Mãe
(todas as mães negras
cujos filhos partiram)
vão em busca de vida.
os teus filhos Mãe
(todas as mães negras
cujos filhos partiram)
vão em busca de vida.
Foto de Martinho
Júnior: “MPLA 55 anos por Angola e pelos angolanos” – Iº Colóquio Internacional
sobre a História do MPLA – intervenção de Jorge Risquet Valdez, o comandante da
2ª coluna do Che em África – 7 de Dezembro de 2011. Jorge Risquet Valdez foi o
1º cubano que conheceu pessoalmente António Agostinho Neto, em 1953 e durante
um Festival Mundial da Juventude (http://www.outroladodanoticia.com.br/component/content/article/2-noticias/1834-jorge-risquet-primeiro-cubano-que-conheceu-agostinho-neto-.html).
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1 comentário:
No dia 21 do corrente mês oucorreu a gala em homenagem ao Sayovo, nesta Gala foi visivil a tristeza de José Sayovo porque teve de ir na gala de boleia por falta de transporte, o carro que lhe foi oferecido encontra-se aváriado porque foi avejado pelos marginais.
É de lamentar poque até a data presente ninguêm fez nada para resolver a situação do campeão que tem erguido sempre a bandeira do país ao mundo a forá... Pesso como um fãm de José Savovo que ajudem o nosso campeão publicando esta notícia.
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