Victor Farinelli, Santiago – Opera Mundi
Segundo eles, policiais estariam capturando jovens e fazendo ameaças para que encerrem os protestos
As recentes denúncias de abusos por parte dos Carabineiros contra estudantes chilenos, feitas por entidades estudantis, revelaram uma nova forma de repressão que pode estar sendo adotada para reprimir os protestos em prol de uma educação pública. Até agora, são oito os casos de estudantes que dizem ter sofrido estranhos casos de sequestro “express”, ou seja, de curta duração. Apesar de os Carabineros serem apontados como os culpados, não há provas conclusivas sobre a autoria.
Em todos os casos reunidos até agora, as vítimas foram abandonadas em terrenos baldios depois de horas de cativeiro. Os estudantes afirmam que junto com um documento apresentado ao INDH (Instituto Nacional de Direitos Humanos) e revelado nesta quarta-feira (29/08), foram anexadas provas fotográficas e audiovisuais que comprovam as denúncias e justificam as suspeitas de que policiais poderiam estar por trás desses casos.
Uma das vítimas foi Alberto Contreras, de 17 anos, que participou da ocupação do Colégio Confederación Suiza, na comuna de La Reina. Alberto foi mantido durante horas no porta-malas de um carro em 22 de agosto. Ao perceberem que o jovem havia desaparecido, os pais e alguns amigos fizeram uma peregrinação por diversas delegacias de Santiago e, sete horas depois, o encontraram em um descampado próximo à Cordilheira dos Andes, fora do perímetro urbano da capital.
“Fiquei não sei quantas horas sem espaço para me mover, enquanto o carro corria em alta velocidade. Senti falta de ar, quis vomitar e ouvi ameaças de que destruiriam a mim e à minha família. Sabiam nomes, endereços e lugares que costumamos frequentar”, relatou Contreras. “Meus pais e amigos querem que eu continue participando do movimento mais não posso mais. Estou aterrorizado”, desabafa o jovem.
Alberto diz ter certeza policiais estavam envolvidos em seu sequestro. Isso porque ele conseguiu escutar uma voz em um rádio transmissor dando instruções sobre o que deveria ser feito. Segundo o estudante, a ordem para que ele fosse libertado veio após a peregrinação da família. “A voz do radio transmissor falava que eu havia sido procurado em muitas delegacias e que precisavam me soltar. Pelo tom, dava a impressão de que a fonte era próxima a uma delegacia”, contou.
Outro fator que leva os estudantes a acreditar que os sequestros são obra de policiais é uma coincidência que envolve as vítimas. Todos os oito casos conhecidos até agora são de estudantes que participaram de ocupações de escolas recentemente, e que foram detidos e fichados durante o procedimento de desocupação.
Investigação
A presidente do INDH Lorena Fries pediu para que não se fizesse acusações apressadas com relação aos casos de sequestros "express", mas também disse que solicitará à PDI (Polícia de Investigações, correspondente à polícia civil brasileira) para que investigue com afinco as denúncias apresentadas pelos estudantes.
“Ainda não podemos afirmar quem são os responsáveis, mas sim constatar a gravidade do problema e que estes sejam elucidados o mais rápido possível. São práticas que remetem ao pior do passado recente do país e seria uma tragédia que voltassem a ser rotina”, concluiu Fries.
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