Daniel Oliveira –
Expresso, opinião, em Blogues
5 de Outubro de
2012. Enfiadas no Pátio da Galé as principais figuras do Estado de um País
destroçado celebram, pela primeira vez na história da democracia, a implantação
da República, longe do povo. É a imagem de um poder político cercado e isolado.
O Palácio de Belém,
ao contrário do que é habitual, foi fechado. O Presidente justificou o
encerramento do palácio por razões financeiras. Mas todos sabiam que a razão
era outra: medo de um povo em fúria. No dia 5 de Outubro de 2012 o poder
político celebrou a sua própria cobardia.
Perdido algures na
Europa, o mesmo primeiro-ministro que faltou ao encontro em Roma com os países
intervencionados e em dificuldades, comparceu numa irrelevante reunião entre os
Estados "amigos da coesão". Um primeiro-ministro sem rumo, sem
aliados externos e odiado pelo seu próprio povo.
O Presidente da
Câmara, o mesmo que quando a derrota em eleições era provável se esquivou a
concorrer à liderança mais do que garantida do Partido Socialista, fez um
discurso de oposição. Que teve como principal resultado exibir a absoluta
nulidade do líder formal do maior partido da oposição. Uma oposição bloqueada.
Na varanda dos
Paços do Concelho, perante uma Praça do Município deserta e guardada, o
Presidente hasteava a bandeira nacional ao contrário. A República de pernas
para o ar. Apesar de não ter tido, como é evidente, qualquer responsabilidade
no lapso, a simbologia daquele momento era impossível de ignorar: um País ocupado
pelo inimigo pede auxílio.
Assim se celebrou,
pela última vez em feriado, a implantação da República. Quando um dia alguém
escrever sobre estes tempos trágicos, deverá começar por descrever aquele dia.
Quando o divórcio entre um poder político acossado e um povo humilhado foi tão
esmagadoramente exibido.
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