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Egípcios protestam
contra a Constituição de teor islamista e os superpoderes do presidente Morsi. Irmandade
Muçulmana reage com táticas que lembram a era Mubarak.
A pressão sobre o
presidente Mohamed Morsi aumenta a cada dia no Egito. Na noite desta
terça-feira (04/12), dezenas de milhares de pessoas protestaram no Cairo, desta
vez não só na Praça Tahrir, mas também em frente ao palácio presidencial.
O protesto diante
da sede do governo permaneceu, em grande parte, pacífico até tarde da noite. Somente
no início da noite a polícia de choque havia disparado algumas bombas de gás
lacrimogêneo contra manifestantes que tinham removido e atravessado as
barreiras de arame farpado.
Ao contrário de
manifestações semelhantes, a polícia permaneceu tranquila e pouco depois até se
retirou completamente para dentro da área do palácio. O presidente está ciente
de que um banho de sangue neste momento poderia causar uma revolta popular.
Já os manifestantes
não tentaram invadir o palácio. Tarde da noite, alguns deles montaram tendas,
como na Praça Tahrir. Morsi já havia deixado seu escritório no final da tarde,
não se sabe se por causa dos protestos ou por outras razões.
"Mensagem ao
ditador"
As reivindicações
dos manifestantes continuam as mesmas e se direcionam contra a Constituição e o
polêmico decreto de Morsi para ampliar seus próprios poderes. "A
Constituição é basicamente uma Constituição da Irmandade Muçulmana. Antes da
Constituição e do decreto, a praça Tahrir estava calma. Agora, as pessoas
resolveram fazer alguma coisa, reagir", comentou Abdel Salah El-Din, que
protestou até tarde da noite na praça Tahrir.
Cada vez mais
manifestantes pedem até mesmo a renúncia de Morsi, embora não saibam dizer o
que deveria vir em
seguida. Mesmo oposicionistas antes próximos vêm se
distanciando do presidente. O escritor Alaa Aswani, por exemplo, apoiou Morsi
no segundo turno das eleições presidenciais. Na época, a intenção dele e de
outras figuras da oposição liberal era evitar a eleição de Ahmed Schafik,
último primeiro-ministro de Horni Mubarak. "Esta é uma mensagem clara ao
ditador: a revolução não é fraca, Morsi, e ela pode se livrar de você. Da
próxima vez que você não honrar sua palavra, você não poderá escapar, e nós lhe
levaremos a Mubarak", escreveu Aswani nesta terça-feira.
Manipulação na
mídia
A cobertura da
mídia é um exemplo da forma de agir da Irmandade Muçulmana. A emissora de
televisão Al Jazeera, que toma partido da Irmandade Muçulmana, mostrou
principalmente imagens em close, fechadas, dos protestos. Com isso, o número de
manifestantes parecia ser menor do que realmente era. O mesmo vale para a
televisão estatal, cada vez mais controlada pelos islamitas.
São táticas de
propaganda semelhantes às da época de Mubarak. Os meios de comunicação online
da Irmandade Muçulmana relatam quase exclusivamente sobre acontecimentos que
lançam uma imagem negativa sobre os manifestantes. A mentira mais óbvia veio do
secretário-geral da Irmandade Muçulmana, que declarou ao site do jornal estatal
Al Ahram que apenas 2 mil manifestantes estavam em frente ao palácio presidencial.
No mesmo momento, canais de televisão privados mostravam imagens da grande
multidão reunida do lado de fora do palácio.
Muitos,
especialmente os manifestantes que pertencem à classe média, não entendem o
comportamento intransigente de Morsi. "Sou contra as decisões de Morsi.
Ele agora tem todo o poder em suas mãos. Ele tem poder absoluto. Onde está a
democracia? Não entendo o que se passa na cabeça dele", declarou um
comerciante de tecidos que, antes dos atuais protestos, nunca tinha ido a
manifestações.
Investigações
contra líderes da oposição
Mas os
manifestantes esperaram em vão, madrugada adentro, por uma reação do presidente
às manifestações, em grande parte pacíficas, que não se limitaram ao Cairo. Ischak
George, fundador do conhecido movimento de oposição Kifeia, já ameaçava com um
acirramento dos protestos caso Morsi não fizesse concessões até esta sexta-feira.
As dúvidas sobre as
intenções dos islamistas cresceram ainda mais nesta terça-feira, depois de um
advogado apresentar queixa contra vários líderes da oposição. Ele acusa Mohamed
ElBaradei e outros oposicionistas de espionagem e incitação à desordem pública.
Tais métodos também lembram Mubarak e sua forma de lidar com as críticas de
oposicionistas. O novo procurador-geral, nomeado pelo presidente Morsi, ordenou
ao Ministério Público que investigue as acusações.
Autor: Matthias
Sailer (md) - Revisão: Alexandre Schossler
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