Henrique Raposo – Expresso,
opinião
O meu problema com
o palhaço é a falta de precisão do termo. A palhacite, aguda ou moderada, é um
conceito demasiado gasoso. Prefiro termos com mais sustança. Cobardia, por
exemplo. Ao contrário da palhacite, a cobardia política é algo que podemos
medir com algum grau de precisão. E, por amor a Nossa Senhora, reparem bem no
termo: cobardia política. Não está em causa a pessoa, mas o político. Como
pessoa, como pai, marido ou avô, o Dr. Anibal será, com certeza, um herói, um
Rambo da vida doméstica, um Chuck Norris da intimidade, um Titã do miminho.
Mas, como político, Cavaco Silva tem sido o leãozinho amarelo de Oz. Exemplos? A posição de Cavaco Silva sobre
os cortes nas pensões é um exemplo clássico de cobardia política.
Mais? Cavaco pactuou com a governação socialista, deixou Sócrates e Paulo
Campos à solta, e depois assumiu a primeira vaga de oposição ao governo que
herdou o país arruinado pelo socratismo. A conversa da "falta de
equidade" foi inaugurada pelo reformado Cavaco Silva logo em 2011.
Esta juba amarela
de Cavaco é evidente até na forma como respondeu a Miguel Sousa Tavares. O
termo palhaço é infeliz? É. O próprio Sousa Tavares já o reconheceu. Mas uma expressão
infeliz não justifica a abertura de um processo pelo ministério público a
pedido do próprio Presidente. Se tivesse a dimensão que julga ter, Cavaco Silva
teria sido o primeiro a pedir a não-instauração de um processo. Dessa forma, o
ónus cairia apenas no jornalista em causa. Em vez de ser magnânime, Cavaco foi
picuinhas e resolveu processar um jornalista através do poder coercivo do
Estado. Isto é como ver um elefante a mostrar medo perante a mosquinha que
poisou na sua tromba. Por mais ridícula ou ofensiva que seja, a opinião de um
jornalista não tem poder coercivo, não aumenta impostos, não aumenta a
contribuição da segurança social, não muda a vida de ninguém.
Para mal dos nossos
pecados, esta não é a primeira vez que Cavaco Silva usa a falácia do bom-nome: no caso BPN, nunca deu as respostas
certas, aliás, nunca quis ouvir as perguntas. Agora, usa o argumento
da "honra ofendida do chefe de estado". O Presidente em exercício
parece partir do pressuposto de que Cavaco e Portugal são sinónimos e, assim,
transforma qualquer ataque a Cavaco numa ofensa a Portugal. Ora, convém relembrar
que o Dr. Cavaco não é um rei, não é um símbolo, não é o imperador do Japão,
não é um ser longínquo e semi-divino acima da batalha política. O Presidente em
exercício é um político profissional, foi eleito pelos portugueses e tem uma
enorme influência nos destinos do país. Neste sentido, está mais do que
inserido no campo de tiro da crítica e da sátira. Um ataque a Cavaco não é um
ataque à Presidência, ao regime, ao país. Aliás, um ataque a Cavaco até pode
ser uma defesa do regime e um atestado de patriotismo.
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