Tiago Mota Saraiva –
Jornal i, opinião
Na semana passada
foi tornado público um estudo da Eurosondagem em que se revela que apenas 10%
dos inquiridos concordam com a aplicação do programa da troika. Mas este não é
o único dado surpreendente. Entre renegociar e rasgar o Memorando, as opiniões
dividem-se, com uma curta vantagem para a segunda opção.
Numa versão simplista de quem papagueia a governação, estamos perante um país
de aldrabões que não gostam de pagar as contas. Contudo, parece-me irreversível
que a rejeição da troika, e de qualquer governo que a represente, tenderá a
aumentar cada vez que se conheça melhor o teor da dívida pública ou dos juros a
que o país está sujeito. Em boa verdade, a única opção séria e racional que
consigo colocar é a diferenciação entre dívida legítima e ilegítima, a rejeição
liminar de juros especulativos e o início da responsabilização financeira das
instituições e governantes que lucraram com a progressiva destruição da
economia e do tecido produtivo.
Sempre rejeitei a tese desresponsabilizadora de que o governo e a troika
andarão alheados da realidade. Mais: a história recente das últimas décadas
devia-nos fazer ver de uma forma mais clara que os tempos que vivemos em
Portugal são tempos extraordinários para a acumulação de capital, a par da
destruição de direitos, liberdades e garantias conquistados ao longo de décadas
– e um obstáculo a esses processos de acumulação.
O Conselho de Estado foi mais um decrépito número, personificado pelos homens
do poder das últimas décadas, que expressa a imagem de uma democracia que se
vai esgotando, pela mão de uma maioria, um governo e um Presidente que bailam
sobre o cadáver do seu povo e aldrabam até o mais miserável relato de uma
reunião.
Escreve ao sábado
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