Rui Peralta, Luanda
Este fim-de-semana vamos concluir a
viagem ao Imaginário e às dimensões do Fantástico, que iniciámos no passado
fim-de-semana, para quebrar a rotina do emprego ou do desemprego. Como já
sabem, não precisam de preparar bagagens nem de ter dinheiro. Basta ir.
Tão-somente. Comecemos então.
O Reino do Grande
Ocidente
O Reino do Grande Ocidente comporta uma fauna imensa de seres exóticos. Nas cavernas profundas vivem os Dragões do Ocidente, que mais não são do que enormes serpentes aladas que exalam fogo e fumo através das suas enormes narinas. Nos bosques e florestas deste reino habitam os Hidebehind, um pequeno e inofensivo animal, que tem a particularidade de se esconder por detrás de quem quer fugir, permanecendo escondido, nas costas do adversário. O viajante encontrará também o Roperite, do tamanho de uma criança, mas com um bico maleável flexível, em forma de corda, com o qual enlaça as suas presas favoritas: os coelhos. De certeza que vai irritar-se com o Teakettler, pequeno, barulhento, que fumega pelas narinas e caminha para trás, uma espécie inofensiva mas que incomoda, pelo barulho que produz, semelhante ao de uma chaleira e ficará deslumbrado com o Axehandle Hound, um animal em forma de machado de lenhador e que se alimenta de madeira.
Nos bosques e nas
pradarias, abundam os Gatos de Kilkenny, gatos peludos, enormes, de várias
cores, que riem como hienas e que se não estiverem com a barriga cheia,
devoram-se uns aos outros. Mas há também uns animais complicadíssimos, os
Hankrafz Azraniel, seres alados, com corpo de lobo e com 4 cabeças, uma de
urso, outra de águia, uma de javali e outra de coruja. Ficam imóveis durante o
dia, mas durante a noite, têm o hábito de provocarem distúrbios na floresta. A
sua dieta inclui alguns animais de pequeno porte e insectos. Adoram mel e
doçarias.
Outra das espécies
que por aqui são encontradas é a Lebre Lunar, uma pequena lebre cinzenta, que
uiva nas noites de Lua cheia. Um dos animais mais perigosos e com o qual devem
ter imenso cuidado, é o Peludo, um animal esférico, com cabeça de serpente e
corpo coberto de pelo verde, armado de aguilhões mortais, na sua imensa cauda.
Quando se enraivece lança fétidas chamas das suas narinas. Vive nas margens dos
rios onde se esconde.
No Norte do Reino
habita o Javali Acorrentado, assim chamado porque o seu corpo é protegido por
uma carapaça de ferro, em forma de correntes em torno do corpo. Partilha o
espaço com a Quimera, de cabeça de urso, corpo de cabra e cauda de serpente.
São animais tímidos, que nunca se deixam observar, assim como o Réptil de
Lewis, um anfíbio do tamanho de um homem, com corpo de vespa, cabeça de
salamandra e patas de centopeia. Nas províncias do Sul predominam os Squonk,
símios de pequeno porte, que imitam um som semelhante ao choro e que têm os
olhos constantemente a lacrimejar Um dos animais mais curiosos desta região é a
Truta das Árvores, uma truta voadora que faz o seu ninho nas árvores e que não
vive, nunca, na água.
Nos céus dominam os
Goofus, um pássaro que voa para trás, o Gillygaloo, cujos ovos são quadrados e
o Pinnacle Grouse, que só tem uma asa e que, por isso, voa em círculos. Um
animal deslumbrante que habita neste reino é a Fénix, uma ave imensa, idêntica
á águia-real, mas muito maior, com penas douradas e bico cor de carmesim Habita
nas Grandes Montanhas, uma região montanhosa a grande altitude no Reino do
Grande Ocidente. Estas aves põem ovos, mas engolem-nos logo de seguida e as
suas crias são geradas dentro dos ovos, mas no interior dos seus ventres. Tem a
capacidade de resistir ao fogo e pode atravessar um mar de chamas que nem fica
chamuscada. A sua alimentação é igual á de qualquer ave carnívora.
Também os mares
deste reino são habitados por seres curiosos. Um dos maiores perigos destas
costas são as Rémoras, não pela sua agressividade, pois são pacíficas, ou pelo
seu tamanho, mas pelo facto de se agarrarem ao fundo dos barcos, em tão grande
quantidade que as embarcações se imobilizam. Uma outra espécie marítima bem
mais perigosa é o Zaratan, de um tamanho descomunal, meio baleia, meio
tartaruga, com uma forma muito curiosa de caçar: coloca-se, imobilizada, á
superfície, criando a ilusão de uma pequena Ilha. Quando os marinheiros
incautos nelas desembarcam, o Zaratan arrasta os infelizes para as profundezas
do mar, onde os devora. Outro peixe característico deste reino é o Goofang, um
peixe grande que nada para trás, completamente inofensivo.
Este reino é governado pelo Rei Talos,
uma figura controversa, que tem metal e pedras incrustados no corpo: um tronco
de mármore, dentes de ouro, um olho de diamante, um joelho de safira, um braço
de ferro e uma mão de aço. Talos é um típico rei guerreiro, beligerante e pouco
simpático, mas não é um tirano. Aliás os seus poderes são bastante reduzidos e
limitam-se ao garante da defesa do Reino.
As grandes decisões
são tomadas pelas Valquírias, essas sim as grandes protectoras do Reino,
responsáveis pela segurança dos mares e pela expansão territorial do reino, assim
como pela sua administração. É a única tribo do Reino, exclusivamente feminina.
Cruzam-se com estrangeiros, que depois são expulsos, podendo, no entanto,
permanecer no Reino, como auxiliares de Talos, se este assim o desejar. Quanto
às suas crias, só ficam com as do género feminino. Os rapazes, quando fazem 18
anos, são enviados para a Guarda Real, de Talos e ficam ao serviço deste, ou
tornam-se sacerdotes auxiliares de Haokah, o sacerdote supremo, Senhor do
Trovão.
O Reino do Grande
Oriente
Existem dois seres que marcam este
Reino: o Unicórnio Amarelo e o Zorro Voador. No Unicórnio Amarelo mistura-se o
cavalo que lhe dá o corpo, os cascos e a cabeça, o boi, que lhe dá a cauda e o
rinoceronte que lhe oferece o corno nascido na frente, entre os olhos. O seu
corpo é coberto por um pelo amarelo e é completamente inofensivo para qualquer
criatura menos para as malignas, pois anula todos os poderes maléficos. Habita
as vastas planícies do reino. Já o Zorro Voador é, em termos fisiológicos e
anatómicos, um asno absolutamente normal, só que tem umas enormes asas que lhe
proporcionam o poder de voar, para além de ter a capacidade de prever o futuro
e criar ilusões nas fadas. Além disso pode provocar incêndios se golpear a
terra com a sua cauda e criar vendavais se começar aos coices no ar. Habita nas
regiões montanhosas.
Na fauna exótica deste reino, o
viajante será confrontado com o Dragão do Oriente, um ser alado, com dois
cornos, enormes garras, escamas hexagonais e o dorso constituído por aguilhões.
Cospe fogo e fumo pelas suas narinas. Outros estranhos animais que habitam
estas paragens são; o Chiang, um tigre com cabeça de cobra; o Xouti, um cão com
duas cabeças, uma em cada extremidade do corpo; o Sihao, uma ave com cara e
asas de coruja, corpo de macaco e cauda de cão; o Sing-Sing, macacos de pelo
escuro, com enormes patas brancas, que caminham erectos; o Cão das Montanhas,
um cão minúsculo, que se move com grande rapidez; a Serpente Musical, uma
serpente voadora, com 4 asas e que emite sons idênticos aos de uma flauta
transversal; o Ping-Feng, um porco escuro com duas cabeças, cada uma na sua
extremidade; o Cavalo Celestial, um cavalo alado, voador e a Fénix anã, uma
Fénix que cabe na palma da mão de um homem.
Para além desses o
viajante ainda pode apreciar o Galo Celestial, um galo hermafrodita, que põe
ovos de várias cores, tem plumagem dourada e três patas; a Óctupla Serpente,
uma pequena serpente com 8 cabeças e oito caudas e o Xangiang, um pequeno
pássaro cantor que incha com a chuva. Já o Roque, parecido com o condor, mas
muito maior, com duas fileiras de dentes, instalados na parte interna da sua
boca em forma de bico (devorador de Homens), o Tixiang, um pássaro de plumagem
vermelha com 6 patas e 4 asas, sem olhos e o Simurg, um pássaro com pluma
alaranjada, cujo canto enlouquece os Homens, só poderão ser observados a uma
distância segura e com um guia experiente.
Nos mares o único
espécimen curioso é o Hua, um peixe voador, com asas de pássaro, que nidifica
nas árvores, mas que habita os mares.
O Reino do Grande Oriente é governado
pelo Imperador Vermelho, da tribo Xin, que reúne o apoio das tribos Mon e Gol,
guerreiros e pastores, que por sua vez garantem a pacificação do reino e
exercem o domínio sobre os Xuaritou, pescadores fluviais, os Singtien,
comerciantes e pastores nómadas, os Braços Compridos, pescadores no alto-mar,
os Seaman, marinheiros e comerciantes e por fim a tribo dos Braços Raros,
célebres artesões e fabricantes de armas. Mas nem sempre foi assim.
A Historia milenar
deste reino está recheada de guerras e conflitos. Antes de ser um reino
unificado, este território era constituído por 4 reinos, Após um período
conturbado, que se prolongou por mais de 200 anos, durante os quais as guerras
tingiram os rios de sangue, os Xin conseguiram unificar o território e formaram
o Reino do Grande Oriente.
A Terra das Fadas
A Terra das Fadas é uma hierarquia de Republicas. Todas as Republicas devem obediência á Rainha das Fadas, Morgana e estão sobre a sua protecção. As Fadas, propriamente ditas, não têm uma Republica, mas sim um Reino, que domina todo o território.
Nesta hierarquia,
sendo o Reino das Fadas o centro principal de decisão, a república dos Elfos
ocupa o plano imediato. Os Elfos são seres de baixa estatura, turbulentos,
óptimos arqueiros e senhores de práticas mágicas que influenciam os sonhos, dai
a sua república ser oficialmente designada por Republica Onírica dos Elfos.
Apenas devem obediência ao Reino das Fadas e tê um estatuto superior às
restantes repúblicas.
Os terceiros da
hierarquia são os Eloi, aristocratas inatos, que passam o seu tempo em jogos
ociosos nos seus enormes jardins. São senhores de uma delicada magia, baseada
na sedução e na preguiça. Os Elói têm fama de destruidores de economias dos
reinos ou repúblicas (excepto a deles, que é financiada pelo Reino das Fadas,
para os manterem sob seu controlo).
Seguem-se os
Morlocks, cuja república é oficialmente designada por Republica Subterrânea
Morlock. São seres parecidos com as toupeiras, construtores de máquinas de
perfuração, que habitam no subsolo e todos os seus poderes mágicos são baseados
na escuridão. Constituem o oposto dos Eloi, pois são autênticos alienados pelo
trabalho.
Em quinto lugar
estão os Gnomos, anões barbudos, guardadores de tesouros e senhores de uma
poderosa magia provocadora de ilusões. A Republica dos Gnomos, aliás, é um
autêntico depósito de tesouros, ou melhor, representa o cofre da Terra das
Fadas.
As próximas da
escala são as Harpias, seres alados, do género feminino, que vivem do rapto.
Comedoras de carne humana, as Harpias raptam os homens para se reproduzirem,
seduzindo-os com rituais de encantamento. Quando já não precisam das suas
vítimas, devoram-nas. A sua chefe é a Presidente Diana, a única Harpia arqueira
e a sua república é oficialmente designada por Republica das Fúrias.
A Federação das
Republicas Ninfas é o nível seguinte desta hierarquia das Terras das Fadas.
Esta é uma Federação de 3 repúblicas: A Republica Hamadríada, habitada pelas
Hamadríadas, Ninfas dos bosques; a Republica Nereide, habitada pela Nereides,
Ninfas do mar e a Republica Náiade, habitada pelas Náiades, Ninfas dos rios. As
Ninfas são hermafroditas e os humanos não as podem ver, pois ficam loucos e se
as virem nuas, morrem.
A Federação Sátira
é outra Federação de 3 Republicas Autónomas representativas das 3 etnias de
Sátiros: Faunos, Pãs e Silvanos. Metade homens, metade bodes, os Sátiros eram
senhores de uma intricada magia sexual, grandes tocadores de flauta,
principalmente os Pãs e excelentes provadores de vinhos.
A Republica
Oceânica das Sereias, uma Republica no mar, com uma direcção colegial é a
seguinte na hierarquia. Conhecidas pelo seu canto que enfeitiça os homens
portadores da saudade do amor, as Sereias, metade mulheres, metade peixe,
reúnem-se em torno de uma ilha viva, um Zaratan, oferecido às sereias pelo
Reino do Grande Ocidente, para que os marinheiros deste reino não fossem
atraídos pelo canto das sereias. A sua Presidente é Parténope, a mais bela de
todas as Sereias.
A última republica
desta hierarquia da Terra das Fadas é a Republica Aérea dos Sílfides, a
república dos Silfos, seres intermédios, entre a materialidade e a
imaterialidade. Têm a capacidade de voar e de se tornarem invisíveis, para além
de se teletransportarem e atravessarem muros e paredes, aparecerem ou
desapareceram subitamente e assumirem diversas formas. Não têm qualquer chefe,
nem é conhecida nenhuma instituição na sua república, para além da Assembleia
dos Silfos, pelo que a sua república é autogestionária.
Para além destes
povos e repúblicas, há que salientar as 3 Nornas, 3 gémeas que representam o
Presente, o Passado e o Futuro e que tecem o destino dos que se perdem. São
temidas pelas fadas e Morgana estabeleceu um acordo com as gémeas tecedoras dos
destinos das almas perdidas, alojando-as nas profundezas das cavernas do seu
palácio real.
Papel importante na
estrutura militar, desempenham as Salamandras, que existem em grande número por
estas bandas. As Fadas adestram-nas para cumprirem serviços militares diversos,
pelo que as Salamandras se tornaram especializadas nas artes do combate e
temíveis pela sua tenacidade e argúcia.
A Ilha Suspensa
A Ilha Suspensa é um território
suspenso no ar, localizado por cima da Terra das Fadas. Os seus principais
habitantes são os Anjos, humanos alados, dedicados á teologia. Não têm chefes,
nem instituições. Não são reino nem república. Vivem em comunidade e comunicam
por telepatia. São afáveis, generosos e dedicam-se á espiritualidade.
No outro extremo da
Ilha situa-se o Reino dos Monóculos. Os Monóculos são constituídos por 4
tribos: os Ciclopes, os Galanteus, os Crifos e os Arimaspos, que se reúnem no
Grande Curral, um parlamento de todas as tribos. Os Reis são eleitos por 4
anos, demorando cada ciclo completo tribal 16 anos. O seu Rei actual é um
Galanteu chamado Polifemo.
Para além destas duas importantes
comunidades, existem diversos seres míticos como o Baldanders, que assume
diversas formas e não tem nenhuma; o Basilisco, também ele transformista, mas
cuja forma inicial é de estátua de serpente; a Cila, uma ninfa que tem o poder
de se metamorfosear; Cronos e Hércules, inseparáveis heróis, sendo que um é
mestre do tempo e o outro um exemplo de coragem e tenacidade; o Duplo, um ser
que se assume como duplicação do que quer que seja e seja de quem for; a Garuda
metade mulher, metade águia; o Golem, um gigante descomunal; Lilith, uma
serpente que assume a forma de uma mulher alta, com longos cabelos negros e
seios opulentos; o Minotauro, meio touro e meio homem e o Odradek, um simpático
pedaço de madeira falante.
No mundo vegetal
existem duas preciosidades na Ilha Suspensa: as Flores do Âmbar, uma linda flor
cristalina, carnívora, que faz do lobo o seu alimento predilecto e o Borametz,
um cordeiro vegetal, coberto com penugem dourada e com raízes de prata,
alimento predilecto dos Lobos. Escusado será dizer que onde existe o Borametz
existem Flores do Âmbar.
Já a variedade animal é imensa nesta
Ilha que flutua nos céus. O viajante depara-se com os Antílopes de 6 Patas, o
Asno de 3 Patas, o Catóblepas, um búfalo com uma cabeça enorme e uns chifres
grossos e pesado, o Centauro, um gorila cavalo, a Crocota, uma hiena com pelo e
cauda de lobo e a Leucrócota, um gnu com cabeça de hiena, o Cat Lamb, um gato
selvagem com corpo de ovelha, o Grifo, um leão alado, o Kuyata, um enorme
touro, com 4 mil olhos, o Mirmecoleão, um papa-formigas com duas cabeças em
cada extremidade e por fim o Aqueronte, um hipopótamo maior que uma montanha,
que lança-chamas dos olhos.
No mar suspenso, o
grande lago da Ilha Suspensa, podem apreciar as brincadeiras aquáticas do
Fastitocalon, uma enorme baleia com formato de golfinho e barbatana de tubarão.
Espero que tenham
gostado da proposta. Aproveitem. E um último conselho de viagem- Esqueçam
aquela do “Há mar e mar, há ir e voltar”. Viagem sem preconceitos, receios e
medos. Opte antes por “Amar e ir, amar e voltar”.
Sem comentários:
Enviar um comentário