Em entrevista
exclusiva a um jornal de Hong Kong, o americano Edward Snowden prometeu novas
revelações, sobre o programa secreto de vigilância electrônica nos Estados
Unidos, trazido a público por ele na semana passada. Segundo o site do South
China Morning Post, ele deu mais "detalhes explosivos", falou sobre o
que planeia fazer agora, as medidas tomadas pelas autoridades americanas até o
momento e o temor de que algo possa acontecer aos seus familiares.
É a primeira
entrevista de Snowden desde que ele falou em exclusivo ao jornal británico The
Guardian. Ao que parece, o jornal de Hong Kong está a publicar a entrevista aos
poucos. Num dos primeiros trechos divulgados, o ex-funcionário de uma empresa
que presta serviços à Agência de Segurança Nacional (NSA, na sigla em inglés)
respondeu o que ele acha sobre o facto de que os seus actos estão a ser tanto
apoiados quanto condenados no mundo inteiro: "Eu não sou nem um traidor,
nem um herói. Eu sou um americano".
Snowden também
falou sobre ter escolhido Hong Kong como o local em que divulgou as
informações. "As pessoas que acham que eu errei em escolher Hong Kong não
entenderam as minhas intenções. Eu não estou aqui para me esconder da Justiça;
estou aqui para revelar a criminalidade", disse, acrescentando em seguida
que pretende lutar contra tentantivas de extradição. "A minha intenção
aqui é deixar o meu destino nas mãos das pessoas e do governo de Hong Kong. Não
tenho dúvidas para duvidar do seu (de Hong Kong) sistema", afirmou ao
South China Morning Post.
"Eu tive
muitas oportunidades para sair daqui, mas eu preferi ficar para lutar contra o
governo dos Estados Unidos na Justiça, pois eu tenho fé no estado de direito de
Hong Kong", disse ainda.
Snowden disse que
ainda não conversou com os seus familiares desde que deixou o país porque teme
pela sua segurança e pela deles. "Eu nunca me sentirei segurdo",
afirmou. "As coisas têm sido muito difíceis para mim, mas falar a verdade
sobre o poder sempre traz riscos. Está a ser difícil, mas eu ficou feliz em ver
o público global falar contra esse tipo de violações sistemáticas de
privacidade".
Sobre o facto de
ter supostamente recebido uma oferta de asilo do governo russo, ele disse que o
seu único comentário é "que está feliz em ver governos a recusar serem
intimidados" pelos Estados Unidos.
No texto, a
jornalista do South China Morning Post Lana Lam escreveu que a confisão de
Snowden transformou-se num "frenesim midiátido na ilha, com jornalistas do
mundo inteiro a tentar encontra-lo". O escândalo também causou um intenso
debate na cidade se o americano deveria permanecer em Hong Kong e se Pequim
deve ou não interferir em caso de um pedido de extradição.
Situação de Snowden
indefinida
Hong Kong tem um
tratado de extradição com os Estados Unidos, mas embora tenha certa autonomia,
a ilha em última instância responde a Pequim, e a China pode exercer o seu
direito veto sobre qualquer decisão judicial local. Até agora, não há sinais de
que as autoridades de Hong Kong tenham abordado ou interrogado Snowden, que foi
visto pela última vez a deixar um hotel de luxo no bairro de Kowloon, na
segunda-feira.
As autoridades de
Hong Kong e da China não se manifestaram. O Departamento de Justiça dos EUA
afirma estar na etapa inicial de um inquérito criminal sobre os vazamentos. O
destino de Snowden está condicionado à natureza específica das eventuais
acusações que lhe forem atribuídas. Para que ele seja preso, será necessário
que o acto imputado seja considerado crime também em Hong Kong.
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