Deutsche Welle
Turcos, que lutam
por entrada na União Europeia, recebem série de alertas. Alemanha diz que
governo Erdogan está enviando "sinal errado" ao continente e chefe da
diplomacia do bloco avisa sobre "uso excessivo da força".
A repressão da
polícia turca aos protestos contra o governo do país faz crescer as críticas no
exterior ao primeiro-ministro Recep Tayyip Erdogan. A União Europeia alertou
nesta quarta-feira (12/06) para o "uso excessivo da força" contra os
manifestantes, que protestam há cerca de duas semanas em várias cidades da
Turquia, e pediu uma investigação rápida e punição dos responsáveis.
Em discurso no
Parlamento Europeu, a chefe da diplomacia da UE, Catherine Ashton, afirmou que
as práticas policiais vistas em Istambul são "motivo de grande
preocupação" para a União Europeia. Milhares de pessoas voltaram a se
reunir ao redor da praça Taksim, um dia depois que policiais invadiram o local
e expulsaram milhares de ativistas.
"Temos visto
muitos exemplos do uso excessivo da força pela polícia", disse a
comissária europeia, sublinhando o caráter "maioritariamente
pacífico" das manifestações.
Ashton pediu que
eventuais abusos sejam investigados e os responsáveis, punidos. A diplomata
britânica acusou, de forma concreta, a "grande ofensiva" na noite de
terça-feira para desalojar milhares de manifestantes da praça Taksim e o
"uso intensivo de canhões de água e gás lacrimogêneo".
Adesão à UE em jogo
Ashton disse estar
surpreendida pela escassa cobertura dos protestos da praça Taksim pela mídia
turca e afirmou que a liberdade de imprensa é "um motivo de preocupação na
Turquia". A representante da EU sublinhou, entretanto, que a UE não deve
virar as costas ao país neste momento, e sim reforçar o diálogo com ele.
O ministro do
Exterior alemão, Guido Westerwelle, enviou um alerta a Ancara, referindo-se, de
forma indireta, às planejadas negociações para uma possível adesão da Turquia à
UE.
"O governo
turco está enviando o sinal errado, com sua atual reação aos protestos, tanto
em direção ao próprio país como à Europa", afirmou.
A chanceler
italiana, Emma Bonino, foi mais explícita, advertindo que a Turquia está
passando por "seu primeiro teste sério" em relação a uma possível
adesão ao bloco. O ministro do Exterior francês, Laurent Fabius, exortou o
governo turco a mostrar contenção e disposição ao diálogo.
O secretário-geral
da ONU, Ban Ki-moon, apelou para que todas as partes tenham tranquilidade
tentem um diálogo pacífico. "Protestos devem ser pacíficos e o direito de
reunião e liberdade de expressão deve ser respeitado, porque estes são os
princípios fundamentais de um Estado democrático", disse seu porta-voz em
Nova York.
Novos protestos,
sem confrontos
Na tarde de
quarta-feira, milhares de pessoas voltaram a se reunir próximas à praça Taksim.
Caminhões com canhões de água eram vistos estacionados nas ruas de acesso ao
local, segundo testemunhos, e policiais voltaram a tomar posição nos arredores,
mas não houve confrontos. No vizinho parque Gezi, convertido num símbolo do
movimento de protesto, os manifestantes continuam acampados.
Várias centenas de
advogados marcharam na praça para protestar contra a detenção temporária, na
véspera, de mais de 70 colegas que protestaram contra a violência da
terça-feira. Milhares de advogados também tomaram as ruas da capital, Ancara.
No dia seguinte aos
confrontos na praça Taksim, Erdogan reuniu artistas, estudantes, cientistas e
personalidades públicas escolhidas para o que chamou de uma "conversa
informal" sobre o movimento de protesto, noticiou a mídia turca.
Entretanto, faltaram ao encontro alguns dos principais organizadores das
manifestações, como os membros da Plataforma Taksim, que garantem não terem
sido convidados.
O governador de
Istambul, Huseyin Avni Mutlu, acusou os manifestantes de atacarem a polícia.
Ele assegurou que as forças de segurança vão continuar no local enquanto for
necessário. O político pediu aos cidadãos de Istambul que mantenham distância
da praça Taksim até a ordem ser retomada.
Enquanto isso, as
autoridades turcas estão punindo veículos críticos ao governo. A emissora turca
Halk TV, que tem dado cobertura ampla aos protestos, diferentemente de outros
veículos, foi condenada a pagar multa, junto com três outros canais. A acusação
é que as estações estariam violando certos princípios de transmissão, ameaçando
o desenvolvimento físico, mental e moral dos jovens.
Edição: Rafael
Plaisant - MD/afp/lusa/dpa
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