Marcolino Moco – À Mesa do Café
Todos os que
estamos em condições de minimamente discernir sobre as coisas essenciais,
sabemos que vivemos uma situação grave no país.
Alguns dos que
combateram contra o colonialismo, com a sua Pide, com a sua repressão que os
obrigou, a alguns, como o actual Presidente da República, a sair de Angola para
o exterior, são dignitários deste Estado, que reprime da mesma ou da pior
maneira angolanos, mesmo perante um evento internacional. Como acreditar que
depois do Dr. Filomeno Lopes, figura respeitada no país e não só, hoje chega a
vez de jornalistas conhecidos, como o Rafael Marques, o Alexandre Solombe e o
Coque Mukuta que são “pisados e torturados” por polícias orientados por aqueles
que se julgam legitimados para fazer isso?
É confrangedor.
Todos estamos impotentes, fingindo que tudo está normal. Hoje ouvi um padre a
pregar que não critiquemos os “nossos dirigentes”. “Rezemos para que Deus os
proteja e os encaminhe para o bem”. E perante tudo isso, o assunto mais
importante para a mídia e os comentadores de serviço são os depósitos na conta
Mfuca Muzemba, militante de um partido político. O país vai enterrando de vez o
conceito dignidade humana e de que a lei vale para todos. Os juízes e juízas
libertam sob caução jovens que não cometeram crime nenhum. Ajudemos pelo menos,
os que podemos, a pagar. Que país é este? Que justiça amordaçada?!
Estes jovens são os
únicos que estão a cumprir, quase isolados, o seu dever de cidadãos, perante a
indiferânça de quem podia fazer alguma coisa, mesmo com um simples gesto de
desaprovação. Estamos vendidos ao preço do petróleo. Todos nós estamos
envergonhados. Eu pelo menos estou envergonhado. Não estava preparado para ver
isso no século XXI, depois de proclamada a Paz, no meu país.
Luanda, 24 de
Setembro de 2013
Nota PG: Marcolino
Moco foi primeiro-ministro de Angola de dezembro de 1992 a junho de 1996. Moco
foi demitido de seu papel pelo Presidente José Eduardo dos Santos, apesar de
pertencer ao MPLA. O seu "carisma de tendências demasiado democráticas desagradou
ao PR e ao partido que ocupa os poderes e Angola".
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